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Carlos Moedas: “A unanimidade em tudo está a destruir a União Europeia”

O social-democrata Carlos Moedas diz estar preocupado com a ascensão dos movimentos populistas na UE e considera que a maioria qualificada é uma boa forma para travar a impugnação das votações por parte daqueles que querem acabar com o projeto europeu.
  • Cristina Bernardo
24 Abril 2019, 08h15

O comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, defendeu esta terça-feira que a regra da unanimidade, que obriga ao consenso entre todos os Estados-membros para a aprovação de medidas, está “a destruir a União Europeia”. O social-democrata Carlos Moedas diz estar preocupado com a ascensão dos movimentos populistas na UE e considera que a maioria qualificada é uma forma para travar a impugnação das votações por parte daqueles que querem acabar com o projeto europeu.

“A minha experiência é que a unanimidade em tudo está a destruir o processo de decisão e está a destruir a própria Europa”, afirmou o comissário europeu, numa conferência de imprensa promovida pela Abreu Advogados. Carlos Moedas diz que para os países estarem na UE é preciso perceber que, apesar de nem sempre estarem de acordo com todas as medidas que são tomadas, têm de vestir a camisola e “fazer parte do clube”, porque dizer que se pode travar tudo e que fazer tudo o que cada país quer “não funciona”.

O comissário europeu lembra que, nos tratados europeus, está prevista a maioria qualificada e ter uma minoria de bloqueio de quatro países e que essa deve tornar-se uma prática recorrente. “O que se passou como os refugiados foi uma vergonha. A Comissão Europeia diz ‘vamos criar um sistema de partilha’ e cada um olhou para o lado e disse ‘não, não, vou resolver a coisa em casa'”, afirmou Carlos Moedas.

“[Os populistas] querem desmantelar um método comunitário que demorou tantos anos a construir e cujo interesse é o interesse comum das pessoas e não o interesse de apenas um país. Defendem apenas um método unilateral: os países sentam-se à mesa e cada um decide por si. Mas não pode ser assim”, referiu.

O social-democrata, que assumiu o papel de mandatário da campanha da lista do PSD às europeias, diz que o crescimento de movimentos populistas na Europa é um dos grandes desafios da UE. “O perigo não tem a ver com o facto de o presidente Juncker ter vindo dizer que quer uma comissão política, tem a ver com estes países [que onde predomina o crescimento do populismo] que vão nomear pessoas para destruir o projeto europeu. E isso é preocupante. Uma coisa é ter deputados que querem destruir o projeto europeu e outra é ter comissários e isso pode ter um impacto muito negativo para o futuro da UE”.

“Os deputados populistas não fazem absolutamente nada. Não vão às reuniões, não fazem relatórios, não participam e as pessoas votam nestas pessoas que não fazem absolutamente nada”, afirmou.

Carlos Moedas defendeu ainda que a UE está hoje sob dois pêndulos: “a nível mundial, o multilateralismo está em crise e vem trazer o multilateralismo para o bilateralismo e, na Europa, estamos a ir do método comunitário para o método intergovernamental, método esse que péssimo”.

O ex-secretário de Estado diz ainda que “a melhor experiência” da sua vida foram estes cinco anos como comissário europeu. “Mas tudo tem um ciclo e esse ciclo chega ao fim. É normal que chegue ao fim, mas essa é uma decisão de uma pessoa: o primeiro-ministro em funções. Mas penso que o futuro como o vejo está em Portugal”, afirmou, dando conta de que tem “vontade de voltar” para Portugal.

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