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Ciberataques: Um fenómeno para ficar e que o contexto pandémico ajudou

Os seguradores ainda têm muito trabalho pela frente. Até perceberem como podem mitigar riscos e os segurados (clientes), terão de perceber que a proteção tem um custo.
19 Setembro 2020, 13h30

O que está por detrás dos ataques cibernéticos? As motivações podem ser políticas, religiosas ou outras, diz Jorge Tobias, responsável de Riscos Cibernéticos da Willlis Towers Watson. Descarta que tenha sido a pandemia a exacerbar esses ataques, embora existam exceções nesta leitura como foi o caso recente sobre a tentativa por parte de hackers russos de tentarem aceder a informação sobre o desenvolvimento de vacinas para a Covid-19 no Reino Unido. Ideia semelhante é defendida por Pedro Pinhal, diretor de Sinistros da MDS Portugal que afirma que “após o início da pandemia, assistimos a uma maior preocupação das famílias e empresas relativamente ao risco cibernético.

De facto, apesar da consciência para os riscos cibernéticos ser, ano após ano, cada vez maior, a atual pandemia elevou este tipo de riscos a um patamar nunca antes visto. E atingiu de forma transversal toda a sociedade, isto é, cidadãos, famílias e organizações, sejam elas de pequena, média ou grande dimensão. Esta maior preocupação tem fortes motivos para se verificar pois, como revelam os mais recentes dados, o número de incidentes em Portugal e no mundo tem assumido proporções nunca antes vistas. Por exemplo, segundo os dados mais recentes do Gabinete de Cibercrime da PGR, nos primeiros cinco meses deste ano tinham sido registadas mais 139% de denúncias de crimes cibernéticos do que em todo o ano de 2019!” E claro que a necessidade de reduzir o risco de contágio do vírus alterou a forma como se trabalha, como estudamos ou como comunicamos, tanto em casa como no trabalho. Todos nós nos tornámos fortemente dependentes dos sistemas informáticos. Diz Sjoerd Smeets, chief risk officer do grupo Ageas Portugal que a mudança do modelo de trabalho foi súbita e nem todas as empresas tiveram tempo de implementar os mecanismos de segurança adequados para os seus colaboradores.

Muitos destes nem estavam completamente cientes de todos os riscos cibernéticos. Smeets frisa que “os cibercriminosos estão a tentar explorar esta vulnerabilidade e o número de ataques de spam, phishing e malware está a aumentar muito (pelo menos em 35%). É crucial que todos estejam bem cientes dos riscos que correm, e que utilizemos a internet de forma mais responsável, com proteção e de forma a reduzir os riscos de ciberataques”.

A digitalização dos negócios, e da vida humana em geral, é a grande razão pela qual os ataques acontecem e têm um impacto brutal, diz Manuel Coelho Dias, Cyber Risk Specialist da Marsh Portugal. Acrescenta que “a partir do momento em que grande parte do valor de uma empresa se encontra digitalizado (sejam segredos de negócio, bases de dados de clientes, contactos de fornecedores, mas também a operação em si e a cadeia logística), os ativos digitais tornam-se uma camada de valor muito assinalável e apetecível aos criminosos. As grandes tipologias de eventos que têm afetado as empresas são os data breaches em que há mera extração das bases de dados, os ransomwares (nos quais pode ou não haver extração das bases de dados hackeadas), o spear phishing e as fraudes por engenharia social. De acordo com a informação coligida pela Marsh, CMS & Wavestone no The Changing Face of Cyber Claims Report, os ransomwares são a ameaça mais frequente na nossa carteira de clientes, mantendo uma tendência de subida muito assinalável nos últimos anos”.

E o que vai mudar? No seguros o novo foco está na proteção cibernética e potenciais coberturas para a interrupção temporária de negócios. No entanto, a maior mudança será na transformação digital, refere o mesmo gestor. E adianta que esta pandemia acelerou esse processo. Nas vendas, os canais digitais estão a ganhar relevância, mas também os canais mais tradicionais como os mediadores ou o canal bancário tiveram necessidade de se reinventar e apostar em ferramentas digitais como suporte ao negócio. Ao nível dos sinistros, os clientes não precisam de se deslocar a uma oficina para fazer a peritagem ao veículo em caso de acidente, podem fazê-la na comodidade da sua casa, garagem ou escritório. E nos seguros de saúde, os clientes começaram a utilizar soluções de telemedicina. Por sua vez, Manuel Moita de Deus, da NacionalGest, realça que quase se analisa o setor financeiro e a indústria seguradora em particular “há algo de fundamental e transversal: a total dependência da base de dados de clientes e a inexistência de produtos físicos em armazém”.

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