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Carlos Costa: “Sem clientes informados, não há um mercado eficiente”

O governador do Banco de Portugal alertou para os desafios da literacia financeira face ao desenvolvimento digital, no evento que celebra os dez anos do mandato de supervisão comportamental do regulador.
25 Setembro 2018, 10h04

A literacia financeira é um fator indispensável à estabilidade financeira, defende o Governador de Banco de Portugal, Carlos Costa, que apontou especialmente para a necessiadde de ser vencer o desafio da formação digital, no discurso de abertura da Conferência sobre Supervisão Comportamental Bancária: “Novos desafios dez anos depois da crise financeira”, que se realiza esta terça-feira, 25 de setembro, em Lisboa.

“Sem clientes informados, não há um mercado eficiente. Sem supervisão, mesmo esses clientes podem cair em ilusões”, afirmou o governador, no evento que celebra os dez anos do mandato de supervisão comportamental do BdP. “A importancia ainda é relativamente recente, mas é uma função fundamental para assegurar confiança dos clientes bancários e assegurar a estabilidade do sistema financeira”, referiu.

Carlos Costa defendeu que a crise financiera reforçou a percepção que a relação entre instituições financeiras e clientes bancários é assimétrica. Nesse sentido, sublinhou que “a intensidade e a propagação de expetativas distorcidas de valorização de ativos são tanto maiores quanto menor for a literacia e a experiência financeiras de uma dada população”.

Apesar de considerar que decisões financeiras robustas ou sustentáveis por parte de cada um dos indivíduos são determinantes para a estabilidade financeira, sublinhou que não são uma condição suficiente dado que os agentes económicos não têm em conta e, portanto, não contemplam, as externalidades das decisões ou ações, em particular o risco sistémico.

O governador deu exemplo do boom especulativo no mercado imobiliário para explicar que cada decisão individual parece racional, mas que são necessárias medidas que ataquem os efeitos sistémicos negativos do conjunto das decisões. “Esta constatação é particularmente relevante quando se desenvolvem situações de euforia no mercado, nomeadamente no mercado residencial e hipotecário”, afirmou.

A função do BdP é, por isso, de acompanhar decisões individuais, a atividade de cada um dos intervenientes, bem como do sistema financeiro enquanto um todo, segundo explicou. Ou seja, um acompanhamento do sistema como um todo, que mitigue as externalidades negativas das ações individuais, para além de uma supervisão de cada uma das instituições financeiras que garanta a robustez financeira, nomeadamente a capacidade para absorver os riscos resultantes da aplicação dos recursos que lhe foram confiados.

Carlos Costa referiu ainda que instrumentos financeiros mais complexos e novos canais trouxeram novas fontes de risco. “Clientes mais informados e com maior capacidade de entender [as inovações digitais] são mais atentos e exigentes”, defendeu, sublinhando que a promoção da literacia financeira no campo da informação digital é uma das prioridades atuais do supervisor.

“Os reguladores têm de assumir um papel ativo no ecossistema, acautelando os riscos que podem emergir. A regulação e supervisão não podem impedir a inovação, mas a inovação não pode por em causa a estabilidade financeira. O cliente deve-se sentir protegido, independentemente dos canais de comercialização. Impõe-se que os supervisores acompanhem de perto a inovação nos mercados financeiros”, acrescentou Carlos Costa.

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