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Carlos Costa: a vida e as polémicas do governador do BdP

Nasceu em Oliveira de Azeméis e brincava numa estrada de terra batida onde passavam carros de bois. Licenciou-se no Porto e chegou ao Banco de Portugal em 2010, num percurso com muitas polémicas.
  • Mario Proença/Bloomberg
19 Fevereiro 2019, 07h30

Em Cesar, uma das povoações mais antigas do país e local de uma sangrenta batalha entre as hostes cristãs do rei Leão e os mouros, o governador do Banco de Portugal (BdP) vivia numa casa de dois andares com os pais e o irmão. Gostava de jogar à bola com os amigos, matraquilhos e seguia com muita atenção os resultados do Benfica. Sempre que a agenda de trabalho o permite, visita o Estádio da Luz para ver o clube do coração.

“Quando o Benfica venceu o Real Madrid nos anos 60, na final da Taça dos Campeões Europeus, fizemos uma festa enorme”, lembra um amigo de infância ao Jornal Económico. Filho de um antigo operário da Viarco e de uma costureira, Carlos Costa era considerado um bom aluno pelos professores. Além de calmo e tranquilo, tinha uma grande paixão pela leitura.

Costa e os amigos habitavam na zona mais rural de Cesar, localidade do concelho de Oliveira de Azeméis. As brincadeiras ao ar livre jogavam-se na estrada de terra batida, onde também passavam carros de bois e bicicletas. No verão, juntavam-se alguns amigos de Lisboa e Porto e filhos de emigrantes no Brasil. Os palacetes, a igreja, o aqueduto e uma parte industrial compunham a paisagem da aldeia, elevada a vila décadas depois.

Nessa altura, já o governador do Banco de Portugal tinha partido para outros voos: no Porto licenciou-se em economia pela Faculdade de Economia, a mesma que deu o diploma ao antigo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. Na Invicta, Carlos Costa começou por alugar um quarto, deu explicações e viria a conhecer a mulher com quem casou e mãe dos seus dois filhos.

Na área universitária, foi professor convidado na Universidade de Aveiro. Ocupou igualmente o cargo de presidente do Conselho Consultivo da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, além de ter sido docente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEUP).

No início dos anos 80, realizou estudos de pós-graduação e investigação na Universidade de Paris I, da Sorbone, e frequentou o Programa de Gestão para Executivos do INSEAD (1998). No âmbito da integração europeia, coordenou o Departamento de Assuntos Económicos e Financeiros da Representação Permanente de Portugal junto da Comunidade Europeia (CE) de 1986 a 1992.

Carreira e polémicas

Desempenhou ainda o cargo de diretor-geral do Millennium BCP de 2000 a 2004, tendo participado no “Conselho Superior para a Reforma do Sistema Financeiro” (1988-1992), que serviu de base à reforma global do quadro legislativo do sistema financeiro português, e chegou também a integrar a administração do Unibanco.

Entre outras funções, foi também presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos entre 2004 e 2006, e ocupou idêntico cargo no Banco Nacional Ultramarino (BNU) e no Banco Caixa Geral (Espanha). O governador recebeu ainda o grau de “Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique”.

O governador chegou ao Banco de Portugal em 2010 e as polémicas não têm faltado. Teve de lidar com as medidas de resolução aplicadas a dois bancos, o Banco Espírito Santo (BES) e o Banif; as consequências da nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN); e o caso das ‘offshores’ do Banco Comercial Português (BCP).

Tal como o Jornal Económico noticiou em primeira mão, o supervisor está a avaliar a responsabilidade de ex-gestores da Caixa nas decisões de negócios ruinosos do banco público. No entanto, o exame exclui o governador do Banco de Portugal, também ele ex-administrador da CGD. A decisão está a gerar polémica.
Num comunicado divulgado na sexta-feira, dia 8 de fevereiro, o governador esclareceu que no período em que foi administrador da CGD, entre abril de 2004 e setembro de 2006, “não teve responsabilidades nas áreas de crédito, risco, acompanhamento de clientes ou de controlo e auditoria interna”. Certo é que este será um mandato que continuará sob fogo.

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