Há precisamente 500 anos, dia 23 de janeiro de 1524, nasceu aquele que foi o maior poeta português. Esta data é hoje conhecida fruto de uma investigação académica, levada a cabo em Coimbra, e que a partir de um soneto chegou-se à data concreta de nascimento do poeta.

No passado dia 23 de janeiro – dia em que fez os 500 anos – tivemos apenas uns apontamentos da imprensa sobre esta efeméride e pouco mais. É lamentável que isto tenha acontecido, até porque o Estado não se terá esquecido da importância da data, porque em maio de 2021, uma resolução do Conselho de Ministros determinou a realização das comemorações do quinto centenário do nascimento de Camões.

A resolução do Conselho de Ministros nomeou uma comissária e estabeleceu a criação de uma Comissão de Honra pelo Presidente da República, a criação de um Conselho Consultivo, por despacho dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Cultura, e a criação de uma estrutura de missão.

O mesmo diploma definia que o programa deveria ser concluído e proposto ao Governo até ao final de 2022, e que as comemorações decorreriam entre 12 de março de 2024 e 10 de Junho de 2025.

O objetivo destas comemorações era precisamente celebrar o contributo do poeta para a história da literatura e da língua portuguesas. “Os 500 anos do nascimento de Camões são uma oportunidade única para pensar o legado de um poeta omnipresente, tanto na literatura como na identidade portuguesas, um dos maiores vultos da literatura universal, cujo génio é reconhecido como fundador de uma ideia de universalidade que hoje nos surge como revolucionária na escrita, na vocação e no pensamento”, lê-se na resolução.

As despesas orçamentais das comemorações, assim como o apoio administrativo e logístico à comissária, são suportadas pelo Instituto Camões e pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.

Soubemos recentemente, segundo a própria Comissária das Comemorações dos 500 anos de Camões, a catedrática Rita Marnoto, que nenhuma medida foi tomada desde Maio de 2021 para “…., a criação das duas comissões e da estrutura de missão são condição para que a comissária possa começar a trabalhar, a fazer os seus projetos, a fazer a programação”, e que por isso esteve tudo parado.

Isto é grave – muito grave! – e por mais que o Governo tente acelerar todas estas solenidades, alguém tem de ser responsabilizado. E não falo de ministros ou da própria Comissária que, alegadamente, até esteve a pressionar para que as coisas acontecessem. Mas será que a culpa vai morrer, mais uma vez, solteira?

Não obstante o retomar dos trabalhos, o Governo já averiguou as responsabilidades desta situação? Será que já abriu um inquérito para perceber quem falhou e porquê? O que fez até agora o Instituto Camões perante esta situação inaudita? É que tamanha negligência pode trazer encargos futuros para o erário público, porque ao abrigo da invocada urgência normalmente aparecem sempre uns quantos ajustes diretos que acabam por ser pagos pelo contribuinte.

É triste ver como Luís de Camões foi tratado, sobretudo quando comparamos ao tratamento de excelência dado em Espanha a Cervantes ou a Victor Hugo em França.