O primeiro-ministro Luís Montenegro teceu críticas ao PS e elogiou o Chega quando questionado sobre o parceiro preferencial do Governo para o diálogo, de acordo com mensagem transmitida na entrevista ao programa “Política com Assinatura” da “Antena 1”.
Para Luís Montenegro, que reagiu ao facto do PS ameaçar romper com o Governo, os socialistas “não estão habituados a ser oposição” e que, por outro lado, o Chega “está a começar a mostrar” maior responsabilidade.
Recusando a existência de um parceiro preferencial ou exclusivo para o diálogo, o primeiro-ministro considera que o segundo partido mais representado no Parlamento “está normalizado há muito tempo”; quanto ao PS, Luís Montenegro faz um apelo: mostre “humildade democrática neste novo tempo político”.
“Nós estamos no primeiro mês da legislatura, esta semana o PS ameaçou uma rutura com o governo. Mas alguém percebe uma dramatização, uma radicalização destas no PS, até contrária à linha política que era mais expectável hoje da atual liderança? Eu próprio fico assim um bocadinho surpreso”, afirmou, admitindo que também já passou por “momentos muito difíceis” dentro do seu partido.
Confrontado com as críticas de que o PSD está a normalizar o Chega, Montenegro respondeu: “Eu acho que o Chega está normalizado há muito tempo na vida política portuguesa”, afirmou, recordando alguns diplomas aprovados na passada legislatura com os votos deste partido e do PS.
“Não é uma coisa nova, quando o Chega vota com o PS é normal, quando o Chega vota com o PSD já não é normal, somos nós que o estamos a normalizar?”, questionou.
Na entrevista conduzida pela jornalista Natália Carvalho, Montenegro enquadrou a afirmação que fez na semana passada de que PS e Chega são ambos “alternativas de Governo”, salientando que têm “uma representação equivalente, similar”.
“É assim na democracia, quem fica ofendido com isto está no fundo a ficar ofendido com a vontade do povo português, e eu isso não faço”, assegurou.
Já sobre qual dos partidos considera mais confiável, disse ter por princípio “não desconfiar de ninguém” e esperar de ambos “espírito construtivo”, embora reiterando que o PS tem “um histórico de maior fiabilidade, de maior capacidade de diálogo democrático, de maior responsabilidade política”.
No entanto, acrescentou que o Governo conta com a responsabilidade que o Chega “pode vir a mostrar, que ainda não mostrou até agora, está agora a começar a mostrar”.
“Não me custa nada dizê-lo, está a começar a mostrar agora, vamos ver se se mantém, vamos ver se isto é sol de pouca dura, se é apenas um fogacho ou se é uma trajetória consistente”, disse.
Sobre o PS, defendeu que “não vai sobreviver nos próximos anos à conta da história que teve nos 50 anos anteriores” e considerou que este partido “não está habituado a estar na oposição”, depois de governar 23 anos dos últimos 30.
“Isso habituou mal o PS, e o PS deve ter a humildade democrática de saber estar na oposição”, apelou.
Montenegro disse ter “fundada expectativa que os dois maiores partidos da oposição” possam viabilizar o Orçamento do Estado para 2026 e apelou a que PS e Chega não se voltem a unir para, por exemplo, aprovar um aumento permanente das pensões.
“Foi uma linha que o ano passado se ultrapassou e que espero que seja mesmo uma exceção, porque isso coloca em causa as condições de governabilidade e é uma irresponsabilidade”, assinalou, considerando que o país só tem condições financeiras para ir avaliando, anualmente, a possibilidade de um bónus pontual aos reformados, como voltará a acontecer em setembro.
Sobre as contas públicas, Montenegro defendeu que a distribuição feita pelo Governo só tem sido possível graças a uma gestão orçamental de “muito rigor” e garantiu que fará tudo para que Portugal não volte a períodos de desequilíbrio, destacando que a situação do país é considerada exemplar a nível europeu.
Questionado se tal significa uma homenagem ao ex-primeiro-ministro do PS António Costa, preferiu destacar o seu antecessor do PSD: “É uma homenagem que presto a Pedro Passos Coelho e aos governos que, desde então, perceberam que o equilíbrio das contas públicas não é o fim da política governativa, nem financeira, e muito menos económica, mas é um pressuposto”.
Em matéria internacional, o primeiro-ministro admitiu que o Governo “não está satisfeito” com a primeira versão do Orçamento comunitário, antevendo “meses intensos de negociação”, e reconheceu que as tarifas dos Estados Unidos podem ter “impactos significativos” em Portugal.
Ainda assim, defendeu ser necessário “seguir uma linha de prudência” e rejeitar “ímpetos mais precipitados”, como uma retaliação imediata, preferindo uma coordenação a nível europeu.
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