A balança comercial chinesa atingiu os 273 biliões de dólares (na denominação norte-americana), ou 240,4 biliões de euros, no primeiro trimestre, o que representa mais 100 biliões de dólares (88 biliões de euros) face ao excedente do primeiro trimestre do ano passado, de acordo com os dados da ING, entidade que opera no setor dos serviços financeiros.
“Estamos à espera que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China no primeiro trimestre avance 5,3% face ao ano anterior, podendo ser mesmo o mais forte crescimento do ano, exceto se houver uma reviravolta brusca em termos de condições externas e estímulos internos mais fortes do que o esperado”, considera a ING.
As exportações chinesas tiveram um crescimento de 12,4% em março, face ao período homólogo, e subiram 2,3% até fevereiro, quando comparado com o ano anterior, avança a ING. No primeiro trimestre, as exportações aumentaram 5,8% face ao período homólogo.
“Por destinos, as exportações para os Estados Unidos subiram apesar das tarifas aplicadas ao fentanil de 20%. Os dados indicam um crescimento de 4,5% no primeiro trimestre e de 2,3% nos primeiros dois meses do ano. Os importadores devem ter previsto aumentos de tarifas em abril e, por isso, aproveitaram para fazer as importações antecipadamente. Além do mais, as isenções tarifárias para encomendas que já estavam em trânsito devem suportar os dados que apontaram para um crescimento das exportações da China para os Estados Unidos”, refere a ING.
Para o destino ASEAN (nações asiáticas), as exportações chinesas aumentaram 8,1% no primeiro trimestre, suportadas pelo “forte crescimento” do Vietname, Tailândia e Indonésia. As exportações para a Índia cresceram 13,8% e para a América Latina subiram 9,6%. As exportações para a União Europeia aumentaram 3,7%, para o Japão cresceram 2,8% e para a Coreia desceram 1,7%.
Por produtos, a exportação de semicondutores da China aumentou 10,8%, as aplicações para o lar cresceram 8,7% e os monitores LCD tiveram um incremento de 8,4% no primeiro trimestre. Contudo, o calçado desceu 11,2% e o segmento de roupa caiu 1,9%, refletindo “tarifas que entraram em vigor mais cedo”, sublinha a ING. As exportações de terras raras caíram 10,9% em termos homólogos, com o “aumento dos controlos” ao nível da exportação.
“Os dados de março eram altamente antecipados, com os mercados a procurarem os primeiros sinais sobre os impactos das tarifas. Os dados mostram que, em termos gerais, as exportações mantiveram-se resilientes, mas as categorias que são facilmente substituíveis e sensíveis ao preço já sofreram impacto. Com tarifas de 145% a serem aplicadas à China, é provável que os dados dos próximos meses possam contar uma história dramaticamente diferente”, referiu a ING.
Importações caem na China
No que diz respeito às importações chinesas, estas caíram 4,3% em março face ao ano anterior e tiveram uma queda de 7% no primeiro trimestre em relação ao período homólogo.
“Por produto, o aumento da indústria automóvel doméstica, combinado com um consumidor mais consciente dos custos, resultou numa queda acentuada de 44,5% nas importações de automóveis no primeiro trimestre, face ao ano anterior. A continuada lentidão ao nível do mercado habitacional resultou em quedas nas importações de aço e de madeira de 10,5% e 9,7%, respetivamente”, refere a ING.
Contudo, as importações de alta tecnologia aumentaram 9,2%, enquanto os equipamentos de processamento automático de dados cresceram 85%. Ao nível da aeronáutica, o crescimento foi de 156,7%, o que pode refletir uma “antecipação de encomendas para evitar o impacto das tarifas”, salienta a ING.
ING alerta para perigos das tarifas
A ING refere que as medidas temporárias dos Estados Unidos no que diz respeito às tarifas sobre semicondutores, computadores e smartphones devem oferecer “algum alívio” aos exportadores. “Mas poderemos ver a antecipação de importações para tentar cancelar os aumentos das tarifas que Donald Trump já sinalizou”, acrescenta a mesma entidade.
“Contudo, o resto das exportações da China para os Estados Unidos, e também das importações norte-americanas para a China, vão agora colocar um teste, no mundo real, para as elasticidades dos preços”, sublinha a ING.
“Com o atual nível de tarifas, é provável que o comércio na maioria dos produtos que tenham alternativas mais viáveis em termos de outros mercados mundiais deva ser descontinuado”, refere a ING.
“É também provável que os produtos que não tenham alternativas viáveis possam sofrer uma queda temporária. À medida que os importadores se ajustem às tarifas e trabalhem nos seus inventários, antes de decidirem o que fazer com os novos stocks, é provável que o comércio entre os Estados Unidos e a China caia a partir de abril. Pode demorar vários meses até que haja respostas definitivas sobre que parte vai aguentar ‘mais dor’ devido a uma descida acentuada nas trocas comerciais”, afirma a ING.
A ING assinala que, como tinha defendido na semana passada, é provável que a China e os Estados Unidos estejam agora num teste de resistência. “Esperamos que as conversações sejam retomadas nas próximas semanas e meses. Muito tem sido feito em termos da descida da exposição dos Estados Unidos ao mercado da China nos últimos anos. Mas a redução do risco da China em relação aos Estados Unidos, com uma menor proporção de exportações para os Estados Unidos e menos empresas dependentes de fornecedores ou clientes norte-americanos, também encorajou os decisores políticos a retaliar”, salienta a ING.
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