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Cientistas utilizam Twitter para medir impacto das alterações climáticas

À medida que a crise climática se intensifica e os desastres naturais se tornam mais frequentes, os cientistas estão cada vez mais dependentes das redes sociais para avaliar os danos e o impacto numa escala mais localizada.
10 Fevereiro 2020, 15h45

Através de publicações na rede social Twitter, os cientistas conseguiram fazer uma recolha de informações para medir a frequência de inundações menores e recorrentes – também conhecidas como inundações incómodas – ao longo das costas leste e do golfo dos Estados Unidos da América.

Num estudo publicado na revista “Nature“, foi constatado que esse tipo de inundação é mais comum em 22 municípios do que os dados oficiais sugerem. Esses municípios incluem grandes cidades como Nova York, Miami e Boston, que juntos têm uma população de mais de 13 milhões de pessoas, informa o documento.

Para o estudo, os cientistas analisaram cerca de cinco milhões de tweets entre março de 2014 e novembro de 2016, de contas localizadas em municípios ao longo da costa, que mencionavam palavras ou termos relacionados com inundações.

Para monitorizar a atividade no Twitter durante esta época, foi definido um “limiar notável” para quando este tipo de publicações ultrapassasse os 25%. Depois, compararam esses dados com os registos oficiais de inundações. No fim desse período, os cientistas registaram um aumento deste tipo de publicações na ordem dos 100% no centro de Nova Iorque e mais de 200% em Nova Jersey, por exemplo.

De forma mais detalhada, os investigadores concluíram que mais de metade dos tweets marcados como relacionados com inundações eram falsos positivos, o que significa que incluíam uma das palavras-chave, mas não eram realmente sobre inundações.

Ainda assim, Ali Mostafavi um dos investigadores deste caso, afirma que há um crescente apetite entre os cientistas do clima em usar dados das redes sociais – particularmente dados do Twitter, que são mais facilmente acessíveis aos investigadores do que o Facebook ou o Instagram – para preencher lacunas de informação depois de certos desastres naturais. Até agora, esse esforço inclui avisar antecipadamente sobre incêndios florestais emergentes e analisar fotos anexadas a tweets para identificar onde os serviços de emergência possam ser necessários.

Os investigadores observaram que, embora as inundações causadas por marés altas e tempestades já estejam a aumentar, estas devem-se tornar ainda mais frequentes e severas à medida que o nível do mar sobe globalmente.

“A extensão das inundações pode ser altamente variável dentro de uma pequena área geográfica, dependendo da topografia local”, explicaram os cientistas. Além disso, as consequências de níveis mais altos de água variam entre as regiões. Por exemplo, duas áreas podem sofrer a mesma quantidade de inundações, mas uma pode incluir uma estrada com um trânsito maior, enquanto a outra pode estar em terras agrícolas.

Dado o alcance geográfico do Twitter, bem como a natureza específica do volume e da localização dos tweets, a plataforma pode ser usada para rastrear “inundações costeiras incómodas que são mais regulares e menos consequentes”, justificaram os investigadores . Como consequência desse tipo de inundação que são inconvenientes e não mortais, estas nem sempre são medidas ou registadas.

Este não é o primeiro artigo académico a aproveitar-se do poder das redes sociais. Os autores apontaram para vários estudos anteriores que se baseavam nas nestas plataformas, incluindo um relatório de 2016 focado no uso das redes para aceder a danos causados por desastres e um artigo de 2019 que utilizava o Twitter para medir danos causados por terramotos.

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