Depois do período de assistência económica e financeira, tutelado pela troika CE/BCE/FMI, entre 2011 e 2014, os últimos anos têm sido marcados pela recuperação dos resultados das empresas, cujos níveis de rendibilidade se aproximam dos valores médios históricos.

Diversas categorias profissionais têm vindo a ser recompensadas pela resiliência, pelo cumprimento dos seus deveres profissionais, pelo zelo e pelo brio que colocaram no desempenho das suas obrigações. A título de exemplo, tal é o caso dos professores, enfermeiros, pilotos e pessoal de cabine, entre outros. E como estão os bancários?

Os trabalhadores bancários são um dos baluartes da classe média e sempre estiveram do lado da solução e nunca do problema. Com elevado sentido de responsabilidade, os sindicatos que os representam sempre procuraram, e continuam a procurar, promover o emprego e a estabilidade sectorial. Infelizmente, importa lembrar, nos últimos anos este sentido de responsabilidade não tem sido percebido pelas entidades empregadoras como algo importante e a ser mantido.

Os bancários perderam, entre 2010 e 2018, mais de dez pontos percentuais de poder de compra, isto considerando apenas a erosão provocada pela inflação. Estamos a falar de dez pontos percentuais de poder de compra sem contar com o “enorme aumento de impostos” decretado pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, em 2012, e sem contar igualmente com o acréscimo dos impostos indirectos, nem com o aumento do custo de habitação nas cidades, ou com os aumentos nos preços dos combustíveis.

Às diminutas ou inexistentes actualizações salariais, o Grupo Negocial das Instituições de Crédito (GNIC) subscritoras do Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) do Sector Bancário, numa deriva que rompeu com um consenso social de décadas, denunciou o ACT do sector, promovendo mais ainda o embaratecimento do trabalho bancário. Juntando tudo, se compararmos com 2010, os bancos hoje têm menos 20% a 30% de trabalhadores, mas menos 30% a 50% de custos laborais.

Ora, se uma prolongada crise pode explicar alguma coisa, pouco aceitável é o faz-de-conta com que o GNIC tenta entreter as Federações Sindicais do Sector Bancário. O mês de Outubro está prestes a chegar e o GNIC continua preso a uma concepção que vê os trabalhadores como um custo e não um activo precioso.

O GNIC insiste em ignorar os resultados positivos, em crescendo, dos bancos, ou a redução dos níveis de crédito vencido ou em incumprimento. Igualmente importante, o GNIC ignora que as equipas de gestão têm vindo a recuperar as suas remunerações pré-crise.

Naturalmente, o esforço e a competência devem ser recompensadas. O mérito das equipas de gestão merece ser premiado, mas também o dos trabalhadores bancários, o que não tem acontecido, tanto no caso dos quadros e técnicos bancários, em particular, como dos trabalhadores bancários, em geral.

Importa recordar que nos dias muito difíceis, entre 2011 e 2014, os trabalhadores bancários se mantiveram inquebráveis nas suas funções, arrostando com a fúria de clientes lesados por algumas práticas de gestão que, no mínimo, foram imprudentes, quando não criminosas. Práticas, convém deixar muito claro, às quais os trabalhadores bancários foram alheios.

É neste contexto de grande “amor à camisola” e de exigências legais e profissionais em crescendo que se percebe mal a posição do GNIC. Em cima da mesa está a proposta dos sindicatos de uma actualização, em linha com a inflação esperada, de 1,4% da remuneração mensal efectiva (RME), uma actualização de cerca de 3,5% das diuturnidades e do subsídio de almoço, e uma proposta para que os bancos criem fundos de pensões complementares aos existentes, com uma contribuição definida por parte das entidades empregadoras e facultativa para os trabalhadores.

Como se verifica, trata-se de uma proposta muito razoável, que procura que neste ano de 2018 os bancários não percam poder de compra, que começa a resolver o tema das reformas muito baixas a que estão condenados os bancários admitidos antes de 2009, e que procura, por via das diuturnidades, demonstrar solidariedade para com os actuais reformados bancários.

Uma proposta tanto mais razoável se se tiver em linha de conta que este ano os principais bancos a operar em Portugal vão apresentar lucros, como um todo, e crescimentos na ordem dos 40% e 60%. Mais infeliz ainda nos parece a proposta do GNIC que, passados estes meses todos de negociações, propõe um aumento de 0,75% sobre a remuneração base (não a RME) e não quer discutir o tema das reformas paupérrimas e de eventuais soluções para as mitigar.

Alguns destes bancos, note-se, são meras sucursais de bancos espanhóis que acordaram aumentos, no país vizinho, de mais do dobro do que é ‘oferecido’ em Portugal. Por acaso isto é revelador de uma postura negocial séria?

Sejamos claros. Chega de faz-de-conta. Os trabalhadores bancários, como se procurou transmitir, merecem ser tratados com respeito e consideração pelo GNIC. Chegou o momento de dizer basta!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.