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Carta aberta

Por um lado, apelo a que no decurso das vossas aulas, os temas de civismo e cidadania tenham um papel crescente e que entre os temas focados, este seja um deles. Por outro, que prestem a devida atenção às paredes das ruas que rodeiam as vossas escolas e nelas encontrem sinais da atuação dos vossos alunos.
9 Junho 2018, 00h15

Caros Responsáveis pelos conselhos diretivos das escolas secundárias,

Sou um cidadão de Lisboa preocupado com a sua cidade e o seu país e que vê com apreensão o rumo que o mesmo leva nalguns aspetos específicos da cidadania. Temos um País em muitas áreas muito melhor hoje do que era há não muitos anos, mas temos manifestações de falta de civismo e de respeito pela propriedade privada e pública que me preocupam.

O aspeto do vandalismo urbano é daqueles que para mim são neste momento mais marcantes e sintomáticos. Não se trata “apenas” da destruição do património que é de alguns ou de todos, mas do sinal que essa destruição representa e dos perigos que a mesma traz consigo.

Como dizia o mayor de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, estes são primeiros pequenos atos que evoluem para uma atitude de perceção de impunidade, que a prazo conduz ou pode conduzir à prática de crimes muito mais graves. Ao tolerá-los estamos a deixar crescer o germe da infração, do abuso, do desrespeito que conduz à formação de jovens potencialmente delinquentes numa sociedade envelhecida em que os mais velhos serão cada vez mais e mais frágeis e os mais jovens deveriam ser cada vez mais bem formados para compensar esse desnivelamento social.

É patente que é nas zonas envolventes das grandes escolas que este fenómeno dos tags ou graffittis selvagens mais se manifesta. Isto leva-nos a pensar que é dessas escolas que sai boa parte dos autores dessas devassas. Estas manifestações são em boa medida independentes dos estratos sociais a que os jovens pertencem.

Por outro lado, e embora esses jovens se caracterizem por elevada mobilidade e tentem (e consigam) marcar muitos territórios por onde passam, para além do seu, é relativamente fácil (assim se queira) identificar pelas suas assinaturas e prevalência geográfica, a sua origem.

É nesse sentido que vos escrevo com um duplo objetivo. Por um lado, apelo a que no decurso das vossas aulas, os temas de civismo e cidadania tenham um papel crescente e que entre os temas focados, este seja um deles. Por outro, que prestem a devida atenção às paredes das ruas que rodeiam as vossas escolas e nelas encontrem sinais da atuação dos vossos alunos.

O espírito não é persecutório, embora eu seja completamente a favor da criminalização destes atos. Ela já existiu e, ao desaparecer, retirou às autoridades policiais a força legal e anímica para atuar. A identificação dos vossos alunos mais prevaricadores será sim facilitadora de um acompanhamento pedagógico mais próximo e intenso tanto junto dos alunos como dos seus progenitores.

Os custos financeiros desta falta de regras são brutais. Todos os gastos de milhares ou milhões de euros que as empresas públicas de transportes pagam ao longo dos anos para a limpeza dos seus ativos é dinheiro que, indo para aí, não vai para os hospitais e escolas onde faz falta.

Mas é também dinheiro que custa aos particulares, donos de prédios tantas vezes acabados de pintar, de portas, janelas (agora já ao nível do primeiro andar), onde a dificuldade de acesso parece ser um incentivo e motivo de glória para estes pequenos salteadores do alheio que estamos a deixar crescer na nossa sociedade.

Espero que esta minha carta contribua para dar visibilidade a um tema que é mais grave do que parece e que para além dos custos financeiros referidos tem outros, morais, para o País. Creio que, sobretudo estes últimos, estão a passar despercebidos.

Votos de sucesso na missão que vos cabe.

 

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