Como já se tornou habitual na diplomacia europeia, a eleição do próximo presidente do Eurogrupo está a decidir-se em negociações de bastidores e a votação de 4 de dezembro pouco mais deverá ser do que a formalização do que foi concertado previamente.
Os candidatos terão de apresentar-se até sexta-feira, dia 30 de novembro, e o ponto de partida para analisar as probabilidades de cada candidato vencer esta eleição é perceber o peso de cada família política nos organismos da UE.
Com Jean-Claude Juncker a presidir à Comissão Europeia, Antonio Tajani a liderar o Parlamento Europeu e Donald Tusk à frente do Conselho, a principal família política da direita europeia, o PPE tem a hegemonia nas cúpulas europeias, pelo que a regra de equilíbrio de poderes torna quase certo que o próximo presidente do Eurogrupo seja um nome do centro esquerda – a família política de Jeroen Dijsselbloem, o presidente cessante, era precisamente o Partido Socialista Europeu, apesar das polémicas que ele próprio criou dentro deste grupo, ao tornar-se um dos rostos mais visíveis das medidas de austeridade nos países sob intervenção externa, nos últimos anos.
Dentro da família socialista, dois nomes têm sido apontados como mais prováveis sucessores do holandês: o português Mário Centeno e o homólogo italiano, Pier Carlo Padoan. Em seu desfavor, o ministro português têm o pouco peso político na Europa. Está há apenas dois anos no cargo e antes nunca tinha ocupado funções de relevo. Além disso, Portugal é um pequeno país saído de um resgate, quando Itália é um dos principais motores do projeto europeu.
A seu favor tem o facto de Itália já ter nomes de peso em posições – o já referido Tajani e Mario Draghi à frente do BCE. Além da diversidade política, a coabitação de forças dentro da Europa impõe também uma diversidade de nacionalidades, pelo que Centeno poderia ser beneficiado por não haver.
Mas como tem de garantir apoios fora do espectro socialista – a maioria dos ministros das Finanças do Eurogrupo está politicamente à direita –, as negociações são mais complexas. Até ao momento, é certo que Portugal conseguiu já um apoio do PPE – o ministro espanhol De Guindos mostrou-se favorável a uma candidatura encabeçada pelo ministro português. Mas as incógnitas são para que lado da balança vão pender os pesos pesados da Europa – França e Alemanha -, o que obriga a contactos diplomáticos de alto nível. No Governo, o próprio primeiro-ministro directamente envolvido nestas negociações para a eleição do Eurogrupo.
Ontem, o secretário de Estado adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, assumiu que o Governo ainda não decidiu se avança ou não com a candidatura de Mário Centeno à presidência daquele organismo. à margem do Fórum Banca, organizado pelo Jornal Económico e pela PwC, o governante adiantou que estavam ainda a decorrer conversações com outros países e que a decisão de avançar será tomada se houver um grupo “abrangente” de apoios, embora não seja necessário garantir à partida uma vitória na votação.
“O Governo e o ministro das Finanças ainda estão envolvidos num conjunto de contactos a nível europeu”, explicou o governante, acrescentando que essas discussões “estão a existir”.
O ministro das Finanças português, disse, “mostrou disponibilidade para ser candidato caso seja fator de união e de promoção da discussão sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária, que será uma parte essencial do próximo mandato presidente do Eurogrupo”.
Se houver esse entendimento “por parte de um conjunto abrangente de países, há uma ponderação a fazer ”, realçou, admitindo que “ainda não está decidido”. Contudo, esta procura de apoios não significa que tenha se estar assegurada à partida uma vitória. “Um apoio abrangente não significa um apoio que garanta uma vitória ex ante”, clarificou.
Além disso, o Governo teria sempre de fazer uma ponderação sobre a divisão de tarefas de Centeno entre Portugal e o Eurogrupo, já que continuaria a ser ministro das Finanças, mesmo que assumisse a liderança daquele organismo europeu.
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