No ano de 1948, no estado americano do Idaho, mais concretamente em Payette Lake, a população fartou-se dos castores, demasiado abundantes para os gostos locais. Vai daí resolveram levá-los para outras paragens, no caso Chamberlain Basin, o habitat ideal para os bichos até por o homem ainda não ter posto lá o pé. Só que era uma zona selvagem, sem estradas nem trilhos, portanto nem pensar em levar os bichos em camionete ou jipe.

Valeu então a notável ideia de Helmo Heter, funcionário do Idaho Fish and Game, departamento da administração americana, que se lembrou de largar os bichos de paraquedas. Assim resolvia dois problemas: “transportar” a bicharada e livrar-se dos paraquedas que sobraram da Segunda Guerra Mundial. O homem inventou então umas caixas, que abriam ao impacto no solo, que largou com os castores dentro. Foram assim deslocalizados 80 castores, dos quais 79 com sucesso. Se a história parece mentira, quero dizer que é relatada no “Journal of Wildlife Management”.

Outro exemplo interessante de deslocalização (bem, neste caso é mais imitação) é o Folkemødet dinamarquês, o Encontro do Povo, um festival de quatro dias onde vão os políticos falar dos partidos, da democracia, do país, dos outros políticos. Há de tudo, desde comícios e debates a entrevistas, e os membros do governo andam por lá, incluindo o primeiro-ministro.

Este ano participaram mais de cem mil pessoas, em três mil eventos, numa ilha do Mar Báltico. Note-se que este festival, realizado desde 2011, não é original, pois copia a Semana Almedalen sueca (Almedalsveckan), que já vai nos 50 anos, e que se realiza na 27ª semana no Parque Almedalen. Tal como o Folkemødet, é dedicado à política e conta com a participação de políticos, tem discursos, seminários, etc., sendo considerado o mais importante fórum político da Suécia; a sua origem está ligada a Olof Palme.

O Bloco de Esquerda, claro, resolveu fazer um “Almedalsveckan” português (ou será um Folkemødet?) próprio, o Acampamento Liberdade, em Martinchel, Castelo de Bode. Recheado de autênticas pérolas como o “direito à boémia: necessidade de vida noturna para a produção e radicalização cultural”, que estranhamente é logo depois de almoço; o workshop “desconstrução da masculinidade tóxica”, que admito é interdito a homens; o “trabalho sexual: o direito ao corpo”, que felizmente não é um workshop; a “ciganofobia”, que nem quero pensar no que é; e gostaria de saber o que é, depois do jantar, o “no intenso agora”, que não deve ser o que estou a pensar.

Bom, bom, era se o Elmo Heter andasse por cá nestes dias, a largar castores em Martinchel. O giro que seria os castores a aterrarem nestes eventos. Isso sim, faria desta iniciativa do Bloco uma iniciativa única, os dias em que choveram castores.