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“Clubes são usados para branquear proventos de origem ilícita”, alerta coordenador da PJ

Luís Ribeiro, coordenador da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, explicou, no SIGA FITS Forum 2025, que decorreu em Lisboa, as dificuldades com que se deparam nas investigações que têm como alvo os clubes portugueses. FPF diz ao JE faz a recolha e verificação de informação dos investidores.
5 Fevereiro 2025, 07h00

Os clubes em Portugal têm sido usados para branquear dinheiro com origem ilícita e essa é uma questão que está na mira das autoridades. A afirmação foi feita por Luís Ribeiro, coordenador da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária (PJ), no Forum Financial Integrity and Transparency in Sport (FITS) 2025, dinamizado pela Sport Integrity Global Alliance esta semana em Lisboa.

“Portugal não é diferente de outros países, quer seja na Europa ou fora do continente europeu, que tem uma preocupação relativamente aos temas do Proprietário Beneficiário Final, ou seja, de quem está efetivamente à frente dos destinos clubes”, começou por referir Luís Ribeiro questionado sobre este contexto em Portugal.

“Temos tido situações em alguns clubes com a entrada de capital claramente não identificado quanto à sua origem nem quanto aos objetivos de quem adquire um clube”, apontou. “Quando temos investidores que investem grandes quantias de dinheiro em clubes portugueses, é algo que nos chama a atenção, porque queremos saber o que os clubes querem fazer”, disse.

“É nossa preocupação quando temos dinheiro que circula nos clubes com origem pouco clara da origem desses montantes porque, infelizmente, os clubes são usados para branquear proventos de origem ilícita”, alertou.

Referindo-se aos direitos de imagem no contexto desportivo, este investigador sublinhou que os mesmos “funcionam como commoditie sem valor definido” e que a PJ depara-se com a saída de dinheiro dos clubes de forma que “não é percetível com pagamentos de comissões a intermediários sem grande clareza e valores sobrevalorizados para que haja uma imagem de algo licito, sem valores proporcionais e a caminho de contas offshore”.

Noutro tipo de situação, este coordenador da PJ revela que, no contexto dos clubes em Portugal, já se deparou com situações em que foram celebrados “contratos fictícios de prestação de serviços em que se percebe que aquele serviço já era faturado a outra entidade e em que o dinheiro voltava à esfera jurídica de alguém ligado a essa instituição”.

“Temos contratos sobrevalorizados ou fictícios, que servem apenas para justificar a saída de dinheiro e para permitir que o excedente reverta para outros fins. A partir de determinada altura, o dinheiro circula em numerário e como não fala, não se consegue perceber para que fim é que foi utilizado. Nada disto é exclusivo do desporto, acontece no sector público e privado”, concluiu.

Em reação ao JE, fonte oficial da Federação Portuguesa de Futebol considera que “estas declarações que abarcam clubes em Portugal e no estrangeiro, são uma verdadeira preocupação para a FPF”.

“A FPF dedica recursos para a recolha e verificação de informação relacionada com a identificação dos chamados “investidores” de todas as sociedades e clubes por si licenciados – sejam eles acionistas ou “testas de ferro” – e coopera ativamente com todas as autoridades com competências nesta matéria, designadamente com a própria Polícia Judiciária”, destaca fonte oficial da entidade.

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