Investir é como encetar uma conversa difícil. O melhor é não adiar para outro dia. Qualquer estratégia de investimento que passe por bater os mercados, evitando-os, tem poucas probabilidades de sucesso”, William Hobbs, responsável de estratégia do Barclays.

Os investidores encontram-se novamente perante o escrutínio de tomar decisões em face do que pode ser o impacto das tensões geopolíticas nos mercados financeiros.  Agora que nos encontramos numa fase crítica do segundo trimestre do ano, as apreensões com as relações internacionais e o formato geopolítico global deverão ser as principais preocupações nos mercados. Nos últimos anos, e até ao momento, têm prevalecido as melhores condições económicas – ainda que com maior ou menor impacto – e este braço de ferro tem sido de impacto quase nulo para quem se tem mantido firme no curso. Mas a volatilidade associada não deverá desaparecer de forma tão rápida, e as expetativas, sobretudo as dúvidas para 2019, vão começando a ter o seu peso nas decisões de investimento.

Existem evidências que dão conta que a consolidação da retoma não será um mar de rosas, e alguns riscos encerram em si alguns cenários menos favoráveis que não são negligenciáveis. Neste momento, as principais fontes de volatilidade e incerteza estão associados ao retorno de uma  essência protecionista e à potencial escalada de uma guerra comercial entre EUA e China, que poderia minar significativamente a confiança internacional e destruir a cadeia de criação de valor mundial.

Por outro lado, na Europa os eurocéticos registaram uma vitória em Itália no principio de março, mitigando os efeitos positivos da manutenção da agenda das reformas estruturais, cujo processo o eixo franco-alemão pretende apoiar e incentivar na EU. Nesta altura, aliás, a probabilidade de formação de um governo estável no país transalpino parece reduzida, não estando afastado um cenário de eleições antecipadas ainda este ano.

Estes são fatores que devem manter os investidores alerta, e sobretudo perante um enquadramento com algumas dúvidas associadas à confiança para 2019 (patentes, por exemplo, nos inquéritos do IFO) e que torna inevitável a sensação de que um evento desta natureza possa vir a espoletar uma nova crise internacional.

No entanto, é preciso dizê-lo, as primeiras impressões na economia e nos mercados financeiros podem por vezes dar uma visão distorcida da realidade. Sobretudo porque, mais tarde ou mais cedo, os fundamentais tendem a superar o chamado ruído das expetativas e, neste campo, existem razões para manter uma posição construtiva relativamente aos ativos de risco.

A verdade é que se sairmos deste enquadramento geopolítico e nos debruçarmos sobre os dados relevantes que nos são fornecidos pela economia real e pelos números das empresas, provavelmente os momentos de correção são oportunidade que não devem ser ignoradas.

Atualmente, os riscos de uma recessão a curto prazo são assumidamente baixos, e os factos fundamentais continuam a favorecer a apetência pelo risco, ainda que em condições menos atrativas que no passado. Este trimestre pode deixar a antecipar um caminho atribulado, mas não seria a primeira vez – longe disso – que sobre os riscos geopolíticos acabam por prevalecer os racionais económicos e a força dos bancos centrais.

Regresso à citação no início deste artigo: estar fora do mercado não é a estratégia adequada. O equilíbrio racional na tomada na decisão, combinada com uma diversificação na carteira de investimentos, continuará a ser a melhor forma de obter valor.