[weglot_switcher]

Campeões do desemprego: sugestões de melhoria baseadas num caso inspirador

Parecem haver questões estruturais que prejudicam o desempenho do mercado de trabalho regional e temos o sinal de que uma restruturação já devia ter sido feita.
5 Março 2019, 07h15

A Região Autónoma da Madeira (RAM) foi a campeã nacional do desemprego em 2015, em 2016, em 2017 e em 2018. No último trimestre de 2018 a taxa de desemprego situou-se em 8,9%, mais de 2 pontos percentuais acima da taxa nacional. Parecem haver questões estruturais que prejudicam o desempenho do mercado de trabalho regional e temos o sinal de que uma restruturação já devia ter sido feita. Mais vale tarde do que nunca, por isso faço algumas sugestões, mas apenas depois de descrever um caso que me parece ser uma excelente fonte de inspiração para a RAM: Singapura.

É importante esclarecer que fonte de inspiração significa que considero importante conhecer, estudar, e tirar ilações que sejam adaptáveis, e não copiar, porque cada povo tem as suas circunstâncias: costumes, culturas, geografias, histórias e instituições que são diversas.

Singapura é uma república independente no sudeste asiático. É pequena, com menos de 800 km2 . É pobre em recursos naturais, tem de importar até água. Foi colonizada durante mais de 1 século e cercada e ocupada durante a II Guerra Mundial. Podemos então, estabelecendo uma comparação com a RAM, concluir que é mais pequena, menos privilegiada pela Natureza, e que sofreu mais com a guerra. Contudo, Singapura tem tido desempenhos excelentes a vários níveis: Está em 9.º lugar na Lista de Países por Índice de Desenvolvimento Humano, tem uma balança corrente que é cronicamente superavitária, e a taxa de desemprego está abaixo de 3% há quase 10 anos.

Como conseguem os Singapurenses manter um desempenho económico tão positivo com um território pequeno, com uma grande carência de recursos naturais e com uma história trágica até ao fim da 2.ª Guerra Mundial?

1.º: Com uma economia de mercado, aberta, pró-empreendedorismo, e com taxas de impostos muito baixas. O protótipo daquilo a que se costuma chamar de economia liberal.

2.º: Com níveis de corrupção muito baixos. Singapura está no pódio mundial da transparência.

3.º: Com um Fundo Soberano que gere e investe de forma profissional e rigorosa os recursos do Estado. Construíram, com esse rigor e esse profissionalismo, e sem corrupção, o maior fundo soberano do mundo que não tem receitas petrolíferas como fonte principal.

4.º: Dando prioridade à formação, produção e investigação em áreas de tecnologia de ponta, como nos setores da indústria biotecnológica, eletrónica, química e petroquímica, e sobretudo em serviços de excelência e de grande valor acrescentado, incluindo os serviços financeiros, imobiliários e portuários.

5.º: Pela educação, formação e competências. É o país asiático com maior proporção de habitantes, 83%, com proficiência na Língua Inglesa. A Educação ocupa cerca de 20% do orçamento nacional. Têm um programa, o “Edusave”, cujo objetivo é maximizar as oportunidades para todas as crianças e adolescentes até aos 16 anos, e que também visa recompensar os alunos que têm bom desempenho ou que fazem um bom progresso no seu trabalho curricular e extracurricular.

Aqui ficam então sugestões que podemos tentar adaptar para a nossa realidade:

1. Liberalizar a economia, baixar impostos;

2. Educar para o civismo e recriminar exemplarmente a corrupção e o tráfico de influências;

3. Criar um fundo de investimento público regional com gestão ultraprofissional e ultrarrigorosa;

4. Priorizar os setores de tecnologia mais avançada e de maior valor acrescentado, desde a educação e formação profissional até à criação das infraestruturas necessárias;

5. Incentivar as famílias, as crianças, os adolescentes e jovens a estudarem, a serem bons alunos e a serem capazes de transformar o seu conhecimento em algo de grande valor social e no mercado, através de competências, da criatividade e do empreendedorismo.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.