Com as tecnologias associadas à Inteligência Artificial (IA) a gerarem enorme impacto na economia e nas empresas, um pouco por todo o mundo, são cada vez mais as diferentes análises a este respeito, ao mesmo tempo que o debate ganha peso.
É neste contexto que surge o Building The Future, um evento que promove a transformação digital e, esta quarta-feira, junta vários executivos do setor para abordar os modos como a IA pode amplificar o talento humano, transformar processos e impulsionar descobertas. A sétima edição vai realizar-se esta quarta-feira no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.
Em declarações ao Jornal Económico (JE), Paulo Dias, Chief Transformation Officer na imatch, salienta a importância de olhar para esta matéria com iniciativa e que sejam colocadas sobre a mesa diferentes perspetivas, sobretudo por especialistas do setor. O responsável reitera que “o potencial é enorme”.
O Building The Future chega à sua sétima edição. Quais são as principais conquistas do evento ao longo destes anos?
Paulo Dias: Como resultado das seis edições anteriores o Building The Future teve mais de 86 mil participantes, em formato presencial e online, e juntou mais de 1.200 oradores em mais de 630 sessões.
Tendo como patrocinador principal a Microsoft e como organizador a imatch, o Building The Future afirmou-se como o principal evento português de transformação digital e representa um movimento que reúne as principais empresas portuguesas e multinacionais implementadoras de tecnologia, bem como todos os seus clientes e potenciais clientes. Este evento reflete um espaço de inspiração e apresentação de caminhos futuros, dos desafios inerentes, mas sobretudo de partilha das implementações mais disruptivas e inovadoras dentro do universo da transformação digital.
Com a iniciativa e colaboração incansável do Marco António Silva, National Innovation Officer & Senior Cloud Solution Architect da Microsoft Portugal, e a participação dos seus convidados, o Building The Future AI Podcast, o mais antigo e abrangente Podcast sobre IA está prestes a emitir o seu 90º episódio.
Que evolução teve o evento desde a primeira edição, no contexto da rápida evolução das tecnologias digitais?
A transformação digital foi o tema da primeira edição do Building The Future, em 2019. Nessa altura muitas das grandes empresas abordavam, frequentemente e de forma vanguardista, temas como a organização e gestão de dados, o machine learning, a automação de processos ou a adoção de soluções cloud, mas também a segurança e a privacidade dos dados (o RGPD tinha acabado de chegar). Também era reconhecida uma necessidade muito forte de mudança na cultura organizacional e nas competências digitais das equipas para poderem abraçar esta transformação.
Empresas que estavam na cauda da adoção da tecnologia, tiveram, de repente e em pouco meses, de se converter em empresas com elevadas competências digitais. O incrível foi que, não só as empresas se adaptaram, como muitas vezes converteram toda a sua cadeia de valor adaptada a um modelo digital, desde a venda, o trabalho operacional bem como todas as funções de suporte.
O próprio Building the Future acompanhou essa transformação passando de um evento quase só presencial em janeiro de 2019, para um evento totalmente digital em 2021. Neste contexto, o evento foi o reflexo da transformação que se estendeu a toda a sociedade, a todas as organizações e a todos os setores. A segunda revolução que estamos a atravessar, manifestou-se pela primeira vez na edição de janeiro de 2023. Andrés Ortolá, CEO da Microsoft Portugal, teve em palco um diálogo com um novo bot conversacional suportado por uma nova tecnologia de IA baseado num LLM.
O que vai ser abordado e quais são as expectativas para esta edição?
O Building the Future 2025 vai centrar-se no poder transformador da IA para as pessoas e para as organizações. Não é um evento sobre tecnologia. É um evento sobre a utilização desta tecnologia para melhoria da produtividade no trabalho, nas relações com os clientes, na produção de insights de negócio e tomada de decisão, assim como na transformação dos processos internos. Não esquecendo também temas incontornáveis como a cibersegurança, os desafios legais ou a construção e utilização responsável da própria IA. Para além da acessibilidade presencial, será transmitido em streaming, de forma gratuita, bastando um registo a partir do nosso site.
Este ano temos a particularidade de termos no dia seguinte um evento da Microsoft, o AI Tour, dedicado a empresas, que está a ser apresentado em 60 países e que se foca na aplicação das tecnologias Microsoft.
A sétima edição do Building The Future tem uma forte componente de inspiração, com key note speakers de renome mundial, mas também, muitas apresentações de casos que mostram como as empresas hoje estão a explorar esta tecnologia com exemplos práticos de Portugal e do mundo. Teremos também um palco dedicado à Inovação e Empreendedorismo das startups e scaleups em que, com a participação de protagonistas do próprio ecossistema, e empresas que estão envolvidas e implicadas nestas temáticas, vamos explorar a tensão que existe entre crescimento exponencial e sustentabilidade nas diferentes dimensões quer económica, social e ambiental.
No que concerne aos oradores, tenho que destacar a presença de Garry Kasparov, o mestre de xadrez com o melhor palmarés de sempre e que tem como marco do seu percurso as partidas de xadrez que realizou com o computador Depp Blue da IBM, que, aliás, o derrotou em 1997. Desde esse momento impactante e simbólico, tornou-se um defensor da utilização da IA como potenciadora das capacidades humanas.
Também Stephen Attenborough, primeiro colaborador da Virgin Galactic e um dos grandes responsáveis por criar um universo em torno do turismo espacial, estará presente para nos mostrar que são a imaginação, a intenção e a capacidade humana que fazem a diferença na concretização. Por fim, e também digno de menção, contamos com Joacim Damgard, presidente da Microsoft Western Europe, que irá partilhar a sua perspetiva abrangente e visionária sobre a IA.
Qual tem sido o impacto do Building The Future na aceleração da transformação digital em Portugal? Que exemplo prático é mais visível?
O Building the Future é um catalisador, mas também um espelho dessa aceleração. Em todas as edições constatamos os progressos na adoção da tecnologia. Casos que nas primeiras edições surgiam como hipóteses teóricas são agora realidade. Temos vários exemplos disso. O primeiro e mais transversal: nas primeiras edições os chatbots foram apontados conceptualmente como hipóteses de interação com clientes.
Nas edições seguintes tivemos a demonstração de diferentes casos reais usando já tecnologias de deep learning e, mais recentemente, situações práticas que recorrem à utilização de IA generativa. Outro exemplo muito interessante é o começou em 2020 numa apresentação de Marco António Silva, National Innovation Officer & Senior Cloud Solution Architect da Microsoft, e Pedro Gouveia, médico, investigador e futurista da Fundação Champalimaud, sobre a utilização de realidade aumentada (RA) no contexto do tratamento cirúrgico do cancro da mama, uma solução experimental que originou uma área de desenvolvimento especializado na Fundação Champalimaud e até um spinoff para uma startup – a Heka Vision.
Quais são os principais desafios que a organização enfrenta ao preparar o evento, considerando a constante inovação no campo digital?
Procuramos usar a tecnologia para inovarmos nos nossos processos de organização e gestão interna, baseando a nossa organização na utilização de diferentes ferramentas de Office 365, incluindo a ferramenta de IA Copilot, mas também tentamos trazer aquilo que a tecnologia permite para a experiência do evento quer ao nível do audiovisual quer na interface com os participantes. No ano passado usamos um virtual hybrid host utilizando uma tecnologia que recriava o movimento de um corpo num avatar digital. Este ano vamos apresentar uma evolução deste princípio recorrendo a tecnologias de reconhecimento de imagem e à sua transposição para um host digital.
A IA está a transformar diversos setores, mas como equilibramos o respetivo potencial com a necessidade de preservar a criatividade e o pensamento crítico humano?
A IA é um potenciador de capacidades. Tirará mais partido da tecnologia quem for capaz de combinar as sua criatividade e sentido crítico com a da ferramenta.
Penso que a questão não está relacionada com a preservação da criatividade. A questão central é como a utilizamos para nos ajudar a potenciar as nossas capacidades e vontades. É essencial para isso redefinirmos os contornos do que é possível fazermos, pensando que esta ferramenta nos permite criar em domínios que antes nos estavam vedados pelo nosso conhecimento e pelas nossas capacidades cognitivas, motoras e sensoriais. Claro que levanta questões sensíveis como a dos direitos de autor e os direitos de propriedade que estão a ser amplamente debatidos e acautelados.
Como ferramenta de aprendizagem, o potencial também é enorme. Mas claro, não substitui o papel de um mentor, professor ou facilitador num processo educativo. Continua nestes o papel de balizar a utilização da ferramenta para adquirir conhecimento, com o desenvolvimento do sentido crítico através da dissecação e discussão desse conhecimento adquirido.
Como podem as empresas preparar-se para uma maior integração da IA nas suas operações?
Vamos ter algumas sessões no Buiding the Future que vão abordar este ponto ou seja, as estratégias de adoção da tecnologia por parte das empresas. Das partilhas feitas nas edições anteriores do Building The Future e a partir da experiência da própria imatch, partilho três eixos essenciais.
O primeiro prende-se com a estrutura da informação, ou seja, a organização dos dados da empresa. Os dados são o oxigénio do mundo digital e se não estiverem organizados e bem estruturados a probabilidade de ter resultados insatisfatórios é muito grande. Isto vem na linha da famosa expressão “garbage in… garbage out”. Se o input for lixo, o output será, inevitavelmente, lixo. O segundo eixo consiste na preparação das pessoas, quer na dimensão técnica, quer na perspetiva da transformação.
O terceiro eixo, e este deriva das lições que aprendemos com a aplicação dos processos de inovação nos clientes, passa por estruturar uma visão ambiciosa, mas começar com passos pequenos e aprender com eles para de seguida poder dar passos maiores.
Quais são os principais perfis de empresas e profissionais que participam? Como podem as diferentes perspetivas contribuir para a construção do futuro digital?
O Building the Future conta com uma forte presença de decisores de negócio e quadros corporativos. Para além deste grupo, temos muitos participantes ligados às áreas da tecnologia, mas também indústrias criativas e ao empreendedorismo. Temos também sempre uma importante representação de quadros de organismos públicos. O futuro digital, que é cada vez mais também o presente, é construído pela interação de todos estes agentes.
É por isso que o Building The Future cumpre a sua missão de catalisador deste movimento, por proporcionar contactos e discussão entre todos estes intervenientes no processo de construção.
Como antecipa o futuro da transformação digital em Portugal até 2030? Que tendências ou tecnologias emergentes vão moldar esse futuro?
Todos os estudos indicam que o ritmo de transformação digital vai continuar e acelerar em Portugal e no mundo. No vértice desta aceleração está a IA. A própria tecnologia está a dar saltos de desenvolvimento muito relevante semana após semana.
Um estudo recente da IDC, com um inquérito realizado a quatro mil decisores de grandes empresas espalhadas pelo mundo, indica que em 2024 a adoção de soluções de IA generativa aumentou para 75%, contra 55% em 2023. A procura da produtividade continua a ser o grande motivo apontado e é também onde os decisores apontam um maior retorno de investimento. O mesmo estudo conclui que a utilização desta tecnologia tem um retorno de 3,7 dólares por cada dólar investido, podendo chegar aos 10,3 dólares nas empresas mais maduras na adoção desta tecnologia.
O outro aspeto que terá um foco muito relevante nos próximos anos será a adoção generalizada dos Agentes Autónomos baseados no desenvolvimento da IA (Agentic AI). É a utilização da tecnologia de IA para tratar um processo completo de forma autónoma. Neste momento a implementação desta tecnologia é ainda limitada, mas a expetativa é, segundo outro estudo da IDC, que em 2030 possa valer 3,3% do PIB mundial.
O que é ainda mais significativo é que a IA está a acelerar o desenvolvimento de outras tecnologias, na medida em que tem permito acelerar processos de Investigação e Desenvolvimento potenciando muito a capacidade humana em todas as áreas. Este facto poderá criar impactos consideráveis na saúde, na educação, na sustentabilidade, mas também na cibersegurança ou mesmo na conquista do espaço e no desenvolvimento de tecnologias disruptivas como, por exemplo, os computadores quânticos.
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