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CGD prepara venda até ao fim do ano de 250 milhões de crédito malparado a particulares

Paulo Macedo, anunciou que vai desencadear a venda de um novo portfólio de crédito malparado no valor de 250 milhões de euros até ao fim do ano. O presidente da Caixa disse ainda esperar que a Comporta seja vendida ao consórcio Vanguard/Amorim.
  • Cristina Bernardo
31 Outubro 2018, 07h43

Depois de em outubro a Caixa Geral de Depósitos ter fechado a venda de uma carteira de empréstimos a empresas em incumprimento, no valor de 825 milhões de euros (valor bruto) à Bain Capital, Paulo Macedo anunciou que até ao fim do ano vai pôr à venda uma carteira de crédito a particulares no valor de 250 milhões de euros.

“Até ao fim do ano esperamos concretizar mais uma venda de uma carteira de crédito a particulares, essencialmente, de cerca de 250 milhões, o processo está a seguir os seus trâmites”, disse o CEO da Caixa na apresentação de resultados do terceiro trimestre.

No relatório e contas do primeiro semestre é dito que o Conselho de Administração da CGD estava a finalizar a negociação de um contrato de venda de créditos do segmento corporate, “cujo valor nominal em dívida em março de 2018 (data de cut-off da transação) ascendia a 854 milhões de euros”. “Esta carteira [de 854 milhões de euros] incorpora operações no valor de 214 milhões de euros, as quais em junho de 2018 já se encontravam abatidas ao ativo”, acrescentava o banco.

Reestruturações de crédito, recuperação, ou venda deste tipo de ativos é essencial para a CGD.

Paulo Macedo destacou na apresentação de resultados a melhoria da qualidade dos ativos, com redução do rácio NPL (non-performing loans) para 9,6% (considerando a venda de carteira de malparado já concluída em outubro, sem isso o rácio de NPL seria de 10,5%) e o reforço do nível de cobertura. Bem como a manutenção do baixo custo do risco de crédito que se situou em 0,26% (anualizado). “A imparidade de crédito líquida foi de 116 milhões de euros no terceiro trimestre”, disse o CEO da CGD.

Paulo Macedo favorável à venda da Comporta ao consórcio Amorim/Vanguard

A venda dos ativos do Fundo da Herdade da Comporta foi apelidado por Paulo Macedo de “um assunto muito sério, que a Caixa está a acompanhar com muita atenção”. Paulo Macedo elogiou a assinatura do acordo da Gesfimo com o consórcio Amorim/Vanguard/Port Noir.

“A Caixa registou com satisfação a assinatura desse acordo com a Sociedade Gestora [Gesfimo]”, disse Paulo Macedo que acrescentou que é preciso ainda que esse acordo seja aprovado em assembleia de participantes. “O que vamos fazer é ter a certeza que os interesses da Caixa são defendidos. Ou seja, não é alguém que venha impugnar ou fazer qualquer espécie de ato menos adequado no sentido de prejudicar o desenvolvimento dos credores e do próprio desenvolvimento do projeto”, disse o CEO da CGD.

O Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado que tem os ativos da Herdade da Comporta tem 119,4 milhões de dívida à CGD (à qual não paga juros há quatro anos). O Fundo foi criado há cerca de cinco anos, com o objetivo de arrancar com dois projetos turísticos — Comporta Links e Comporta Dunes. São estes os ativos imobiliários que estão à venda.

“Posso dizer que registámos com satisfação o primeiro passo, e que estamos a seguir muito atentamente uma operação juridicamente complicada, e portanto tencionamos conversar com todas as partes, temos vindo a conversar com todas as partes para ter a certeza que chegamos a bom porto e se não for possível tirar daí as devidas consequências porque isto é uma operação bastante delicada”, disse.

“A expetativa é que a venda da Comporta se faça e que não se embrulhe num imbróglio jurídico”, reforçou.

O consórcio Amorim/Vanguard/Port Noir assinou na semana passada o contrato de promessa de compra e venda que terá de ser ratificado em Assembleia de Participantes (detentores de unidades de participação do Fundo), no próximo dia 27 de novembro.  A Sociedade Gestora do Fundo, Gesfimo, terá de comunicar ainda ao Ministério Público e Tribunal Central de Instrução Criminal os termos deste acordo, dada a situação do Fundo da Herdade da Comporta que é maioritariamente detido pela Rioforte (em liquidação) e Novo Banco.

Rating e prioridades de Paulo Macedo

O presidente do banco destacou na apresentação de resultados a subida do rating da Moody’s em dois níveis de Ba3 para Ba1 em outubro. Num ano a CGD viu o seu rating subir em três níveis (em fevereiro a Moody´s tinha subido em um nível o rating). A redução de NPL é condição sine qua non para o banco passar a um rating de investment grade, o que é essencial para a CGD poder fazer algumas operações, como passar garantias, passar cartas a confirmar créditos documentários, aceitar certo tipo de depósito.

Essa é uma das grandes prioridades da CGD, disse o seu presidente, “porque há muito negócio que a Caixa não faz, designadamente o apoio às empresas portuguesas, por não ser investment grade“.

A primeira prioridade da CGD é cumprir o seu plano estratégico e esta é a segunda.

A esperança numa subida de rating é alimentada pelo o outlook positivo atribuído pela agência de rating ao banco do Estado.

Ao nível dos imóveis detidos para venda houve em setembro uma evolução considerável que se traduz numa redução de 147 milhões o que prespetiva uma aceleração da desalavancagem destes ativos não core. Em junho o banco tinha 979 milhões de euros de imóveis para venda, com cobertura de imparidades de 44%. Em setembro o valor de imóveis para venda era de 832 milhões (45% de cobertura por imparidades).

A Caixa tinha qualquer coisa, direta e indiretamente, como 20 mil imóveis (número apurado por entidade externa) e tem de libertar esses imóveis, disse o CEO do banco. Estes imóveis já estão pelo valor de mercado, e são vendidos ao valor de mercado, disse o banqueiro.

No ano passado, de janeiro a setembro, o banco vendeu 2.100 imóveis por 182 milhões de euros. Este ano, nos primeiros nove meses, a CGD vendeu 3.800 imóveis por 290 milhões. O objetivo é ir substancialmente aumentando a vendas destes ativos não bancários, até ao valor de ativos de 500 milhões, disse. Nesta lista de imóveis estão os recebidos em dação em cumprimento e outros imóveis que são do banco.

O banco liderado por Paulo Macedo, que já disse que vai acabar com a tradicional caderneta por razões de segurança, anunciou ainda que é líder em número de utilizadores de internet banking.  A tradicional caderneta vai ser substituída pela caderneta digital.

“O número de clientes ativos, através de plataformas digitais, sejam elas internet banking ou a própria app de acesso ao Caixadireta, atinge já, ao fecho de setembro, 1,55 milhões de clientes em Portugal  (1,99 milhões em termos de grupo consolidado. O número de acesso através de smartphone é já superior ao número de acesso através de browser“, disse o CFO do banco, José de Brito, na apresentação de resultados.

“Há cerca de 300 mil clientes que acedem diariamente à Caixa através de canais digitais”, adiantou o administrador. Já na app Caixadireta o banco tem 610 mil utilizadores.

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