Foi um parto tão complicado e demorado quanto os nove meses que decorreram desde que as conversações sobre o Brexit começaram efetivamente a ter lugar e que pareceram bem mais longos, não apenas aos envolvidos nas negociações mas a todos nós, cidadãos da União Europeia (UE) e do Reino Unido.

Na verdade, para o sprint final das negociações foi necessário, infelizmente, que a UE, através da França, tivesse que recorrer a um bloqueio – sobre o pretexto da nova variante do coronavírus – que demonstrou à evidência de que lado estava o verdadeiro poder e que consequências poderiam advir de um eventual não acordo.

Como escreveu Martin Wolff no ‘Financial Times’, a realidade dos factos, ou o peso das partes intervenientes, se quisermos, é assimétrica. “Será esse o caso nas muitas negociações com a UE que ainda estão por vir. Quando se lida com potências estrangeiras. e especialmente as mais poderosas, ‘retomar o controlo’ (o “take back control” que foi o slogan dos brexiteers desde o início), é um tanto fictício”.

Também nas palavras de Wolff: “Esse slogan também é uma ilusão em alguns outros aspectos. Em defesa, educação, habitação, saúde, desenvolvimento regional, investimento público e bem-estar, o Reino Unido já tinha o controle em grande parte. Mas os britânicos estão prestes a perder oportunidades valiosas de fazer negócios ou viver, estudar e trabalhar na UE. Eles não irão ‘retomar o controle’ sobre suas vidas, mas sim perdê-lo.”

De acordo com as contas já feitas, está em causa um acordo de comércio bilateral com um valor superior a 718 mil milhões de euros, de acordo com a Bloomberg. Para termos uma pequena ideia e colocarmos a quantia em perspetiva, este montante equivale a 16 vezes o que Portugal receberá da tão propalada ‘bazuca’ do auxílio ou financiamento de emergência europeu.

Montantes e verbas de mil milhões à parte, importante é agora que se verifique no acordo com 1.200 páginas que a situação dos nossos cidadãos que vivem e trabalham no Reino Unido se mantêm na sua tranquilidade e segurança. Para já, pelo menos durante o período transitório, o braço de ferro ganho pela UE parece ter resultado. Esperemos que assim seja.