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Centeno diz BCE deverá ser “paciente” e “tolerante” com desvios da meta de inflação que não tolerava antes

O governador do BdP enfatizou, em entrevista à Reuters, que o Banco Central Europeu tem agora uma “maior margem de manobra do que antes”, especialmente no contexto de baixas taxas de juro.
13 Julho 2021, 17h01

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, defende que a revisão estratégica da meta de inflação do Banco Central Europeu (BCE) permite uma “maior margem” de manobrava aceitando “desvios” que não eram tolerados anteriormente.

“A estratégia admite uma inflação temporariamente e de forma moderada com valores acima de 2%… Devemos ser pacientes e tolerantes com desvios que não toleraríamos anteriormente”, disse o ex-ministro das Finanças, em entrevista à agência Reuters, publicada esta terça-feira.

Mário Centeno realçou que a alteração para uma meta simétrica de inflação de 2%, o que significa, tal como Christine Lagarde já havia esclarecido, que “desvios positivos ou negativos são igualmente indesejáveis”. Contudo, enfatizou que o BCE tem agora uma “maior margem de manobra do que antes”, especialmente no contexto de taxas de juro extremamente baixas.

“Quando estamos a rever a estratégia, alargando o leeway (liberdade de acção) das trajectórias de inflação que são admissíveis, é importantíssimo que a forward guidance esteja adptada a este novo enquadramento, caso contrário perderia credibilidade”, disse.

Para Centeno, “não há lógica de overshooting ou taxa média de inflação” na estratégia de médio prazo.

O governador do BdP argumentou ainda, mais uma vez, que as principais causas do aumento da inflação na zona euro “são eminentemente temporárias” e estão ligadas à reversão de uma redução do imposto sobre o valor acrescentado na Alemanha, recuperação dos preços do petróleo e dificuldades nas cadeias de abastecimento globais.

“A expectativa é que esses factores, que irão fazer subir temporariamente a inflação em 2021, não permaneçam e, tanto é assim, que a nossa previsão para 2023 é de 1,4%, significativamente abaixo dos 2%”, disse.

Centeno considera, ainda, que o BCE deve ser cauteloso ao retirar as medidas de apoio, uma vez que as insolvências e o desemprego tendem a aumentar nos estágios finais da recuperação económica, quando se dá a realocação de recursos. e explicou que o Programa de Compras de Emergência Pandémica do BCE “prevê compras líquidas até Março de 2022 e então, pelo menos até o final de 2023, haverá uma fase de reinvestimento”.

“E não está tomada a decisão quando é que passamos do reinvestimento para o desinvestimento”, disse.

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