As crises que enfrentamos neste século, de natureza económica, financeira, social e política, com causas muito diversas, comportam também uma dimensão ética. Estamos perante uma crise de valores que abala a confiança dos cidadãos nas instituições.
Uma economia livre e plenamente humana requer que a sociedade se organize, com instituições fortes, que evitem perversões no funcionamento dos mercados e criem condições para um desenvolvimento equilibrado.
Necessitamos de um Estado capaz de garantir o bom funcionamento dos mercados, mas também de evitar as perversões que podem gerar; de promover objetivos sociais, sem bloquear a iniciativa individual; de combater a exclusão e a pobreza, agindo sobre as suas causas mais profundas e não apenas remediando os seus efeitos.
Não podemos esquecer que as instituições são formadas por pessoas. Somos todos e cada um de nós fator de sucesso ou insucesso da sociedade. É fundamental cultivar na sociedade os valores que podem sustentar um futuro melhor.
Valores éticos em primeiro lugar. Valores como a honestidade e a integridade, o espírito de iniciativa e de serviço público, o trabalho e o empreendedorismo, a criatividade, a responsabilidade, a solidariedade.
Temos de combater o nosso individualismo excessivo, que nos impede de juntar esforços em prol do bem comum. Tudo isto faz apelo ao civismo. Civismo entendido, de uma forma ampla, como cidadania.
A cidadania é muito mais que uma soma de direitos sociais, políticos e civis; ela é um modo de ser, uma implicação pessoal na construção da sociedade. Cidadania é ter a noção de que a sociedade é o que cada um de nós for, é a soma dos nossos pensamentos e das nossas ações.
Não nos podemos demitir da nossa participação na vida pública e queixarmo-nos, depois, por ela ficar capturada por quem dela se pretende aproveitar para atingir objetivos individuais, mais do que para servir o superior interesse público.
Temos de agir, defendendo as causas em que acreditamos, dizendo com clareza o que pensamos e apontando soluções, caminhos e metas.
Não nos podemos conformar com a repetição de diagnósticos e a persistência em soluções que já se demonstrou que dão mau resultado. A sociedade tem de ser abanada.
Não basta agirmos individualmente. Temos de ter a capacidade de olhar, criticamente, os problemas como membros de uma sociedade global. Mas temos também de ter a capacidade de trabalhar com os outros de forma cooperativa e de assumir responsabilidades ao nível dos papéis e deveres na sociedade.