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Chega avança mesmo com moção de censura ao Governo

Em causa estão “suspeitas de promiscuidade político empresarial ou de potencial conflito de interesses” relacionadas com um negócio da família do primeiro-ministro. Partido Socialista também pede mais explicações a Luís Montenegro mas não acompanha iniciativa de André Ventura.
O deputado do Chega, André Ventura, no final da eleição para o presidente da Assembleia da República, que sucederá a Augusto Santos Silva, que falhou a eleição pelo círculo Fora da Europa nas últimas legislativas, na Assembleia da República em Lisboa, 26 de março de 2024. TIAGO PETINGA/LUSA
18 Fevereiro 2025, 13h04

Depois dos ultimatos feitos ao primeiro-ministro, o Chega avança mesmo para uma moção de censura ao Governo, iniciativa que será chumbada, já que não contará com o voto favorável do PS. André Ventura ameaçou avançar com este instrumento se Luís Montenegro não desse de viva voz explicações sobre o caso da empresa dos seus familiares, que tem suscitado polémica. Esgotado o tempo dado por André Ventura, o Chega avança com a moção de censura sabendo já que está condenada ao fracasso.

“A imagem de Portugal volta a ser beliscada por polémicas que atingem o XXIV Governo Constitucional. Se até aqui os problemas surgiam pela mão de governantes diversos, desta vez é o próprio primeiro-ministro quem mancha a reputação e a imagem do país, tanto interna, como externamente”, refere o texto da moção de censura do Chega, que considera “preocupante a tendência dos membros do Executivo em obter benefícios através da legislação”.

Intitulada “Pelo fim de um Governo sem integridade, liderado por um primeiro-ministro sob suspeita grave”, a moção de censura apresentada por André Ventura lembra a polémica que levou à demissão do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, governante que apresentou a demissão por ter constituído duas empresas do ramo imobiliário dias antes da aprovação da lei dos solos, legislação para a qual contribuiu e da qual o negócio poderia alegadamente tirar partido.

“A polémica agora envolve diretamente o primeiro-ministro de Portugal porque a sua mulher e os dois filhos têm uma empresa de compra e venda de imóveis, da qual Luís Montenegro foi fundador e gerente”, refere o texto da moção, assinalando que o Chega exigiu uma “explicação cabal e esclarecedora” ao primeiro-ministro, que pudesse “de forma definitiva acabar com as suspeitas de promiscuidade político empresarial ou de potencial conflito de interesses”.

Como a “explicação nunca foi dada”, nem foram “detalhados os dados importantes da situação relativos, por exemplo, aos clientes daquela empresa, a natureza das atividades desempenhadas ou a respetiva faturação”, o Chega entende que “estamos perante suspeitas gravíssimas de incompatibilidade no exercício de funções públicas”.

De acordo com o Correio da Manhã, a mulher e os dois filhos do primeiro-ministro têm uma empresa de compra e venda de imóveis, de que Luís Montenegro foi fundador e gerente e uma vez que casou com comunhão de adquiridos. Segundo o noticiado, o primeiro-ministro poderia beneficiar dos proveitos, o que foi negado por Luís Montenegro.

Já esta terça-feira, o mesmo jornal acrescenta que a empresa em causa contraria o código de conduta do Governo, segundo o qual  a Spinumvira, nome da empresa da família do primeiro-ministro, terá de ser extinta, suspensa ou a compra e venda de imóveis terá de ser eliminada do seu objeto social. Luís Montenegro, por seu lado, reafirmou, por escrito, que “não há nenhum conflito de interesses”, e garantiu que não realizou negócios com entidades públicas.

O secretário-geral do PS, comentando o assunto em declarações aos jornalistas, pediu mais explicações ao primeiro-ministro sobre o caso que considera ser “muito semelhante” ao do secretário da Administração Local, Hernâni Dias, que se demitiu do Governo depois de terem sido suscitado um eventual conflito de interesses entre o governante que participou na elaboração da lei dos solos e a constituição de duas empresas do ramo imobiliário. Apesar disso, Pedro Nuno Santos disse ser “óbvio que o PS não anda atrás das iniciativas do Chega”, considerando também que a moção de censura serve apenas para “desviar as atenções”.

 

A empresa de Montenegro

A Spinumvira foi criada em 2021 pelo atual primeiro-ministro, com o objetivo de consultoria para os negócios e outra consultoria para a gestão. A sede da empresa é na residência do casal Montenegro, em Espinho.

No ano em que foi fundada a empresa fechou com uma faturação de 67 mil euros, valor que subiu para 718 mil euros em três anos.

Apesar de a ter fundado, Montenegro deixou renunciou à sua gerência e deixou de ser sócio a 30 de junho de 2022, antes de assumir a liderança do PSD. Altura em que a empresa passou a ser gerida pela sua mulher, Carla, e pelos seus dois filhos.

Ao comando da empresa, a mulher de Luís Montenegro, pediu para alterar o objeto social da empresa, onde passou a incluir na compra e venda de bens imobiliário a aquisição de imóveis para revenda. Este pedido deu-se dias depois de Montenegro assumir funções como primeiro-ministro.

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