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Cidade de fantasmas

Kleber Mendonça Filho recorda a casa onde cresceu e ainda vive no Recife, as metamorfoses da cidade e as suas grandes salas de cinema, que frequentou e desapareceram já quase todas, no documentário ‘Retratos Fantasmas’.
27 Agosto 2023, 18h30

Pouco depois do início do documentário Retratos Fantasmas, do brasileiro Kleber Mendonça Filho (O Som em Redor, Aquarius, Bacurau), o realizador mostra o que diz poder ser a fotografia de um fantasma, tirada por ele na sua casa do Recife, uma moradia dos anos 70 onde cresceu com a mãe divorciada e mora ainda com a família, e que já sofreu um par de alterações profundas (uma delas da responsabilidade do irmão, que é arquitecto). A casa, tal como o próprio Recife, onde Kleber nasceu, são duas das grandes protagonistas de Retratos Fantasmas. Embora os fantasmas que mais interessam no filme são os grandes cinemas da cidade, que ele frequentou e onde fez muita da sua educação cinéfila, por onde passaram várias gerações dos seus concidadãos e que já desapareceram quase todos, tirando o São Luiz, hoje uma sala pública.

Sucedeu no Recife aquilo que se passou em muitas grandes cidades de todo o mundo. O centro histórico, que foi outrora o coração da urbe – económico, comercial, cultural, social e de entretenimento – foi-se degradando, por razões diversas. E as pessoas, o dinheiro, os negócios, os pólos de diversão e a prosperidade mudaram-se para outra zona da cidade. Os cinemas que lá se encontravam não escaparam a essa degradação, tendo fechado, sido demolidos, ocupados por outras actividades (supermercados, igrejas evangélicas, centros comerciais) ou permanecendo fechados e a deteriorar-se pouco e pouco.

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