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Bosch considera implementação da norma Euro 7 “precipitada” e pede prolongamento do prazo para 2030

Até ao final de 2021 espera-se que a Comissão Europeia adote a norma Euro 7, cujas regras produza efeitos já a partir de 2025 impedindo a venda de motores a combustível fóssil, com implicações diretas na indústria automóvel. Em entrevista ao JE, Carlos Ribas, representante da Bosch em Portugal, defende uma transição mais gradual e “economicamente viável” para as novas regras.
10 Maio 2021, 18h10

No seio da União Europeia (UE) está a ser preparada a nova norma Euro 7, cujo grau de exigência sobre as emissões de gases poluentes pode ditar o fim dos motores de combustão. Numa entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Carlos Ribas, o representante da Bosch em Portugal, defendeu que a adoção das novas regras pela Comissão Europeia ainda este ano, com efeitos a partir de 2025, é “um pouco precipitada”. Por isso, Carlos Ribas apelou a que o Euro 7 só produza efeitos a partir de 2030.

Atualmente, os efeitos dos componentes e dos motores de combustão interna têm de respeitar a norma Euro 6, estando a Bruxelas a preparar-se para implementar o diploma Euro 7. A diferença entre o Euro 6 e o Euro 7 consiste na determinação de que os construtores alterem estruturalmente o que hoje se entende pelos motores convencionais, alimentados a gasolina ou diesel (combustíveis fósseis). A entrada em vigor das novas regras terá consequências no desenvolvimento de soluções de mobilidade de empresas como a Bosch, cuja divisão automóvel em Portugal se localiza em Braga (Bosch Car Multimedia).

Questionado pela posição da multinacional alemã sobre as regras que estão a ser aprofundadas pela UE, Carlos Ribas afirmou que “por princípio” o grupo concorda com o que está a ser preparado, visto que se trata da “proteção do meio ambiente, do planeta e das gerações futuras”.

“Estamos totalmente de acordo que se caminhe para a neutralidade carbónica”, disse. Mas considerou que o Euro 7, “neste momento, é uma decisão um pouco precipitada porque, conforme a legislação está a ser definida, cria algumas dificuldades porque prevê que a partir de 2025 não seja possível vender veículos com motores de combustão interna [combustíveis fósseis]”.

Segundo o representante da Bosch em Portugal, que também é o administrador da Bosch Car Multimedia, tal norma obrigará a que a indústria automóvel se transforme de forma “muito significativa nos próximos três anos”, para ser possível vender apenas veículos movidos através de energias alternativas não poluentes, a partir de 2025. “É impossível converter todas as fábricas que existem no mundo de combustíveis internos em combustíveis alternativos”, comentou.

Carlos Ribas insistiu que a transição tecnológica tem de existir, mas a forma como será feita “tem que ser diferente”. “Nós entendemos que [a transição] está a ser demasiado rápida”. Por isso, o gestor sublinhou que a Bosch não está de acordo com a forma como a UE pretende aplicar a norma Euro 7.

Ou seja, a Bosch concorda com a necessidade de legislar para “acabar com a poluição dos motores automóveis, movidos a combustíveis fósseis”. Mas quer que essa legislação não surta efeitos já em 2025. Isto para que ocorra uma transição mais gradual entre os diferentes motores (combustão interna ou movidos a energias alternativas), procurando que as mudanças necessárias ocorram “de forma saudável”.

“A indústria automóvel representa muitos trabalhadores e uma transformação demasiado acelerada pode pôr em causa todo um ecossistema ligado à parte automóvel, que não vai proteger o ambiente tanto nós queríamos. Mas poderá ter danos na parte económica que mais tarde serão difíceis de corrigir”, salientou.

O gestor máximo da Bosch em Portugal defendeu, por isso, que os prazos do Euro 7 deveriam ser outros para impulsionar uma transição “mais moderada e economicamente viável”.

Carlos Ribas admite, em alternativa, que “a partir de 2025, de certa forma, a legislação poderá ser um bocadinho mais apertada”. “Mas que nos dê até 2030 para que a transformação e a transição tecnológica seja total. Nós pedimos mais cinco anos do que o previsto pelo Euro 7”, disse ao Jornal Económico.

“Estamos a tentar junto da Comissão Europeia – não apenas a Bosch, mas outras entidades também – que este período de transição seja alargado para que dê tempo à indústria automóvel e aos fornecedores da indústria automóvel para se prepararem para a transição tecnológica, que poderá ser através de eletrobaterias, hidrogénios, e-fuels, e outros combustíveis que estão a ser desenvolvidos”, adiantou.

Considerando que se espera que o Euro 7 seja adotado pela Comissão Europeia até ao final de 2021, mas que a norma entre em vigor só em 2030, Carlos Ribas afirmou que “oito anos e meio deve ser tempo suficiente para que a transformação tecnológica ocorra”, permitindo a “requalificação dos quadros”, que hoje trabalham na indústria automóvel, para outra realidade.

Que alternativas estão a ser desenvolvidas em alternativa aos motores de combustão interna? O representante da Bosch referiu que estão a ser desenvolvidas soluções de eletromobilidade, continuando a desenvolver-se a eletrificação dos motores. Além disso, o grupo alemão tem planos para apostar no hidrogénio verde. A concretização destes planos poderão ser vir a ser desenvolvidos e aplicados também em Portugal, segundo Carlos Ribas. Por exemplo, a Bosch planeia investir mil milhões de euros em tecnologia de células de combustível (tecnologia diretamente relacionada com o hidrogénio verde).

Mas além de novas formas de combustíveis, o gestor acredita que o futuro dos motores podem continuar a passar pelos combustíveis fósseis. “Hoje há uma forma muito negativa de olhar para os combustíveis fósseis, mas se houver uma forma de os tornar 100% limpos, o combustível fóssil poderá continuar como qualquer outro”, realçou.

“Acreditamos que daqui por alguns anos essa contaminação não vai existir. Acreditamos que a tecnologia vai permitir chegar a um ponto em que os motores de combustíveis fósseis também vão ser não-poluentes”, rematou.

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