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Buscas em São Bento: “Em condições normais levaria à demissão do primeiro-ministro”, refere politólogo

José Palmeira considera que todo o cenário de suspeitas tem um impacto político muito grande e que António Costa deverá tirar consequências políticas, caso a gravidade dos factos se confirme. “É mais uma situação a manchar um Governo que já teve no passado muitas manchas”, afirma.
7 Novembro 2023, 11h40

Poderá ser a gota que faz transbordar o copo. As novas suspeitas a envolverem atuais e antigos membros do Governo, bem como pessoas próximas do primeiro-ministro António Costa, poderão vir a provocar a queda do Executivo. A opinião é defendida pelo politólogo José Palmeira, em declarações ao Jornal Económico.

“Se isto, de facto, tiver as proporções que se adivinham que podem ter, em condições normais e numa Europa civilizada, levaria à demissão do primeiro-ministro. Isto é, o próprio primeiro-ministro deveria tirar consequências políticas daquilo que se passou, caso se confirme a gravidade dos factos agora indiciados”, refere.

No entanto, o politólogo salienta que é preciso esperar para ver o que vai acontecer, dado que ainda não se sabe muito bem se vai haver algum tipo de acusação em concreto, relativamente aos detidos. Contudo, assume que esta é uma situação que fragiliza António Costa.

“Estamos a falar de pessoas muito próximas do primeiro-ministro e sempre que há pessoas de um círculo muito próximo, como é o caso de um chefe de gabinete, de membros atuais do Governo e do passado, que sejam responsabilizados criminalmente por atos praticados no exercício de funções, isto como é óbvio fragiliza o primeiro-ministro. São pessoas da sua estrita confiança”, sublinha.

De resto, José Palmeira, acrescenta que é necessário analisar a dimensão de toda a operação que está a decorrer esta terça-feira. “Não é uma pessoa, são várias que já foram detidas. Isto tem um impacto político muito grande e fragiliza o primeiro-ministro numa altura em que o país está a discutir no Parlamento o Orçamento do Estado na especialidade”, realça, destacando que tudo isto atinge ministros, entre os quais João Galamba, que já estava numa posição frágil.

“No passado, o próprio Presidente da República pediu a sua demissão. Se já estava fragilizado agora essa fragilização é maior. Ainda por cima tem dossiers tão importantes como a privatização da TAP e a construção do futuro aeroporto de Lisboa, não é um ministro qualquer”, diz enfatizando que a preponderância que o sector da energia tem no país e no qual recaem as suspeitas do Ministério Público.

“Este sector envolve investimentos muito significativos no caso de Sines, do hidrogénio verde, do lítio noutros pontos do país e são investimentos estratégicos. O primeiro-ministro negociou com a União Europeia, Espanha e França um corredor verde a partir de Barcelona e a ligar a Marselha. Estamos a falar de empreendimentos de grande envergadura e não pode haver de facto este tipo de suspeitas que envolvam personalidades próximas do primeiro-ministro e alguns com responsabilidades governativas”, explica.

Sobre o papel de Marcelo Rebelo de Sousa, o politólogo defende que o Presidente da República como “principal árbitro” tem de ver até onde vai todo este processo. “Eventualmente isto pode acabar com uma renovação ministerial e o caso daqui a uns meses poderá estar esquecido por parte da opinião pública. De qualquer forma, é mais uma situação a manchar um Governo que já teve no passado muitas manchas”, afirma, recordando que já não se falava nos casos dos membros do Governo a algum tempo.

“Agora já estavamos a discutir política, mas agora volta a estar em cima da mesa o facto de ministros que já estavam alguns deles fragilizados, como no caso de João Galamba, que agora praticamente fica numa posição quase impossível de manter, embora estando o Governo com uma maioria absoluta no parlamento”, salienta, acrescentando que toda esta polémica poderá trazer consequências ao PS nas eleições europeias de 2024.

“Não sei até que ponto, o Partido Socialista com eleições para o parlamento europeu em junho do próximo ano vai querer chegar a essas eleições neste estado em que agora se encontra”.

A PSP e o DCIAP estão a efetuar mais de 40 buscas esta manhã, entre elas a residência oficial do primeiro-ministro e os Ministérios do Ambiente e das Infraestruturas. Foram detidos Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, e Diogo Lacerda Machado, empresário e consultor próximo do primeiro-ministro. respetivamente.

Na base destas diligências estão suspeitas a envolver negócios de hidrogénio e lítio em Portugal. A investigação, que acontece desde 2019, analisou os contratos realizados para a exploração de lítio em Montalegre e do projeto de hidrogénio verde em Sines.

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