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CEO da Catawiki: “Em Portugal o artigo mais caro vendido foi um Porsche 911 de 1968 por 90 mil euros”

“Cerca de 95% do negócio da Catawiki provém de vendedores certificados — vendedores profissionais que têm uma relação contínua connosco e regressam sempre. Assim, sabemos quem são estas pessoas, o que lhes permite fazer mais negócios”, explica Ravi Vara, CEO da maior plataforma de leilões online europeia.
25 Novembro 2025, 07h00

A Catawiki é uma plataforma líder de leilões online na Europa, especializada na compra e venda de artigos especiais e colecionáveis. O seu principal objetivo é conectar compradores e vendedores de todo o mundo. Foi fundada em 2008, na Holanda, por René Schoenmakers e Marco Jansen.

Originalmente, a plataforma começou por ser um site onde os colecionadores podiam gerir e organizar as suas próprias coleções. Em 2011 começou a realizar os seus primeiros leilões semanais. A ideia evoluiu rapidamente e a plataforma transformou-se num site de leilões online para uma vasta gama de artigos especiais e raros, selecionados por especialistas.

A empresa alargou a sua presença internacional com um novo escritório em Lisboa, reforçando a sua atividade e a base de talentos na Península Ibérica — uma região que registou um crescimento de 30% em novos utilizadores em 2024.

Em entrevista com o CEO da Catawiki, Ravi Vora, a propósito da rubrica “Decisor da semana”, revela que este ano até à data a plataforma de leilões on-line que é líder na Europa já atingiu o crescimento previsto para todo o ano de 2024 em 10 meses, ao registar mais 25% de novos utilizadores.

Quando é que a Catawiki começou a operar em Portugal? E porque escolheram Portugal?

Lançámos o nosso primeiro leilão global em 2011. A Catawiki foi fundada em 2008 na Holanda com um modelo diferente. Mas em 2011 tornou-se uma plataforma de leilões online para uma vasta gama de artigos especiais e raros, selecionados por especialistas. Depois, entrámos na Bélgica, França e outros mercados.

Em Portugal, começámos a operar de forma efetiva em 2016.

Mas abriram uma filial em Lisboa em 2024?

Sim, temos presença física em Lisboa desde 2024.

E porque escolheram Portugal?

Os nossos especialistas estão espalhados pela Europa — temos pessoas em Itália, França e outros países. Mas queríamos um segundo centro (hub) para as funções centrais e, nessa procura, analisámos várias cidades europeias.

Alguns dos critérios que considerámos foram a densidade de talento — a quantidade de talento disponível no mercado. Mas queríamos também uma cidade com um fuso horário semelhante ao de Amesterdão para estabelecer o segundo centro para as funções centrais.

O segundo critério foi a disponibilidade de talento na área da tecnologia. A tecnologia foi um fator crucial. Assim sendo, os motivos para a escolha da localização foram as pessoas e os talentos na área da tecnologia. Mas também as regras e a regulamentação corporativa, e a forma como as empresas são apoiadas pelo governo aqui. Todos estes fatores fizeram-nos escolher Portugal.

Atualmente, temos entre 180 a 200 pessoas em Lisboa. Prevemos contratar 25 a 30 pessoas até ao final deste ano e a expectativa é de crescimento de 25% da força de trabalho até ao final de 2026.

Os portugueses compram muitos artigos de coleção online?

Sim. Portugal tem uma paixão pela cultura e pelo património, o que está muito bem alinhado com aquilo que a Catawiki representa. Nós também gostamos das mesmas coisas que os portugueses.

Em Portugal, uma das categorias mais populares na Catawiki é a das moedas. Há muitos colecionadores a comprar e a vender moedas. Portugal é um mercado importante para nós, na perspetiva do vendedor, nesta categoria.

Até agora, desde que começámos, quase 50 mil pessoas em Portugal submeteram moedas e outros objetos à Catawiki.

Para vender, as pessoas têm de se registar na plataforma?

Sim.

Considerando que a Catawiki é uma plataforma online, porque é que foi importante abrir um hub com presença física em Lisboa?

As nossas funções centrais — tecnologia, atendimento ao cliente, equipas de Recursos Humanos, jurídicas e financeiras — todas estas equipas precisam de estar sediadas num escritório.

Estas divisões precisam de trabalhar em conjunto para que o negócio funcione. Assim, para estas funções, procurámos um centro. Já tínhamos cerca de 450 a 500 pessoas na Holanda. O escritório de Lisboa é um centro tecnológico. Estamos a desenvolver o Serviço ao Cliente, a área de tecnologia e outras funções centrais lá.

Como está o desempenho da operação em Portugal? Ainda estão a prever um crescimento de 30% em novos utilizadores como em 2024 ou esta estimativa está a aumentar em 2025?

O nosso negócio cresceu cerca de 20% a 25% no ano passado. Este ano, estamos a crescer também 25%. O número de novos utilizadores também está a crescer cerca de 25%. O negócio está a crescer entre 20% e 25%. O número de lotes vendidos na Catawiki em Portugal está a aumentar 20% a 25%. Portanto, praticamente todos os números estão dentro deste intervalo de crescimento de 20% a 25% — o que representa um crescimento expressivo.

No ano passado, também crescemos a dois dígitos e desde que começámos em Portugal, em 2016, o negócio cresceu quase sete a oito vezes no país.

Este ano, já vendemos 120 mil lotes em Portugal. Desde o início, vendemos em Portugal mais de 100 milhões de euros em artigos de coleção e de luxo. Este ano, estamos a assistir a uma forte recuperação no segmento de luxo.

Que medidas de segurança a Catawiki adota?

A nossa proposta de valor é baseada na confiança. Destacamo-nos por sermos uma plataforma de confiança.

Existem muitas plataformas online em segunda mão onde pode comprar e vender coisas — o eBay é o maior exemplo, e existem muitas outras. Mas o que diferencia a Catawiki é, antes de mais, termos especialistas (curadores) que aprovam cada item. São pessoas que passaram muitos anos neste setor e sabem avaliar os artigos submetidos. Apenas os artigos aprovados são permitidos na plataforma — rejeitamos mais de um milhão de artigos por ano que não cumprem os elevados padrões de qualidade que temos na Catawiki para o fornecimento.

Como previnem o branqueamento de capitais?

Temos vários mecanismos de controlo. Em primeiro lugar, trabalhamos apenas com vendedores verificados. Para se registar na plataforma, a identidade precisa de ser verificada. Cerca de 95% do negócio da Catawiki provém de vendedores certificados — vendedores profissionais que têm uma relação contínua connosco e regressam sempre. Assim, sabemos quem são estas pessoas, o que lhes permite fazer mais negócios.

Os nossos especialistas analisam todos os itens antes de os aceitar na plataforma. Especialmente para objetos caros, os nossos especialistas solicitam certificados de autenticidade e prova de que o artigo pertence ao vendedor.

Quando o item é listado no site, utilizamos processos de aprendizagem automática que verificam atividades suspeitas. Se for detetado algo suspeito, os nossos especialistas sinalizam-no e enviam-no para a nossa equipa de confiança e segurança.

Temos pessoas dedicadas a verificar os leilões todas as semanas. Depois de o comprador pagar o artigo, o dinheiro é depositado numa conta escrow. O vendedor envia então o artigo, o comprador recebe-o e confirma a receção, e só após mais três dias é que o dinheiro é libertado para o vendedor, o que permite ao comprador inspecionar o objeto quando o recebe.

Qual foi o artigo mais caro já vendido na Catawiki? E o mais barato?

Entre os mais caros está um Ferrari 812 GTS vendido por 415 mil euros. Foi vendido ainda um colar de pedras preciosas, uma peça muito rara avaliada em cerca de 330 mil euros; e um candeeiro Tiffany antigo, vendido nos Estados Unidos, mas anunciado por um vendedor europeu.

Em Portugal, o artigo mais caro foi vendido em 2020, foi um Porsche 911 de 1968 por 90 mil euros. Este ano vendemos outro automóvel — um Mercedes — um Mercedes-Benz 190 SL vendido por 73 mil euros.

Quanto ao mais barato vendemos muitos artigos por um euro. Os nossos leilões começam sempre em um euro. Se não houver preço de reserva nem licitações, o artigo será vendido por um euro.

É correto afirmar que a Catawiki está a crescer em volume de negócios, mas ainda opera com prejuízo operacional ajustado?

Sim. Estamos a crescer consistentemente a dois dígitos. O primeiro semestre deste ano não foi tão forte, mas o segundo semestre de 2024 foi muito forte para nós. O EBITDA é positivo nos últimos 12 meses. Isto significa que o último trimestre de 2024 foi rentável e todos os trimestres deste ano até agora foram rentáveis.

A Catawiki tem resultados líquidos positivos? Qual é o valor?

Apresentaremos lucros este ano. Divulgaremos os resultados de 2025 por volta de maio ou junho de 2026. Mas posso já adiantar que não apresentaremos prejuízos este ano. Em 2024, os resultados líquidos foram negativos em 4 milhões de euros.

Portugal contribuiu para isso?

Sim. Aumentámos o volume de negócios sete vezes desde que começámos em Portugal, em 2016.

A Catawiki ainda investe em marketing e tecnologia? Qual o investimento anual?

Estamos a investir em talentos — estamos a contratar agora e a crescer rapidamente. Investimos para tornar a plataforma melhor a cada dia.

Cerca de 70% do nosso negócio anual provém de compradores que regressam — pessoas que compram o seu segundo lote. Por conseguinte, oferecemos uma ótima experiência ao cliente e queremos garantir que a mantemos à medida que crescemos.

Qual a base de custos?

Analisando a nossa base de custos, se somarmos a receita de 105 milhões de euros ao prejuízo de 4 milhões de euros, o custo total é de 110 milhões de euros. O marketing faz parte disso, mas também estamos a expandir a nossa presença em vários países.

Em quantos países está presente a Catawiki?

Recebemos compradores de quase 60 países em todo o mundo. As pessoas em 60 países podem comprar e vender artigos na Catawiki, incluindo os EUA e a Ásia.

Mas cerca de 80% do nosso negócio vem dos “seis principais” países da Europa Ocidental: Holanda, Bélgica, Itália, França, Península Ibérica e DACH (Alemanha, Áustria e Suíça).

Existem planos de expansão para outros países?

Sim. Em primeiro lugar, acreditamos que ainda há mais negócios a fazer aqui. Portugal está a crescer fortemente e continuará a crescer a um ritmo ainda mais acelerado. Por isso, vamos concentrar-nos nos mercados da Europa Ocidental. Mas também estamos de olho na Europa de Leste, nos países nórdicos e no Reino Unido.

A nossa prioridade é a Europa — só depois olharemos para além dela.

Há planos para abrir um novo centro de operações?

Para já, vamos manter os dois centros que já temos.

Quando se tornou o líder da Catawiki?

Entrei na empresa em 2017 e tornei-me CEO em 2018, seis meses depois. Estes procedimentos — vendedores verificados, revisão especializada, aprendizagem automática e algoritmos, segurança de pagamento e equipas de conformidade — fazem da Catawiki uma plataforma segura.

Quais são as metas financeiras da Catawiki para 2026?

Continuar a crescer a dois dígitos. Todos os meses, temos quase 10 milhões de visitantes no site. Queremos que este número cresça em mais mercados e em mais países.

Estamos a investir em marketing para que mais pessoas descubram e experimentem os leilões da Catawiki. Também estamos a investir para melhorar a experiência do cliente. Ainda não temos números específicos porque precisamos de apresentar os resultados de 2025, mas posso afirmar que o forte crescimento de dois dígitos vai continuar, os investimentos vão continuar e já somos uma empresa rentável.

Como pode a IA apoiar os negócios da Catawiki?

O coração da nossa empresa é a perícia humana. Nenhum outro marketplace tem curadores que analisam cada item do leilão. Somos os únicos que o fazem — e não queremos perder isso.

Mas continuaremos a usar a IA porque os nossos especialistas trabalham muito bem com a tecnologia. Têm todas as ferramentas para aprovar tantas peças e lidar com tantos artigos. Portanto, a IA vai ajudar-nos — mas não é o principal motor do negócio.

Em Portugal, cada comprador gasta em média 1.500 euros por ano no Catawiki — um valor considerável. Cada vendedor, por sua vez, vende normalmente 3.000 euros em artigos. Os vendedores profissionais em Portugal vendem quase 60 mil euros em produtos por ano. São números expressivos e estamos satisfeitos com o progresso alcançado e queremos dar-lhe continuidade.

O que pensa de Portugal?

Adoro o país. Em oito anos, conheci quase toda a Europa. Sou natural da Índia e trabalhei na Índia, em Singapura e agora na Europa — o meu terceiro destino.

Depois de experimentar vários locais na Europa, os meus destinos favoritos são a Costa del Sol, em Espanha, e o Algarve, em Portugal. Visito Portugal com frequência.

Adoro a tranquilidade das pessoas, a cultura, o património e o sol.

Estamos muito satisfeitos com o negócio que estamos a desenvolver em Portugal e com o talento que aqui encontramos. Há uma energia muito positiva.


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