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Cafôfo agradece a sua contribuição de 25€ para a campanha

As eleições, sabemos todos, são épocas de muitos despesismos e decisões irracionais, mas por favor não destruam por completo o nosso futuro só para ganharem a próxima eleição!
26 Agosto 2019, 07h15

Neste mês de Agosto celebrou-se o 511º aniversário da cidade do Funchal e aproveitando essa ocasião a Câmara Municipal do Funchal organizou um concerto de James Arthur que serviu como “o lançamento da primeira pedra” da candidatura de Paulo Cafôfo, antigo presidente da autarquia, à presidência do Governo Regional da Madeira. Toda esta operação está envolta em imensos defeitos que devem fazer os Madeirenses realmente reflectir sobre que futuro querem para a Madeira.

Comecemos pelo primeiro e mais escandaloso defeito deste evento: o seu custo! Se atendermos a diversas fontes só o cachê do cantor custou 125 mil euros a que acresce despesas de viagem, estadia em hotel de 5 estrelas e requisitos de back-stage. A este valor já exorbitante há ainda que somar despesas de instalação e aluguer de palco, som, luzes, segurança, entre outras. Assim sendo, podemos concluir que este evento terá tido um custo a rondar os 200 mil euros! Uma parte muito significativa do orçamento anual desta Câmara para a Cultura! Um valor que seria muito importante para a promoção da criação cultural e desenvolvimento das indústrias criativas que tanta falta fazem nesta região e nesta cidade e que tanto potencial têm como geradoras de riqueza, emprego e desenvolvimento económico e social.

Por outro lado, este evento teve também uma outra consequência negativa para a criação cultural da região: o contributo para a solidificação da cultura da borla nos eventos culturais na Madeira. A Madeira já sofre, em grande medida, de uma enorme cultura de borlas em diversas áreas e em grande força na área da Cultura. Este evento com um artista internacional e também com bilhetes gratuitos vem reforçar essa cultura e dificultar ainda mais a criação de eventos e actividades culturais pagas que se desenvolvem ao longo do ano na região e que sofrem mundos e fundos para convencer o público a pagar pelos bilhetes. A verdade é que com tantos eventos gratuitos existe já uma quase sub-cultura popular onde se acredita que os artistas vivem do ar e que não precisam de ser remunerados pelo seu trabalho, pelo menos, não com o dinheiro dos bilhetes! Que ninguém se esqueça que o James Arthur foi, na mesma, pago pela sua actuação e tendo em conta o custo que calculamos anteriormente e sabendo que a lotação do recinto era de 9 mil pessoas sabemos que este evento custou, em média, aproximadamente 25€ por cada um dos espectadores que lá estavam! Uma excelente contribuição de todos para a campanha do Paulo Cafôfo!

Por fim, esta reflexão sobre o custo por pessoa do evento, leva-nos a uma outra questão: apesar do evento ter sido custeado pelos imposto dos Funchalenses, estes não tiveram nenhuma vantagem ou benefício na obtenção dos bilhetes para o acesso ao concerto. Apesar do evento ter sido pago pelos seus impostos e ter sido realizado para comemorar o aniversário da sua cidade, um Lisboeta que cá passava férias, por exemplo, teve a mesma possibilidade e acesso ao evento do que um Funchalense! Neste caso, para aproveitar o evento serviam todos, mas para o pagar a fava saiu só a alguns! A excepção a esta universalidade de acesso esteve, claro está, a um grupo de privilegiados que devido aos seus contactos puderam dispensar as longas horas nas filas de espera para recolher os bilhetes e receberam-os directamente em mãos ou até mesmo em casa!

As eleições, sabemos todos, são épocas de muitos despesismos e decisões irracionais, mas por favor não destruam por completo o nosso futuro só para ganharem a próxima eleição! A Madeira e os Madeirenses merecem melhor!

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