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Brexit: May prepara-se para mais uma semana no inferno

Os Conservadores estão muito ativos para mandarem May para casa. Podem até mudar as regras do Comité 1922 – uma vez que um cenário de eleições antecipadas lhes é extremamente desfavorável.
15 Abril 2019, 07h44

Entre os muitos apelos que a primeira-ministra Theresa May tem recebido para que se afaste do cargo que ainda ocupa, um em particular poderá ser-lhe especialmente duro: o ex-líder conservador Duncan Smith juntou-se ao grupo dos que pediram que May renuncie ao cargo no mês que vem, quando muito até à realização das eleições europeias (a 23 e 26 de maio).

“Eu sei que a primeira-ministra já disse que está de saída, quando o acordo fosse ratificado; acho que o que ela tem a fazer é apontar agora para a partida antes das eleições. Então podemos ter a eleição de outra liderança, que é assim que tem que ser”, disse numa entrevista à Sky News.

Smith é uma das vozes mais respeitadas dos Conservadores e a sua oposição a May poderá fazer engrossar de forma significativa as fileiras dos que, no interior do partido, consideram que o ‘prazo de validade’ da primeira-ministra já esgotou.

Ganham assim força os que consideram que a primeira-ministra deve ser afastada, mesmo que tenham de ser mudadas algumas regras. Entre elas está a que impede que os Conservadores tentem uma nova moção de desconfiança junto do Comité 1922 por ainda não ter passado tempo suficiente desde a última vez que este expediente foi usado. Recorde-se que May sobreviveu a uma votação em dezembro passado e as regras indicam que a liderança do partido não pode ser desafiada novamente antes de passar um ano.

Ora, o partido, ou alguns membros do partido, consideram que May não tem condições para se manter no cargo até ao próximo mês de dezembro – e o facto de Duncan Smith se ter de alguma forma colocado ao lado dos que querem mudar as regras é sintoma de que isso deverá mesmo acontecer.

Escrevendo no Sunday Telegraph , lorde Spicer e lorde Hamilton – dois antigo presidentes do Comité 1922 (que reúne todos os deputados Conservadores que não tenham cargos no governo), disseram que a regra dos 12 meses sobre os votos de desconfiança poderia ser mudada se os parlamentares concordassem em fazê-lo. “Os deputados conservadores são responsáveis ​​pelas suas regras. Se eles quiserem mudar essas regras, não há nada que os impeça”, escreveram.

Este instrumento afigura-se de especial importância nesta altura. É que a moção de desconfiança, se votada pela maioria dos deputados conservadores, permitiria ao partido substituir a primeira-ministra sem ter de marcar eleições antecipadas. A moção atribui o cargo de primeiro-ministro a quem quiser disputar o lugar de May, e o Comité organizará tantas voltas eleitorais quantas forem precisas até que, e se houver mais que um candidato, o partido vote no seu novo líder.

Tudo isto assume relevo porque todas as sondagens mais recentes preveem resultados terríveis para os Conservadores, num quadro de eleições antecipadas, Todos os estudos mostram que, se houver eleições a curto prazo, o Partido Trabalhista deverá sair vencedor.

A mais recente sondagem, da responsabilidade da empresa Opinium, sugere que os Conservadores caíram seis pontos percentuais nas últimas duas semanas, dando aos Trabalhistas uma vantagem de sete pontos. É o pior resultado dos Conservadores desde que May substituiu James Cameron à frente do executivo.

A sondagem mostra que o partido está a perder terreno tanto junto dos que votaram ‘sim’ como os que votaram ‘não’ no referendo sobre o Brexit. O estudo indica que o apoio dos eleitores conservadores pró-União a Theresa May caiu de 23% para 17%. Mais de um quinto dos eleitores dizem que agora votariam no Ukip, o partido de extrema-direita que foi claramente derrotado nas últimas eleições, em maio de 2014.

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