A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, concentra 20% da quota de exploração de madeira, que este ano subiu para 485.936 metros cúbicos (m3) em todo o país, segundo uma resolução do Conselho de Ministros.
A resolução 10/2025, de 23 de maio, define “quotas para a exploração de madeira para o ano de 2025, de modo a garantir a exploração sustentável dos recursos florestais”, que contrasta com o limite de 485.436 m3 do ano passado.
Só em Cabo Delgado, o documento aprova uma quota máxima, de várias espécies, de 96.083 m3, seguida da Zambézia, com 95.150 m3, e de Sofala, ambas no centro, com 80.575 m3.
Pela primeira vez, Moçambique vai autorizar este ano a exploração da espécie nantchasse, recentemente classificada como madeira preciosa, até 500 m3, apenas na província de Niassa. Ainda na categoria de madeira preciosa, está autorizada a exploração de até 23.250 m3 de pau-preto, de 10.594 m3 de sândalo e de 17.855 m3 de chacate preto, bem com 875 m3 de pau-rosa.
A desflorestação em Moçambique afetou 875.453 hectares em quatro anos, apesar de ter recuado durante 2022, atingindo sobretudo as províncias de Niassa e da Zambézia, segundo dados estatísticos noticiados anteriormente pela Lusa.
De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Estatística, reunindo dados de 2019 a 2022, nesse último ano a desmatação – de vários tipos de floresta – recuou 31% face ao ano anterior, para 209.464 hectares.
O pico da desflorestação foi registado em 2021, com 303.689 hectares, sendo 264.999 hectares de floresta semi decídua (tropical), 29.258 hectares de floresta semi sempre-verde e 99 hectares de mangal, entre outras.
Em 2019 a desflorestação em Moçambique afetou 199.910 hectares e em 2020 um total de 242.390 hectares.
Neste período de quatro anos contabilizado pelo INE, só as províncias de Niassa, no norte do país, e da Zambézia, no centro, somaram uma desmatação de 180.279 e 167.367 hectares, respetivamente.
Uma parte significativa desta desmatação tem vindo a registar-se na floresta do Miombo, que além de Moçambique cobre outros dez países da África austral, incluindo Angola.
Miombo é a palavra suaíli para ‘brachystegia’, um género de árvore, mas também para um grande número de espécies e para uma formação florestal que compõe o maior ecossistema florestal tropical em África, sendo fonte de água, alimento, abrigo, madeira, geração de eletricidade e turismo.
O então Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou em 24 de setembro passado, em Nova Iorque, a angariação de “mais de 500 milhões de dólares” (439 milhões de euros) no diálogo de alto nível sobre a Iniciativa do Miombo, realizado no dia anterior naquela cidade norte-americana.
“Conseguimos convencer o mundo que é preciso proteger o Miombo. Para tal é preciso recursos, mas colocamos, com humildade, que é preciso que a gestão seja com a máxima transparência, porque o Miombo não pertence só a Moçambique”, disse Filipe Nyusi, em declarações aos jornalistas.
O evento juntou dezenas de empresários norte-americanos doadores do projeto e governantes africanos, incluindo os chefes de Estado do Botsuana, Mokgweetsi Masisi, e do Malaui, Lazarus Chakwera.
“Ali ficou claro que acima de 500 milhões de dólares [o apoio financeiro dos doadores], mas não me parece que o número vá parar por aí. Por isso é que digo que é preciso criar um mecanismo de gestão, porque é um projeto regional”, insistiu Nyusi, garantindo que, agora, o “Miombo está no mapa do mundo”.
A Floresta de Miombo cobre dois milhões de quilómetros quadrados e garante a subsistência de mais de 300 milhões de habitantes de 11 países da África austral, incluindo pastagens tropicais e subtropicais, moitas e savanas. Constitui o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo e enfrenta atualmente, entre outros, problemas de desflorestação.
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