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CGD está a vender Mercedes para atingir metas da recapitalização

Campanha de crédito “imbatível” está a chegar por email a clientes. Banco justifica com metas “extremamente exigentes”. E diz que não está a promover o endividamento, pois clientes acederiam na mesma a outras opções de financiamento do mercado.
11 Maio 2019, 10h00

A Caixa Geral de  Depósitos (CGD) está a enviar emails a clientes do banco público para vender a crédito automóveis da marca Mercedes-Benz Classe A. A campanha é apontada como “imbatível”  com rendas mensais de 331 euros a 72 meses e foi lançada no início desta semana, dirigindo-se a todos os clientes da Caixa, independentemente do envolvimento financeiro. Em breve vai estender-se também a empresas para venda de furgões comerciais da mesma marca.

Ao Jornal Económico fonte oficial do banco público  justificou  a campanha com necessidade de atingir “metas  extremamente exigentes decorrentes do plano de recapitalização acordado com as autoridades Europeias”. Um plano que levou à injecção de capital de cinco mil milhões de euros e que obrigou a CGD a implementar um plano estratégico até 2020 que prevê objetivos ao nível da eficiência (redução de custos operacionais em 20% até 2020) e rendibilidade com uma rentabilidade dos capitais próprios (RoE) acima dos 9%.

Fonte oficial da CGD assegura agora que para atingir as metas do plano de recapitalização “tem de atingir níveis de rentabilidade que, face ao enquadramento conhecido do nível das taxas de juro, passa necessariamente pela concessão de crédito, preferencialmente numa lógica de longo prazo”. E avança que a campanha de leasing automóvel termina a 30 de junho.

Emails começaram a chegar a clientes no dia 22 de abril

Os emails da campanha de venda de automóveis Mercedes começaram a chegar, no início desta semana, à caixa de correio electrónico dos clientes da Caixa com a seguinte mensagem, a que o JE teve acesso: “apresento-lhe uma Campanha exclusiva de leasing automóvel, com condições únicas de mercado para aquisição do automóvel Mercedes-Benz A 180 d”.

Logo de seguida são apresentadas as condições de financiamento, começando por enunciar o preço de venda ao público de 29.750 euros (IVA incluído) sem entrada e entrega inicial, detalhando a seguir que as rendas mensais são de 331 euros, o  prazo de 72 meses, o valor residual é de 25% (7.437,50 euros) e com spread  de 1,5% e taxa indexada à Euribor 12 meses (cálculo a 360 dias). Na mensagem é ainda referido que as cores disponíveis do automóvel são o branco, preto e vermelho.

O JE questionou a CGD sobre o objectivo desta campanha, tendo fonte oficial do banco liderado por Paulo Macedo realçado que “a Caixa para se manter viável procura essa lógica de longo prazo na relação com os seus clientes”. Justifica, assim, que “esta campanha, além das restantes soluções que ativamente tem em comercialização, serve claramente esse propósito”.

O JE procurou também saber se esta campanha é dirigida com depósitos a prazo, à ordem, e com créditos à habitação, tendo a mesma fonte explicado que  destina-se “a todos os clientes, independentemente do envolvimento que tenham com a Caixa”. Segundo a mesma fonte, a campanha tem como alvo “todos os clientes da Caixa que tenham capacidade para suportar, sem qualquer stress financeiro, a prestação apresentada”.

Sobre o número de clientes que já manifestaram interesse ou aderiram a esta campanha, fonte oficial da CGD recorda que só foi lançada na segunda feira, pelo que apenas com a contratação efetiva das operações o banco  terá informação.

Campanha só com Mercedes e vai estender-se a empresas

A Caixa confirma ainda que esta campanha só tem prevista a compra de automóveis da marca Mercedes e apenas para o modelo Classe A e na configuração pré-definida. Explica que não abrange outras marcas porque o objetivo é ter “uma única oferta, totalmente fechada, de fácil comunicação e perceção da proposta de valor pelos clientes”.

De acordo com a mesma fonte, a concentração numa única marca e modelo permite a negociação de um preço mais reduzido para a viatura em questão. “Preço esse que, aliado à excelente solução de financiamento, torna a oferta em campanha muito competitiva”, realça. A CGD acrescenta que “considerando outras marcas e com as infinitas configurações permitidas, tornava-se impraticável o desenho de uma campanha com estes contornos: simples e imbatível”.

Quanto à escolha da marca Mercedes e o âmbito do acordo  com a Caixa, o banco sinaliza que para o sucesso desta campanha havia que ter uma oferta de valor apoiada em três vetores: preço de venda da viatura, solução de financiamento associada e “componente aspiracional“ do automóvel selecionado.

“Pensamos ter atingido um bom ponto de equilíbrio, pois o Mercedes Classe A sendo um modelo de entrada de gama nos veículos ligeiros da Mercedes, é muito recente e está a ter grande aceitação no mercado, aliado à sua reconhecida qualidade”, explica fonte oficial, acrescentando que com esta campanha foi possível obter um preço de venda a que “muitos clientes poderão aceder”.

Segundo a Caixa, o âmbito do acordo vai passar também por solução para as empresas, um furgão comercial, cuja campanha irá também ser lançada em breve. “Podemos adiantar que terá igualmente condições excecionais e constituirá um excelente apoio da Caixa aos pequenos negócios”, conclui a mesma fonte.

CGD rejeita estar a promover endividamento

O JE questionou ainda a CGD se não considera contraditório que o banco público esteja a promover o endividamento dos seus clientes, numa altura em que o endividamento da economia está a subir, mas fonte oficial rejeita esta acusação.

“Não, pois 80% do crédito ao consumo não é realizado pelos bancos, sendo este mercado dominado por operadores que atuam diretamente junto dos pontos de venda”, começa por explicar, dando conta de que no caso do crédito ao consumo a Caixa detém uma quota de mercado residual de 4%. Percentagem, diz, “muito abaixo da sua dimensão relativa de mercado”, tendo o banco se focado nos últimos anos essencialmente no crédito à habitação e nas operações de médio e longo prazo para as empresas.

A CGD entende, assim, que enquanto banco público “não está a promover o endividamento dos seus clientes, pois com as opções existentes no mercado, os clientes acederiam na mesma a outras opções de financiamento caso a Caixa não ocupasse parte do espaço junto da sua base de clientes, que acabaria por ser perdido”.

Sobre esta eventual perda de base de clientes, a mesma fonte realça: “E isso não faz nenhum sentido – especialmente, recordamos, se se considerar que também está obrigada a atingir patamares de rentabilidade e a ter uma atuação em concorrência de mercado, pressupostos exigidos para que a recapitalização realizada não tivesse sido considerada ajuda de Estado”.

Neste caso concreto, a Caixa defende ainda que a configuração do financiamento em regime de leasing com um spread de apenas 1,5% que, diz, é “muito reduzido para este tipo de contratos”, salientando que o banco “está antes a proporcionar uma excelente opção de financiamento para as necessidades de aquisição de automóvel, permitindo assim um esforço financeiro aos seus clientes bastante inferior quando comparado com as opções habitualmente disponibilizadas no mercado”.

Artigo publicado na edição nº 1986, de 26 de abril, do Jornal Económico

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