O exercício pleno da cidadania pelos indivíduos pressupõe um estado livre e o gozo pleno dos seus direitos, classicamente dos seus direitos civis e políticos. Quando assim não é os indivíduos não são cidadãos, são servos.

No momento em que Portugal perdeu Jorge Sampaio, é justo dizer que o seu legado mais marcante foi o seu permanente combate, e exemplo, para que cada um de nós pudesse ser verdadeiro cidadão.

Foi assim nas suas escolhas de jovem, foi assim no exercício do poder e na forma como o fez, continuou a ser assim, de forma marcante, nos últimos 15 anos.

Como disse o actual Presidente da República, referindo-se a Jorge Sampaio, “… No humanismo fundado numa ética de compaixão, de partilha e de serviço. Compaixão não condescendente, não sobranceira, não assistencial. Antes de identificação plena com o sofrimento, a privação, o abandono sem esperança. E, por isso, partilha integral e compromisso de serviço dos outros”.

A verdadeira cidadania constrói-se pela educação e pelo exemplo.

Quando os Direitos, Liberdade e Garantias, mesmo nas sociedades democráticas, estão ameaçados por fundamentalismos e radicalismos de diversa ordem, é obrigatório educar para a tolerância, para o respeito pelo outro na individualidade diversa de cada um, para o respeito e promoção da dignidade da pessoa humana.

Quando somos “assaltados” por uma aparência de informação – casuística, parcelar, enviesada –, é urgente educar para que cada um seja capaz de identificar as grandes causas da humanidade e bater-se por elas.

Só assim teremos cidadãos capazes de valorizar a pessoa humana, os seus direitos fundamentais, num ambiente de solidariedade e fraternidade com o seu semelhante.

Esta educação para a cidadania é uma das principais responsabilidades que a Escola Pública e os curricula aprovados não podem postergar.

E é também uma obrigação das instituições cívicas que pela sua força moral, credibilidade e exemplo dos seus membros, a sociedade respeita.

Trabalhos há que nunca estão concluídos e há combates que nunca estão ganhos em definitivo. A afirmação e vivência plena da cidadania e o respeito pela dignidade da pessoa humana são alguns deles.

Manuel Alegre escreveu, num tempo histórico diferente do que vivemos,

Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa
Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.

Tal como a obra literária é eterna, também o é a defesa e afirmação da cidadania.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.