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Carlos Costa: sustentabilidade das contas públicas é essencial para evitar travagens bruscas da economia

Governador do Banco de Portugal aponta para necessidade de estímulos orçamentais na Europa para contrariar crise, mas apenas em países com espaço orçamental, como a Alemanha. Portugal “deve evitar os erros de 2009”, alerta.
14 Outubro 2019, 10h43

O governador do Banco de Portugal alertou esta segunda-feira para a necessidade de manter as contas públicas equilibradas de forma a evitar travagens bruscas da economia portuguesa.

Na apresentação de um e-book sobre o crescimento económico português que reúne os contributos de vários investigadores, Carlos Costa frisou que “uma sociedade como a portuguesa tem de estar consciente de que é necessária sustentabilidade do desenvolvimento” e que uma dimensão essencial “são as contas públicas”.

O governador indicou que, caso regressassem desequilíbrios nas finanças públicas, regressariam também “fenómenos de stop and go” à economia nacional, e que uma contração forte da atividade levaria a uma “destruição enorme” de capital e de emprego devido ao “desajustamento” entre oferta e procura.

Mas, sublinhou, “o problema não é o ajustamento, é o empolamento insustentável que precede o ajustamento”. Carlos Costa comparou a política económica a um tocador de tambor que vai à frente do exército. “Se for na direção errada e cair num precipício, o exército cai no precipício. Se os sinais de política económica forem errados, os agentes económicos vão seguir os incentivos e os estímulos da política económica”.

E, num momento em que as taxas de juro estão baixas e há sinais de desaceleração económica na Europa, o governador deixou também alertas para a gestão que será necessário fazer a nível europeu e nacional. “As nuvens que enfrentamos já não vem dos mercados financeiros, já não são ultrapassáveis pela descida de taxas de juro, mas estão relacionadas com queda da procura agregada”.

Para a Europa, que é uma região com exportações líquidas positivas, para resolver uma queda de procura agregada “não há solução se não aumentar a componente autónoma da procura agregada, e concentrar despesa pública em investimentos em capital humano e infraestruturas” que aumentem o produto potencial.

Mas isto apenas para os países que têm espaço orçamental, em particular a Alemanha. “Para países como o nosso, que não tem margem de manobra, significa uma muito maior atenção à qualidade da despesa pública, favorecendo as políticas que aumentam o produto potencial, e deixando as restantes para segundas núpcias”, disse, acrescentando: “Não podemos cometer o mesmo erro de 2009, sem olhar sobre a qualidade da despesa”.

Além das contas públicas, o governador alertou para a necessidade de haver sustentabilidade nas contas externas, em termos de endividamento dos agentes económicos, o que implica acompanhar de perto a evolução dos rácios de alavancagem de cada banco mas também a evolução dos agregados macroeconómicos, já que “o que se revela solvente no curto prazo pode evoluir para insolvente” no longo prazo. a “A miopia de curto prazo pode sobrepor-se à visão de longo prazo”, afirmou.

Por último, o governador frisou que a sustentabilidade implica conseguir gerar rendimentos que permitam ir ao encontro das expetativas dos cidadãos, o que só é possível com emprego e mais produtividade total dos fatores de crescimento.

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