O fenómeno da globalização registado nas últimas décadas teve como uma das suas consequências a significativa relocalização da produção de bens e prestação de serviços para mercados emergentes. A ascensão da China como uma superpotência transformou a paisagem económica, e as tecnologias de informação e comunicação assumiram uma importância determinante para a competitividade futura.

Como o mundo funciona de forma dinâmica, o movimento de globalização registou, apesar de tudo, um abrandamento com a crise de 2008 e com as subsequentes medidas protecionistas em alguns países, que acabou por ser acelerado pela pandemia fruto da disrupção observada em diversas cadeias de produção e abastecimento. Quando tudo apontava para uma retoma, mau grado a nuvem da inflação em finais de 2021, o conflito na Ucrânia veio lembrar-nos que as crises geopolíticas afetam as economias.

Neste contexto, podemos com alguma segurança identificar cinco macrotendências que estão a moldar, e vão continuar a moldar, o futuro das organizações:

1. Perante a polarização da economia e a deslocalização da força motriz global da economia para a Ásia, a União Europeia irá, provavelmente, favorecer políticas económicas e sociais abertas para assegurar a abertura aos mercados europeus e também à China, e desenvolver quadros regulamentares adicionais para proteger os seus interesses, designadamente, a promoção da concorrência, a privacidade e proteção de dados, a transição e independência energética e o combate às alterações climáticas.

2. As cadeias de abastecimento continuam o seu processo de adaptação para se tornarem mais resilientes e colaborativas, repensando as suas estratégias de aquisição, produção e distribuição, recorrendo a fornecedores e distribuição local e regional, tendo em consideração os princípios de sustentabilidade e as tecnologias disponíveis, como a automação. Dependendo da natureza das suas atividades, vamos ver um número cada vez maior de empresas a centralizar a cadeia de produção nos seus mercados de consumo. A crescente utilização da automação em muitos setores reduzirá a produção offshore em países de baixos salários, diminuindo substancialmente a dependência dos mesmos e aumentando a resiliência europeia a falhas futuras.

3. A luta contra as alterações climáticas é agora um fator de pressão em todos os setores económicos, que têm de se inovar e transformar para cumprir as metas de descarbonização. Portugal não é exceção e tem pela frente uma série de objetivos ambiciosos, traçados no Plano Nacional de Energia e Clima 2030. À medida que desenvolvem iniciativas para a descarbonização da sua operação, as organizações, independentemente da sua área de atividade, têm uma gama de potenciais soluções à sua disposição para estimular o crescimento económico, desde a digitalização de toda a sua cadeia de valor recorrendo à automação até ao armazenamento em cloud e à aplicação de inteligência artificial nos seus processos.

4. As alterações demográficas nos países da OCDE põem a descoberto a necessidade de resolver a escassez de mão de obra, incentivando todos os agentes económicos a repensar a formação e integração de populações sub-representadas no mercado de trabalho. Apesar do crescente investimento das empresas em tecnologia, a preocupação ao nível da escassez de recursos deverá manter-se

Segundo as estimativas da União Europeia, só em Portugal, deverão passar a existir 160 mil pessoas a trabalhar em TI em 2023, correspondendo a um aumento de 33% face aos 120,000 registados em 2020, colocando uma grande pressão sobre os custos, fruto da dificuldade em contratar. Esta dinâmica, associada aos novos regimes de trabalho remoto, sobretudo no espaço Schengen, também irá pressionar os mercados de trabalho com boa qualificação de recursos, mas onde os salários médios são mais baixos do que a média europeia e, obviamente, Portugal está nesta lista.

5. A aceleração digital está a criar uma mudança profunda e oferece muitas oportunidades de crescimento e inovação, mas também desafios crescentes ao nível da cibersegurança. É certo que os avanços tecnológicos geram inúmeras oportunidades de negócio em todos os setores de atividade, no entanto, trazem também desafios inerentes, como os crescentes casos de violação de dados e ataques de ransomware. Segundo previsões da IDC, 60% das principais empresas europeias irão aumentar em 20% os gastos anuais em resiliência cibernética para protegerem os seus ativos, até 2024. Em Portugal, a previsão é que as despesas das empresas com cibersegurança ultrapassem os 200 milhões de euros já este ano.

De acordo com os setores em causa, estas tendências poderão ter ritmos e relevâncias distintos, mas, acima de tudo, é essencial que as organizações se preparem para elas de forma a poderem responder com as melhores soluções em serviços e produtos e, assim, cumpram o seu fim de atender às necessidades dos clientes e cidadãos. Isso exige que compreendam o papel das novas tecnologias e saibam avaliar os seus benefícios e riscos. Neste âmbito, é fundamental valorizarmos mais a colaboração, a inovação e o alinhamento entre as áreas de negócio, operações e TI, de forma a gerar resultados transformacionais.

Por fim, muito especificamente para o nosso país, e face ao atual estado de implementação tecnológica a que se junta a escassez de profissionais nesta área, é fundamental reforçar o investimento, quer em tecnologias de informação, quer na qualificação de recursos humanos, que visem a melhoria da resposta das empresas e dos serviços do estado, como, por exemplo, a educação, saúde e transportes.

É crucial encontrar soluções que alimentem o mercado de trabalho nacional, e o das TIC em especial, de que é exemplo a revisão dos requisitos ou processos relacionados com a legalização de trabalhadores emigrantes qualificados para que, enquanto país, possamos responder aos desafios atuais e competir num mundo global.