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Cessar-fogo na Ucrânia: Moscovo acusa Kiev de tentar sabotar acordo

Segundo Dmitry Polyansky, representante russo na ONU, o seu país está totalmente pronto para um cenário militar de resolução do conflito na Ucrânia, mas prefere resolvê-lo por meios diplomáticos. Cimeira dos Dispostos ocorrem em Paris esta quinta-feira.
27 Março 2025, 07h00

As autoridades de Kiev estão a tentar sabotar os acordos de paz firmados entre a Rússia e os Estados Unidos, uma vez que mantêm ativos os seus ataques a infraestruturas energéticas russas, o que mostra a sua falta de comprometimento, disse o primeiro representante permanente adjunto da Rússia na ONU, Dmitry Polyansky.

“Kiev, tendo concordado verbalmente com o cessar-fogo às infraestruturas energéticas, continua a planear e executar ataques a essas infraestruturas da Rússia, tentando enganar-nos e aos Estados Unidos dessa forma. É absolutamente claro que, por meio de tais ações, está a tentar sabotar quaisquer acordos de paz e demonstra claramente a sua falta de comprometimento”, disse numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia, citado pela agência TASS.

Segundo o diplomata, a Rússia está totalmente pronta para uma solução militar do conflito na Ucrânia, mas prefere resolvê-lo por meios diplomáticos. “Hoje, graças aos esforços dos presidentes da Rússia e dos Estados Unidos, há uma possibilidade real de que esse acordo seja diplomático e que dezenas, se não centenas de milhares de vidas de ucranianos sejam salvas. Claro, o cenário militar continua em cima da mesa. E também estamos prontos para a sua implementação. Mas preferimos paz e diplomacia”, enfatizou Polyansky.

Entretanto, e ao mesmo tempo que a Casa Branca celebra o cessar-fogo no Mar Negro, especialistas contactados pelo jornal ucraniano Kyiv Independent dizem que o que foi decidido em Riad não é aquilo de que a Ucrânia precisa: o acordo não tem garantias essenciais que a Ucrânia precisa urgentemente, incluindo a proteção dos seus portos contra ataques russos, bem como a abertura do porto bloqueado de Mykolaiv. O acordo negociado pelos EUA e pela Rússia tende mais a favor de Moscovo. “Definitivamente não é o que a Ucrânia precisa”, disse Serhiy Vovk, diretor do Center for Transportation Strategies, uma consultora de Kiev. “O que precisamos urgentemente é a proteção da nossa infraestrutura portuária contra mísseis e drones, mas não há uma única palavra sobre isso na declaração da Casa Branca.”

Desde o início da invasão, a Rússia danificou ou destruiu 385 instalações portuárias. Os portos em Odesa, a última região portuária operacional da Ucrânia, sofreram ataques em média de três em três dias de janeiro a fevereiro de 2025. A Rússia também bloqueia o porto de Mykolaiv desde 2022, um dos maiores portos marítimos do país. Depois de a Rússia sair do Acordo dos Cereais do Mar Negro, mediado pela ONU e pela Turquia em julho de 2023, os militares da Ucrânia criaram a sua própria rota comercial pelo mar, o que constituiu uma tábua de salvação para a economia do país – permitindo que navios de carga naveguem com segurança pelas costas da Bulgária e da Roménia, escoltados pela Marinha Ucraniana.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, disse, citado pelos jornais ucranianos, que a Rússia violaria o novo acordo se movesse os seus navios de guerra para o lado oeste do Mar Negro. “Se a marinha russa regressar a Sebastopol, à Crimeia, teremos muitos riscos em relação, por exemplo, à nossa iniciativa antiminas conjunta, onde tentamos desminar as nossas rotas marítimas em parceria com a Bulgária, Turquia e Roménia.” Os EUA e a Rússia passaram pelas negociações sem os seus aliados europeus à mesa, apesar das preocupações dos países do Mar Negro, como a Roménia e a Bulgária, de que a frota russa poderia dominar o Mar Negro novamente. Esses países também devem ser incluídos nas negociações para sua segurança, disse Vovk.

Entretanto, Zelensky chegou a Paris para uma reunião com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, disse o porta-voz do governo ucraniano, Serhii Nykyforov. Espera-se que os dois presidentes discutam garantias de segurança para a Ucrânia antes de uma cimeira da chamada “Coligação dos Dispostos” – um conjunto de cerca de 30 países que estão dispostos a ajudar a Ucrânia e onde não estão, por exemplo, os Estados Unidos ou a Hungria, e cuja liderança é disputada em versão “soft” entre Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer.

A cimeira ocorre esta quinta-feira em Paris e, em 27 de março, reunirá Alemanha, Polónia, Reino Unido e outros membros da coligação que se comprometeram a apoiar a segurança da Ucrânia no pós-guerra. A iniciativa foi apresentada pela primeira vez por Keir Starmer durante uma cimeira em Londres, que aconteceu pouco depois de uma cimeira semelhante em Paris.

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