O governador do Banco de Portugal alertou esta segunda-feira para a necessidade de manter as contas públicas equilibradas de forma a evitar travagens bruscas da economia portuguesa.
Na apresentação de um e-book sobre o crescimento económico português que reúne os contributos de vários investigadores, Carlos Costa frisou que “uma sociedade como a portuguesa tem de estar consciente de que é necessária sustentabilidade do desenvolvimento” e que uma dimensão essencial “são as contas públicas”.
O governador indicou que, caso regressassem desequilíbrios nas finanças públicas, regressariam também “fenómenos de stop and go” à economia nacional, e que uma contração forte da atividade levaria a uma “destruição enorme” de capital e de emprego devido ao “desajustamento” entre oferta e procura.
Mas, sublinhou, “o problema não é o ajustamento, é o empolamento insustentável que precede o ajustamento”. Carlos Costa comparou a política económica a um tocador de tambor que vai à frente do exército. “Se for na direção errada e cair num precipício, o exército cai no precipício. Se os sinais de política económica forem errados, os agentes económicos vão seguir os incentivos e os estímulos da política económica”.
E, num momento em que as taxas de juro estão baixas e há sinais de desaceleração económica na Europa, o governador deixou também alertas para a gestão que será necessário fazer a nível europeu e nacional. “As nuvens que enfrentamos já não vem dos mercados financeiros, já não são ultrapassáveis pela descida de taxas de juro, mas estão relacionadas com queda da procura agregada”.
Para a Europa, que é uma região com exportações líquidas positivas, para resolver uma queda de procura agregada “não há solução se não aumentar a componente autónoma da procura agregada, e concentrar despesa pública em investimentos em capital humano e infraestruturas” que aumentem o produto potencial.
Mas isto apenas para os países que têm espaço orçamental, em particular a Alemanha. “Para países como o nosso, que não tem margem de manobra, significa uma muito maior atenção à qualidade da despesa pública, favorecendo as políticas que aumentam o produto potencial, e deixando as restantes para segundas núpcias”, disse, acrescentando: “Não podemos cometer o mesmo erro de 2009, sem olhar sobre a qualidade da despesa”.
Além das contas públicas, o governador alertou para a necessidade de haver sustentabilidade nas contas externas, em termos de endividamento dos agentes económicos, o que implica acompanhar de perto a evolução dos rácios de alavancagem de cada banco mas também a evolução dos agregados macroeconómicos, já que “o que se revela solvente no curto prazo pode evoluir para insolvente” no longo prazo. a “A miopia de curto prazo pode sobrepor-se à visão de longo prazo”, afirmou.
Por último, o governador frisou que a sustentabilidade implica conseguir gerar rendimentos que permitam ir ao encontro das expetativas dos cidadãos, o que só é possível com emprego e mais produtividade total dos fatores de crescimento.
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