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Programa do Governo: Centenas de medidas ainda não foram concretizadas

Lembra-se do que o PS prometeu na campanha eleitoral para as legislativas de 2015 e incluiu no programa do Governo? A nove meses das legislativas, “ainda há muito por fazer”, como tem alertado António Costa. Mas também há medidas abandonadas.
26 Janeiro 2019, 10h00

Em novembro de 2018, no terceiro aniversário da tomada de posse, o Governo divulgou um documento no qual garantia que cerca de 90% das medidas plasmadas no seu programa já tinham sido iniciadas. “No final do terceiro ano da legislatura, cerca de 90% das quase 1.100 medidas inscritas no programa do Governo foram já iniciadas. Ou seja, é já muito reduzido o número de medidas que não entrou ainda em fase de preparação (11%) e execução”, destacava então o documento. A cerca de nove meses das eleições legislativas, o que falta concretizar?

O Jornal Económico consultou o programa do Governo e detetou várias medidas que não foram concretizadas. Ao que acrescem objetivos que não foram cumpridos. Por exemplo, visando “melhorar a qualidade da legislação”, o Governo prometeu “aprovar legislação no Conselho de Ministros apenas uma vez por mês, mantendo a periodicidade semanal das suas reuniões”. Ora, em dezembro de 2018 realizaram-se cinco reuniões (uma das quais extraordinária) do Conselho de Ministros e em todas foi aprovada nova legislação.

Apesar desse incumprimento, no documento de balanço dos três primeiros anos da legislatura assegura-se que o objetivo de “melhorar a qualidade da legislação” tem sido prosseguido com a realização de “Conselhos de Ministros deliberativos apenas uma vez por mês” e na “aprovação dos diplomas apenas quando acompanhados da respetiva regulamentação complementar”. Dezembro terá sido a exceção? Não, de todo. Nas três reuniões do Conselho de Ministros realizadas em novembro também foi aprovada nova legislação, contradizendo o programa do Governo e o documento de balanço.

“Retirar da fatura da energia elétrica a Contribuição Audiovisual e incorporá-la no universo das comunicações sem perda de receita para a RTP” ou “concretizar um mercado grossista ibérico de gás natural (MIBGAS)” são algumas das medidas do programa que não foram executadas. No caso do MIBGAS, o processo é complexo e arrasta-se desde há anos, com o envolvimento de reguladores e empresas. Quanto à Contribuição Audiovisual, mantém-se na fatura da energia elétrica e o Governo parece ter-se esquecido dessa promessa eleitoral.

Há mais exemplos. A criação de “uma nova prestação, o Complemento Salarial Anual que visa proteger o rendimento dos trabalhadores que, em virtude de baixos salários e de uma elevada rotação do emprego, ao longo do ano não auferem rendimentos que os coloquem acima da linha da pobreza”, é outra medida não concretizada, apesar de ter sido prometida durante a campanha eleitoral para as legislativas de 2015 e incluída no programa do Governo. Em abril de 2016, aliás, o ministro das Finanças, Mário Centeno, chegou a anunciar que o Complemento Salarial Anual teria efeitos a partir de 2018, adiando a entrada em vigor do mesmo, que estava prevista para 2017. Já nessa altura, Centeno cortou para metade o valor previsto da nova prestação. Mesmo com o adiamento e a redução do valor, porém, o Complemento Salarial Anual continua, até hoje, a ser uma promessa não cumprida.

O mesmo se aplica à “instituição de um Banco Ético, em colaboração com o setor solidário e as autarquias interessadas, que possa contribuir para minorar a situação de sobreendividamento das famílias, apoiando a renegociação estruturada com os credores e concedendo pequenos empréstimos a baixo juro” para enfrentar “dificuldades pontuais e temporárias de agregados familiares em risco de perder a sua casa”. Ou à criação de “um imposto sobre heranças de elevado valor, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva”. No que respeita a esse novo imposto, perante uma vaga de doações em vida de imóveis e outro tipo de património logo após a tomada de posse, o Governo anunciou no início de 2016 que não iria avançar com a medida no imediato. E não voltou a falar sobre o assunto até hoje.

Artigo publicado na edição de 11 de janeiro do Jornal Económico.

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