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CIP avisa: Portugal pode ficar “irremediavelmente para trás” se perder oportunidade da reindustrialização

Uma posição defendida por Armindo Monteiro no encerramento da conferência “O Futuro é Circular”, evento organizado pelo Jornal Económico, em parceria com a Aquapor e a Central de Biomassa do Fundão, e que decorreu no ISEG. 
6 Maio 2025, 13h43

Armindo Monteiro, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), alertou esta terça-feira que Portugal pode “ficar irremediavelmente para trás” se não aproveitar esta fase da reindustrialização europeia para se tornar um país próspero com uma economia forte e uma indústria inteligente. Uma posição defendida por Armindo Monteiro no encerramento da conferência “O Futuro é Circular”, evento organizado pelo Jornal Económico, em parceria com a Aquapor e a Central de Biomassa do Fundão, e que decorreu no ISEG.

O responsável da CIP lembrou que o país foi perdendo, ao longo da História, várias apostas na indústria, a primeira das quais na altura dos Descobrimentos, quando optamos por produzir fora. Depois, perdemos quando assinamos o Tratado de Methuen, em 1703, em que nos comprometemos a comprar a Inglaterra o que precisávamos e a não desenvolver a nossa indústria forte. Mais tarde, quando a globalização acelerou, “a ideia de sermos pobres impediu-nos de irmos mais além” e no Processo Revolucionário em Curso (PREC) “combatemos a economia e voltamos ao nível zero”. Foi por isso apenas “nos últimos 50 anos que a economia em Portugal se desenvolveu”, contextualizou.

Ora, se ao perder todos estes momentos o país ficou “a quilómetros” dos restantes do continente europeu, agora podemos “ficar a distâncias absolutamente quânticas” se perdermos a nova oportunidade que a reindustrialização da economia da Europa nos coloca. A aposta deve ser numa indústria inteligente, na qual se enquadra a economia circular. “Esta indústria inteligente é feita no alvor da Inteligência Artificial (IA). E a IA não é uma abstração intelectual”, alertou também Armindo Monteiro, argumentando que o que a IA permite transformar hoje a economia “ou bem que estamos na primeira linha, e conseguimos acompanhar este desafio, ou vamos ficar irremediavelmente para trás”.

O presidente da CIP assinalou que o facto de Portugal estar na Europa “tem permitido que o fosso não seja tão grande” e, embora sejamos dos mais pobres do velho continente, “ainda assim, somos dos mais ricos do resto do mundo”. Mas isso “não chega”, defendeu, reforçando que Portugal tem que aproveitar esta oportunidade – este “despertar terrível que tivemos” de que não é “a interdependência que garante as nossas necessidades” – para “anular algumas vulnerabilidades que temos”.

Por isso, continuou Armindo Monteiro, “é o momento de também fazermos a reindustrialização em Portugal” e “se podermos fazê-lo da maneira correta, melhor ainda”. Para o responsável da CIP, fazê-lo da maneira correta significa discutir e apostar na economia circular, tema central da conferência organizada pelo JE. E a economia circular, por sua vez, não é feita sem compromisso e confiança, por um lado, e ambição, por outro, sustentou também.

“Na nossa sociedade temos muito pouca disponibilidade para fazer compromisso”, constata Armindo Monteiro, observando que isso resulta de não haver confiança na sociedade. “Os agentes não confiam uns nos outros, os agentes privados não confiam no Estado, o Estado não confia nos agentes privados, e com isso criam-se dificuldades legislativas que dificultam o desenvolvimento da economia”, lamentou, defendendo ser preciso construir confiança para termos um compromisso “para nos tirar do ponto onde estamos”.

Sobre a falta de ambição, Armindo Monteiro assinalou que, às vezes, os compromissos que temos “são tão redondos” que são “quase inúteis”. “Mesmo entre entidades patronais e sindicais, não é possível fazer qualquer acordo sem a intervenção do Governo”, mas esse compromisso seria necessário, acredita a CIP.

“Há partes da nossa sociedade que ainda considera que para conquistar algo é preciso retirar à outra parte, isso é próprio de uma discussão na revolução industrial. Hoje sabemos que alargando as fronteiras das possibilidades podemos ter uma economia maior” e, nesse caso, “podemos também distribuir mais a todos”. Ou seja, “os recursos não são exatamente aqueles que existem naquele momento, e isso é algo que não está exatamente entendido”, analisou.

Armindo Monteiro frisou durante a sua intervenção que construir uma economia circular é o “mais nobre” de todos os desafios da engenharia. “Para combater as alterações climáticas e a perda da biodiversidade, é necessário ir mais além das práticas ecológicas” que a sociedade em geral já conhece e perceber que a economia circular “cria valor” e conhecimento e acesso a bens e energia para todos. “Os recursos são finitos no nosso planeta, e de facto, nada se perde e tudo se transforma” e por isso, “este modelo económico requer cadeias de valor sinergéticas”, argumentou o presidente da CIP, deixando um repto: “É preciso que todos – os Governos, os legisladores, os académicos, os grupos de reflexão, os vendedores, os clientes – estejam com disponibilidade para construir uma economia de escala”.

“Esta mudança pode parecer avassaladora no início”, admitiu também, mas “estamos num daqueles momentos da história” em que há condições para construir um “país empreendedor” – porque as ideias empreendedoras existem, falta é a matéria e o ecossistema empreendedor, concluiu.

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