No transporte terrestre, o comboio é o meio que permite mover mais carga no menor espaço possível e com menor necessidade de pessoas. No meio ferroviário, um só maquinista pode rebocar dezenas de vagões de mercadorias por longas distâncias e com menor carga ambiental, ainda para mais se a locomotiva for movida a eletricidade, que pode ser proveniente de fontes renováveis. Desta forma, deixam de ser necessárias dezenas de motoristas, cada um num camião, com muito menor capacidade de carga.
Com base nessa premissa, o programa de investimentos Ferrovia 2020 foi apresentado em fevereiro de 2016 e propunha-se adaptar e modernizar linhas para ser mais fácil e barata a circulação de comboios de mercadorias, pondo de parte a melhoria do tempo de viagem para os passageiros. Evolução do PETI3+ – dos tempos de Passos Coelho – o Ferrovia 2020 pretendia a circulação de comboios de mercadorias com até 750 metros de comprimento em linhas como a da Beira Alta, do Minho e do Norte, além da construção da nova ligação ferroviária entre Évora e Elvas, com acesso à fronteira.
Praticamente após uma década, tardam em aparecer os comboios longos, não por falta de capacidade dos operadores de mercadorias, sobretudo Medway e Captrain, mas por incapacidade das linhas. A Linha da Beira Alta é exemplo cimeiro: integrada no Corredor Internacional Norte, reabriu na totalidade em setembro último, após três anos e meio de suspensão e com o calendário atrasado em cinco anos e meio.
Na reabertura, os operadores alertaram para a impossibilidade de circularem comboios tão compridos entre Guarda e Pampilhosa, por conta da manutenção de pendentes no percurso, que obrigam ao uso de duas locomotivas em vez de uma para conseguir transportar as cargas pesadas. A situação aumenta os custos de operação ao ponto de tornar inviável a circulação de composições tão compridas. Também não estão reunidas as condições técnicas para que os semi-reboques dos camiões sejam postos em cima de vagões, impossibilitando o uso da Linha da Beira Alta como autoestrada ferroviária, que já existe em Espanha.
Metros em falta
Mais acima, a Linha do Minho foi eletrificada e esteve em obras para triplicar a capacidade do serviço de mercadorias, de 15 comboios de 300 metros de comprimento para 20 serviços de 750 metros. A realidade mostra que a estação de Valença – a última antes da fronteira – não está pronta para comboios com esse comprimento, pelo que as trocas de comboios internacionais continuam limitadas a composições com 300 metros. Para a circulação entre os dois lados do Minho, é necessário ainda usar locomotivas bi-tensão e equipadas com diferentes sistemas de apoio à condução – CONVEL, do lado português, e ASFA, do lado espanhol.
Está ainda por concluir a construção da nova linha entre Évora e Elvas, assim como as obras em alguns trechos da Linha do Norte. Quando foi apresentado, o Ferrovia 2020 deveria ficar concluído em 2021. À beira de 2026, e mesmo com projetos atrasados em quatro anos, o plano ainda está longe de chegar à meta. Assim fica mais difícil a transição modal.
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