Nos últimos anos, o conceito de “transformação digital” alterou todos os aspetos da nossa vida. Desde o trabalho remoto à educação online, passando pela digitalização de serviços essenciais à democratização do acesso a tecnologias emergentes como GenAI e 5G, a nossa dependência das tecnologias digitais aumentou consideravelmente. Este movimento, claramente acelerado pela pandemia do Covid-19, agravou um problema sério: a escassez de profissionais de cibersegurança.

A falta de especialistas em cibersegurança é, no mínimo, alarmante. De acordo com o World Economic Forum, à data de hoje, existe uma escassez de cerca de quatro milhões de profissionais de cibersegurança, qualificados, a nível mundial. Esta escassez reflete-se inevitavelmente numa maior vulnerabilidade das organizações a ciberataques que, sem a implementação das medidas adequadas, podem trazer consequências devastadoras, e globais, como aquelas que ainda persistem na memória de todos. Proteger dados sensíveis e garantir a continuidade das operações, a sua resiliência, tornou-se numa necessidade crítica.

Portugal tem dado passos significativos para enfrentar este desafio. Exemplo disso são as iniciativas que têm sido implementadas pelo Centro Nacional de Cibersegurança, como a C-Academy, que oferece um programa de formação avançada em cibersegurança desenvolvido no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, mas a necessidade de uma colaboração mais intensa entre o setor público e privado é crucial.

Parcerias estratégicas entre empresas e instituições de ensino, entre as organizações do setor público e as empresas tecnológicas do setor privado, são fundamentais para formar a próxima geração de especialistas em cibersegurança.

O desenvolvimento de soft skills, como o pensamento crítico e a resolução de problemas complexos, é outro aspeto que não pode ser descurado, uma vez que a cibersegurança exige não apenas conhecimento técnico, mas também a capacidade de pensar de forma estratégica e criativa na mitigação dos riscos aos quais as empresas podem estar expostas.

Também a criação de programas de requalificação e formação contínua para profissionais de outras áreas ajuda a colmatar a lacuna de talento. Vejamos, por exemplo, a complexidade e criatividade exigida a um músico de formação, numa composição artística, que pode ter um improvável, mas enriquecedor, paralelismo com a complexidade do pensamento crítico e criativo que se exige aos profissionais de cibersegurança.

Esta abordagem inclusiva no recrutamento e na promoção da cibersegurança como uma carreira atrativa e acessível a todos é essencial. A diversidade de talentos não só enriquece a área como traz novas perspetivas e soluções inovadoras para os desafios da cibersegurança. A criação desta capacidade, especialização, diferenciação e conhecimento, não é um sprint, é uma maratona.

As consequências de não abordar de forma estrutural este problema, da escassez de talento de cibersegurança, são graves e podem levar a uma “pandemia digital” com impactos globais.

A crescente complexidade das ameaças cibernéticas exige uma resposta robusta e coordenada e, por isso, a formação de novos profissionais deve começar desde os níveis educacionais mais básicos. Precisamos de programas de certificação abrangentes, formação contínua e um esforço conjunto para atrair talentos diversificados para esta área. Só assim poderemos garantir um futuro digital seguro e resiliente para todos.