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China: “O capital que entra é sempre bem-vindo e é sempre útil”

Em entrevista ao Jornal Económico, Bruno Bobone, considera que Portugal deve continuar a atrair investimento asiático para promover o desenvolvimento de grandes projetos.
  • Cristina Bernardo
15 Abril 2019, 07h49

Portugal não deve rejeitar o investimento chinês, que “é sempre bem-vindo e é sempre útil”, admite o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone, considerando que será particularmente importante para investir no desenvolvimento de projetos na futura “grande” plataforma marítima portuguesa.

O mercado asiático continua a ser um mercado pouco interessante para as empresas portuguesas em termos de investimento local. Como é que os empresários abordam o mercado asiático?

Os empresários portugueses começaram uma campanha de internacionalização muito forte. Naturalmente, começaram pelos países onde têm mais facilidade de integração – os países que culturalmente se aproximam mais da nossa maneira de estar e de viver. A verdade é que, em cinco ou seis anos, não conseguimos abarcar o mundo e, portanto, não podemos ter a expectativa de os empresários irem para o mundo inteiro e de se estabelecerem no mundo inteiro. Por outro lado, no caso da China, ainda é mais complicado, porque a China, cada vez que compra, compra a produção inteira de Portugal e ainda lhe sobram espaços para ocupar nas prateleiras do supermercado. Portanto é muito difícil que nós, no momento em que estamos, chegarmos à China e conseguirmos dominar. Estamos bastante presentes, a nossa presença é maior do que podemos pensar. Há muita empresa portuguesa a desenvolver-se para esse lado do mundo. Mas temos de dar tempo aos portugueses. Não se pode exigir que quem tomou uma atitude, ao fim de cinco anos, já tenha dominado o mundo, quando temos dez milhões de habitantes e em número de empresas, então, somos muito menos.

Portugal, como membro da União Europeia, deve ter receio do investimento chinês?

Não, acho que não deve ter receio de nenhum investimento. Acho que deve ter reguladores capazes de garantir que, independentemente da origem do capital investido, vão cumprir com aquilo que nós queremos que cumpram. Temos de deixar ter medo e assumir a nossa responsabilidade. Não há que ter medo nenhum do capital que entra. O capital que entra é sempre bem-vindo e é sempre útil.

Onde será possível captar investimento para gerir a futura grande plataforma marítima portuguesa?

No mar, onde estamos à espera do aumento da plataforma continental, se não tivermos investimento estrangeiro não vamos ser capazes de desenvolver nem um projeto. E se tivermos medo capital estrangeiro que não seja europeu, não vamos conseguir desenvolver nenhum projeto. Temos é de criar competências para sabermos comandar os nossos interesses e os nossos projetos e garantir que aquilo que para cá vem é para nosso benefício e não para benefício de terceiros.

Como é que é possível gerir uma área tão grande quanto a da plataforma atlântica?

Da mesma maneira que fizemos o projeto dos Descobrimentos: integrando. Durante os Descobrimentos, Portugal teve um problema de dimensão populacional e teve de criar uma política de integração. E foi isso que criou o nosso império. E foi isso que deixou uma qualidade de povos extraordinária pelo mundo fora, originados pela miscigenação dos povos. Portanto, temos essa referência. Primeiro precisamos de um grande investimento, como foi feito nessa altura. Temos de procurar os recursos mais atuais, para avançarmos na investigação mais desenvolvida e com a tecnologia mais avançada. Para isso precisamos de investir numa boa universidade do mar a nível mundial, onde toda a gente queira estudar, sendo nós a fonte do grande desenvolvimento da educação, da formação e da ciência. Em segundo lugar, temos de desenvolver competências de liderança e de negociação para que possamos ir buscar ao mundo os recursos de que precisamos para investir, as tecnologias que precisamos para integrar, mas mantendo-nos à cabeça dos projetos que venham a ser desenvolvidos no nosso país. Se fizermos isso com a nossa capacidade de integração, poderemos ter sucesso. Se não fizermos, teremos uma área que vai ser pura e simplesmente abandonada e que um dia nos vão tirar porque, naturalmente, não teremos direito a ela.

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