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Brasileiros procuram um choque de civilidade em Portugal

Para Felipe Cavalcante, presidente da ADIT, a procura por imobiliário português por parte de brasileiros, deve-se à qualidade e segurança do nosso país, porque o povo brasileiro está cansado da instabilidade.
15 Setembro 2018, 20h30

Portugal é um excelente produto, aqui não há ‘moda’, tem economia dinâmica, estruturas, segurança, um clima fabuloso, comida, o povo, a parte geográfica, importante para os brasileiros, junto com a língua, é um mix de situações e de características que torna o país uma ‘joia’. É importante que os portugueses lapidem cada vez mais essa ‘joia’ e pensem no longo prazo e definam em sociedade o que é melhor para o país e como deve ser o futuro. Quem o afirma é Felipe Cavalcante, presidente da ADIT – Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil, que está neste momento em Portugal, com uma comitiva de investidores brasileiros numa missão técnica.

A relação entre Portugal e Brasil no setor imobiliário sempre foi muito estreita e o responsável em entrevista ao Diário Imobiliário revela que está muito feliz com a retoma do dinamismo imobiliário e turístico português. “Temos uma relação há muito tempo com Portugal e vi tudo o que o país sofreu,  agora merece tudo o que está a acontecer. Também é importante ter consciência de que isso vai acabar. Tudo na vida são ciclos e a própria crise do Brasil é prova disso, tal como terminou aquele período em que Portugal estava deprimido em termos de negócios e dinamismo económico”, salienta. Cavalcante adianta que é importante que as pessoas aproveitem este período ao máximo, “mas não se alavanquem, não se exponham demais a riscos e débitos, porque quando o ciclo mudar não sei se a curto ou a longo prazo, certamente a conta chegará”.

Quanto ao facto dos brasileiros serem das nacionalidades que mais têm investidos em imobiliário em Portugal, Felipe explica que depois do ciclo longo de governos de esquerda, os brasileiros ficaram desiludidos com o país. A grave crise reforçou isso e levou as pessoas a procurar outras alternativas, cansadas da corrupção, da insegurança, apesar de se verificar apenas  em lugares pontuais. “O que as pessoas estão procurando em Portugal é um choque de civilidade, de poder andar sem medo na rua, saber que as coisas funcionam e que não há ‘jeitinho’. Por incrível que pareça as pessoas que procuram isso no Brasil são a maioria e a situação política no país ainda não reflete essa realidade. “As pessoas procuram essa experiência, tudo isso impulsionado pela crise económica brasileira, em contrapartida, Portugal está num momento propício e positivo”.

 

A pior crise que o mercado brasileiro já passou

O presidente da ADIT lembra que o mercado imobiliário brasileiro sofreu muito nos últimos anos. Explica que “talvez seja a pior crise que o mercado imobiliário brasileiro já passou. Por outro lado, o Brasil é um continente, aqueles locais e nichos de mercado onde houve uma recessão maior na oferta acabaram por sofrer mais, porém, pelo grande dinamismo da economia brasileira pela sua dimensão e até dispersão geográfica, várias oportunidades continuaram a acontecer no Brasil”, refere.

Cavalcante assegura que neste momento o mercado imobiliário brasileiro encontra-se numa retoma lenta. Desde o ano passado, que as pesquisas efetuadas mostram a recuperação do otimismo e para o ano que vem está prevista uma recuperação mais forte. “No final, tudo depende da questão política e vamos torcer que o próximo presidente tenha uma agenda liberal para o mercado e de reformas”, garante.

Naturalmente que em relação ao imobiliário a estabilidade política é o grande factor que o afeta assim como a economia no geral. Feito o ajuste entre a lei da procura e da oferta dos últimos três/quatro anos, Felipe Cavalcante adianta que já se consegue visualizar uma recuperação dos lançamentos das vendas dos empreendimentos. “Infelizmente tivemos problemas pontuais com a greve dos motoristas de pesados em maio deste ano, o que fez com que se verificasse uma retração inédita do PIB do Brasil, originando que a retoma que estava a acontecer fizesse uma pausa e agora está retomando novamente”. Admite que “tudo vai depender de quem vai ser o presidente da república”.

Quanto ao turismo, o presidente da ADIT reconhece que a instabilidade política no Brasil não o afetou muito. “O turismo de negócio no auge da crise até ao ano passado sofreu bastante. No setor de lazer e resorts já não teve tanto impacto, as pessoas precisam de viajar e com a forte desvalorização do real frente ao dólar fez com que os turistas brasileiros se retraíssem para o exterior e isso influenciou positivamente o turismo doméstico. Para os próximos anos não há nenhuma perspetiva negativa em relação ao turismo”.

 

São poucos os portugueses que estão a investir no Brasil

Sobre o investimento português no Brasil, o responsável admite que atualmente são poucos os portugueses que estão a investir. Acabou a euforia de há 10/15 anos atrás e muitos tiverem experiências negativas, seja pelas questões de licenças, pela cultura que é diferente e isso acabou por gerar falta de interesse de investimento no Brasil.

“Mas temos uma relação histórica e o Brasil pelo seu dinamismo e dimensão, continuará sempre a atrair muitos investimentos portugueses, porque eles continuam a existir e espero que esse próximo ciclo no Brasil, onde já se notam melhorias de retoma, volte a atrair portugueses. Já se sente o crescimento no país, com aumento do emprego, os juros estão baixos, a inflação está baixa, este é o momento para quem quiser investir e não daqui a três anos quando já estiverem todos os ativos em alta outra vez”, conclui.

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