Mário Centeno defendeu a urgência da União do Mercado de Capitais para a Europa dinamizar o investimento e apelou à necessidade de uniformização das leis da insolvência e da criação de uma estrutura de mercado única na Europa.
O Governador do Banco de Portugal falava na Conferência Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios.
Para o economista, “o maior impedimento da Europa ao avanço dos programas de reformas e transformação é a falta de confiança”.
“A Europa tem uma aversão ao risco superior a outras áreas económicas. Temos consumidores mais conservadores do planeta, e os investidores estão a investir noutras jurisdições. Para isso, precisamos de reforçar algo que ainda temos de forma muito incipiente, e que alguns dizem que não temos de todo — não é bem verdade — que é a União de Mercado de Capitais”, referiu.
“Para isso, precisamos de entrar em matérias sensíveis a nível nacional. Caso contrário, não vamos conseguir colocar todos na mesma sala, na mesma página. Estou a falar das leis da insolvência, de criar uma estrutura de mercado única na Europa, de uniformizarmos o suficiente para que não haja uma corrida para baixo nos impostos e que possamos ter os investidores num level playing field europeu suficiente para permitir que os investimentos sejam feitos dentro da Europa onde eles devem ser feitos,” disse o Governador.
“Devemos ter uma supervisão única, e a securitização é um tema importante a nível europeu. Tudo isto resultará naquilo que é o mais importante e que a Europa tem de enfrentar neste momento, que é o investimento,” concluiu Centeno.
“O investimento é a grande questão que enfrentamos em 2025, que está igual a 2023,” disse.
O Governador do banco central afirmou que “temos níveis de investimento baixíssimos, apesar do impulso do Next Generation EU, e Portugal faz parte do problema do baixo investimento da Europa”.
“A união do mercado de capitais é um fator decisivo para ultrapassar esta situação,” defendeu Mário Centeno.
Ao mesmo tempo, reconheceu que a Europa é uma economia estagnada, apesar de criar muitos empregos (11 milhões). “É o sacrifício a pagar para combater a inflação.” Mas, segundo o economista, “os dados económicos dos EUA parecem fantásticos, mas não são sustentáveis”.
“A Europa não tem a dívida a crescer, nem a economia a crescer, nem os salários a crescer como nos EUA. Mas a Europa tem uma trajetória mais sustentável do que os EUA,” pois Centeno considera que “o trajeto económico e financeiro dos EUA levanta muitas dúvidas em termos de sustentabilidade [a economia dos EUA cresce mais que a Europa]”.
“Devemos acreditar em nós,” defendeu.
O Governador do BdP lembra que os EUA exportam energia e a Europa não, pelo que “não se podem tirar daqui conclusões de produtividade”.
Sobre a banca, disse que a este ciclo de resultados bons “vai-se seguir um ciclo diferente e nós vamos ter reduções, que já estão a acontecer, nas taxas de juro que têm impacto nas margens financeiras da banca. Devemos todos insistir na necessidade de robustez dos balanços dos bancos, tornando-os mais capazes de enfrentar todos os estágios do ciclo económico que aí vêm”.
“A concorrência vai aumentar, incluindo a concorrência do setor não bancário. É um mundo que se abre entre os clientes e a banca,” apontou o responsável pela supervisão bancária.
“Concluir a União Bancária é algo importantíssimo para todos os bancos da área do euro. Sabemos o que precisamos para o fazer e devemos todos contribuir para esse debate e criar as condições para o fazer na Europa.”
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