Ensina o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:

“Cidadania: condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar na vida política. Na Grécia antiga, indivíduo que desfrutava do direito de participação na vida política da cidade, o que era vedado à mulher, ao estrangeiro e ao escravo”.

A participação na vida pública, entendida enquanto participação na vida da comunidade, é um traço essencial na caracterização da cidadania desde a Grécia antiga.

E se assim é, convém, a benefício de todos, que seja uma participação livre, consciente, formada e informada.

É obrigação de todos nós prepararmo-nos para o exercício desse direito, é obrigação da família para com os seus membros e é obrigação do Estado, através da Escola, dar as ferramentas para que cada um conheça a sociedade em que vive e que opções quer tomar.

Bem, ou mal, foi assim durante décadas, quer antes, quer depois do 25 de Abril.

Milhares de jovens estudaram Organização Política e Administrativa da Nação, e não há notícia que tenham ficado defensores do regime corporativo. Eu próprio, já em Democracia, tive, no Liceu, um professor de Introdução à Política que era membro do Comité Central da UEC e isso em nada determinou o meu posicionamento ou pensamento políticos.

Podem os jovens terminar o Ensino Secundário sem ter conhecimento da Constituição da República; sem saberem o essencial dos princípios e da estrutura da organização do Estado e da Administração; sem uma noção , ainda que aproximada, da organização do território; sem a noção dos valores que definem e são as balizas da nossa vida em comunidade?

Julgo que não.

Acontece que esta necessidade conhece hoje uma nova dimensão.

Pode o país ignorar que a diversidade da origem da nossa população, nomeadamente dos jovens, deve merecer uma actuação no sentido de todos partilharmos os mesmos valores fundamentais?

Alguém tem dúvidas que esta diversidade tende a aumentar nos próximos anos?

Com o respeito que a diversidade cultural nos deve merecer, não será obrigação do Estado dar a conhecer os princípios e valores da nossa sociedade?

Talvez a Escola tenha um papel a desempenhar na educação para a cidadania, para a tolerância na diferença, para a participação cívica, e, também, na criação de condições para que, na nossa diversidade, sejamos uma única comunidade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.