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CEO do Banco Montepio: “Relação com o nosso acionista é boa e de total transparência e colaboração”

Em entrevista ao Jornal Económico para rubrica “o Decisor da semana”, Pedro Leitão explica o caminho feito para a recuperação da instituição financeira.
30 Dezembro 2024, 07h00

Pedro Leitão exerce as funções de CEO do Banco Montepio desde 9 de janeiro de 2020, tendo sido reconduzido a 25 de julho de 2022 para o triénio 2022-2025. Acumula a presidência executiva da instituição financeira com o lugar de membro do conselho geral da AEM – Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado e de membro do conselho fiscal da Oeiras International School.

O Banco Montepio tem base mutualista, tem cerca de 230 balcões e emprega perto de três mil pessoas. Chegou a ser forte alvo da pressão mediática que envolveu sobretudo a sua acionista Associação Mutualista Montepio Geral. A chegada de Pedro Leitão à presidência executiva acalmou a situação, o banco foi alvo de uma reestruturação e deu a volta aos resultados, passando de prejuízos a lucros e entregando dividendos à acionista.

A 13 de dezembro, a agência de notação financeira Fitch Ratings subiu o rating dos depósitos (Long-Term Deposits) do Banco Montepio para o nível de investimento (investment grade) de BBB- e o da dívida sénior não garantida (senior preferred) para BB+, acompanhando desta forma as notações já atribuídas pela Moody’s e DBRS.

Em entrevista ao Jornal Económico, sublinha o orgulho no caminho feito. “Demos a volta”, afirma.

Melhoria do risco, capitalização e rentabilidade do Banco Montepio levou as agências de rating a subirem a notação financeira do banco. É algo de que se orgulha? O que falta fazer no Montepio?

Sim, orgulho-me muito do caminho percorrido pelo Banco Montepio. Quando cheguei, em 2020, encontrámos um banco com desafios significativos. A prioridade era, e continua a ser, a estabilidade e a confiança, e posso afirmar com satisfação que demos a volta. Conseguimos uma reestruturação profunda, recuperámos a rentabilidade, limpamos o balanço, passamos de prejuízos a lucros e, este ano, retomamos uma prática que estava interrompida há 12 anos e distribuímos dividendos aos acionistas.

A recente subida do rating pela Fitch Ratings, que se junta às notações atribuídas pela Moody’s e DBRS, confirma que este é o caminho certo.

No entanto, esta é uma missão em permanente evolução, até porque os desafios enfrentados pela indústria são muitos e variados. Entre outros aspetos, temos que continuar a melhorar a nossa rentabilidade (ROE), que precisa de atingir dois dígitos, e reduzir o rácio de eficiência (custos/proveitos), que ainda se encontra na vizinhança dos 50%. Estas são as nossas metas para os próximos anos, e envolvem a contínua otimização de processos, foco na inovação e gestão eficiente de recursos.

Como é que um banco que era visto como “o próximo a cair”, depois do BES e do Banif, conseguiu dar a volta? Qual foi o segredo para pôr o Banco Montepio nesta rota de lucros e de rating?

O Banco Montepio tem um papel incontornável na sociedade portuguesa, onde pontifica a sua génese mutualista e o compromisso com os seus clientes. A crise de 2020 desafiou-nos a repensar os nossos modelos de operação e a nossa estratégia, e a verdade é que a boa governação, a eficiência operacional e a gestão rigorosa dos riscos foram as principais chaves do nosso sucesso. Enfrentar os problemas de frente pode ser desafiante e há medidas que exigem coragem e determinação. Apostámos na simplificação da estrutura, na inovação e na modernização, com um investimento significativo em tecnologia, a fim de melhorar a eficiência, a experiência do cliente e os processos internos. Mas acima de tudo, as nossas pessoas mostraram resiliência, dedicação e capacidade de adaptação. O foco e o trabalho em equipa foram determinantes.

O Banco Montepio reportou em setembro um rácio de NPL (malparado) de 2,6% comparando bem com os seus concorrentes. O que foi preciso fazer para “limpar” o banco?

A redução do rácio de NPL para 2,6% demonstra a eficácia da nossa estratégia de gestão de riscos e de recuperação de crédito. Este processo envolveu uma profunda reestruturação de várias áreas do banco e uma atuação proficiente e determinada, onde a coordenação entre equipas foi determinante.

Pode confirmar que o programa de ajustamento de pessoal está concluído, ou a IA e a digitalização não permite dar por concluído esse processo?

O programa de ajustamento de pessoal está concluído.

O Banco Montepio tinha algum atraso em relação aos concorrentes, palavras suas, recuperou o tempo perdido?

Sim, identificámos alguns atrasos em relação aos nossos concorrentes em áreas como a digitalização e eficiência. Trabalhámos arduamente para colmatar esses atrasos, e os resultados são evidentes.

Antes de ser CEO do Banco Montepio foi Chief Digital Officer do Banco Atlântico Europa. Essa experiência foi importante para o cargo que desempenha de CEO? Disse recentemente que encontrou um banco com “algum atraso” na digitalização e que quando o chegou o maior investimento que fez (a seguir à folha de salários) foi o investimento em tecnologia e digitalização… O Banco Montepio apanhou o comboio da digitalização?

A digitalização é fundamental para a eficiência e a competitividade, e foi uma das minhas prioridades desde o primeiro dia. Podemos dizer que o Banco Montepio apanhou o comboio da digitalização, e até o ajudou a acelerar o seu percurso.

 O que é foi mais difícil para si neste processo? E o que foi mais recompensador?

O mais desafiante foi o processo de reestruturação. Tivemos de tomar decisões difíceis, mas necessárias para garantir a sustentabilidade do banco. O mais recompensador é ver hoje o Banco Montepio forte, rentável e a dar um contributo positivo para a economia portuguesa.

Tem mais de 27 anos de experiência no setor bancário, iniciou a sua carreira em 1995 no Banco BPI onde integrou a Direção de Banca de Empresas. Em 1997 entrou no BBVA onde desempenhou várias funções até ser nomeado diretor Comercial Adjunto para a área de Lisboa e, em 2001, ingressou na Deloitte onde trabalhou 11 anos em consultoria, na área de Financial Services. Em 2011 ingressou no Banco Millennium Atlântico como membro do conselho de administração e administrador executivo e, em 2016, como membro da comissão executiva, Chief Digital Officer do Banco Atlântico Europa, mas é um dos CEO menos conhecidos dos portugueses. Essa discrição é opção ou calhou acontecer assim?

A minha carreira tem sido focada nos resultados e no trabalho em equipa. A discrição é consequência da minha prioridade em focar-me naquilo que considero importante: o sucesso das equipas e da instituição que lidero.

Se alguém perguntar quem é Pedro Leitão, o que diria? Quais são os seus hobbies, o que faz quando não está a recuperar o “atraso” do Montepio?

Diria que sou um gestor bancário dedicado à sustentabilidade e ao sucesso do Banco Montepio. Nos meus tempos livres, gosto de passar tempo com a minha família, ler e praticar desporto.

Considera-se um gestor ESG (referente a temas ambientais, sociais e de governança, na sigla inglesa)?

Sim, considero-me um gestor ESG. A sustentabilidade, a governança e a inclusão social são pilares fundamentais para o sucesso a longo prazo de qualquer organização, incluindo o Banco Montepio. O prémio New Champions Awards 2024, do Fórum Económico Mundial, demonstra esse compromisso.

Pergunta polémica: como é que a política do mérito se compatibiliza com a exigência de haver igualdade de género e “diversidade”?

A política do mérito e a igualdade de oportunidades não são incompatíveis. Pelo contrário, a diversidade enriquece as equipas e contribui para melhores resultados. Acreditamos numa política de mérito justa e transparente, onde todas as pessoas têm oportunidade de demonstrar o seu potencial, independentemente do seu género, origem ou outras características.

Como é que é hoje a relação do Banco Montepio com a acionista a Associação Mutualista?

A relação com o nosso acionista de referência, a Associação Mutualista Montepio Geral, é boa e de total transparência e colaboração. Trabalhamos em conjunto para garantir o sucesso a longo prazo do Banco Montepio.

Onde vê o Banco Montepio num contexto em que os bancos tenham de se fundir para ter dimensão europeia?

Acredito que o Banco Montepio está bem posicionado para enfrentar os desafios do futuro. A consolidação do setor é uma possibilidade, mas não uma prioridade. A nossa estratégia está focada no crescimento orgânico e na rentabilidade sustentável, assente em características únicas de diferenciação.

O que pensa das recomendações de Draghi para a Europa em termos de dimensão das empresas e dos bancos europeus?

As recomendações de Mario Draghi para a Europa são pertinentes e merecem uma análise cuidada. Em todos os domínios e também sobre a evolução do sistema bancário europeu, não só sobre eventual consolidação, mas também sobre os vários ângulos do acelerado crescimento da regulação vis-à-vis outros blocos estratégicos. Neste momento, urge ir além dos diagnósticos e colocar energia e determinação na ação e execução – só isso poderá fazer a diferença na vida dos europeus e das empresas europeias.

Acreditamos que o Banco Montepio, com a sua atual estrutura e a estratégia bem definida que tem em curso, tem condições para competir com sucesso no mercado europeu, independentemente de eventuais consolidações.

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