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Carlos Costa diz que 30 mil milhões de NPL significa que cerca de 20% do PIB foi mal alocado

Carlos Costa destacou na sua apresentação no Fórum Banca o problema do malparado e o seu peso na rentabilidade dos bancos e no crescimento da economia.
  • Cristina Bernardo
29 Novembro 2018, 10h54

O Governador do Banco de Portugal disse esta quinta-feira, no Fórum Banca 2018, do Jornal Económico e da PwC que está a decorrer em Lisboa no Hotel Pestana Palace, em Lisboa, que ao nível de crédito com imparidades do setor bancário “devemos atingir os de 30 mil milhões de euros, o que significa que cerca de 20% do PIB de 170 mil milhões foi mal alocado”, referindo-se ao mau financiamento do setor bancário que marcou as últimas décadas.

Carlos Costa destacou na sua apresentação o problema do malparado e o seu peso na rentabilidade dos bancos e no crescimento da economia. O Governador defendeu que para se salvaguardar a estabilidade financeira, tem de se obrigar “as instituições financeiras a serem mais cautelosas, limitando o risco de acidente no crédito”.

“Como os acidentes não se podem converter em ameaças à estabilidade financeira, a sociedade tem de saber se está disponível ou não para fornecer as redes de segurança necessárias. Nesta matéria não pode haver almoços grátis. E quem pensa que pode haver almoços grátis está enganado, porque, no fim do dia, ou tem uma situação em que, em nome da segurança, a função do crédito fica restringida, ou tem uma situação em que em nome da necessidade de promover o crédito e o desenvolvimento, está a segurança em causa e alguém tem de assegurar que o sistema não colapsa, seja ele o contribuinte, seja ele o sistema bancário”, disse Carlos Costa.

“A redução dos ativos não produtivos gerará maior confiança sobre a robustez dos balanços, sobre a rendibilidade e sobre a sustentabilidade das instituições, contribuindo para uma melhoria da sua valorização pelos mercados. Ganham todas as partes interessadas: os acionistas, os colaboradores, os clientes, os depositantes e, acima de tudo, o interesse público”, referiu ao mesmo tempo que adiantou que essa redução de NPE (Non Performing Exposure) “cria um contexto favorável ao reforço da recuperação da economia portuguesa, à redução do risco de crédito e à melhoria da rendibilidade e saneamento dos balanços”.

Carlos Costa começara por dizer que o setor bancário em Portugal apresenta ainda algumas vulnerabilidades, e entre elas os níveis de ativos não produtivos, “que são ainda elevados tanto em termos absolutos como em termos relativos face a outras jurisdições, e a concentração de exposições a algumas classes de ativos, designadamente a dívida pública, ao mercado imobiliário e a algumas economias em desenvolvimento”.

“Estas vulnerabilidades penalizam a rendibilidade e tendem a gerar desconfiança sobre a robustez dos balanços dos bancos”, disse.

“Este risco de desconfiança tende a traduzir-se num menor price-to-book-value, numa maior dificuldade para proceder a aumentos de capital e num maior custo de colocação de instrumentos de dívida, nomeadamente os passíveis de absorver perdas. Esta situação dificulta o cumprimento dos requisitos mínimos de fundos próprios e passivos elegíveis e limita a capacidade para conceder crédito”

Sendo “por isso, crucial que os bancos portugueses continuem a cumprir os planos de redução de ativos não produtivos que oportunamente submeteram às autoridades de supervisão. E, em particular, é também crucial que adquiram capacidade para acomodar um eventual agravamento das exigências prudenciais”, alertou.

Neste plano, Carlos Costa deixou várias sugestões aos bancos, entre elas: criarem estruturas internas autónomas onde concentrem uma determinada carteira de créditos com elevadas imparidades para poder gerir esses créditos e depois até beneficiar da mais valias com a libertação futura de imparidades, se se confirmar que essa imparização foi sobrestimada. Mas também defendeu a venda de carteiras de crédito a entidades externas.

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