[weglot_switcher]

CMVM: Só 28% da população portuguesa é investidora no mercado de capitais

Os principais resultados do estudo foram apresentados durante o seminário “Literacia sobre mercados de capitais em Portugal: diagnósticos e desafios”. O evento insere-se no programa de comemorações dos 30 anos da CMVM.
25 Maio 2021, 16h54

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) promoveu esta terça-feira, a propósito dos seus 30 anos, um debate sobre “Literacia sobre mercados de capitais em Portugal: diagnósticos e desafios”, a partir do resultado de um dos “mais completos estudos” realizados sobre literacia financeira especifica sobre mercados de capitais no país feito pelo Grupo de Trabalho da Comissão.

O trabalho de campo foi conduzido no final de 2020 e início de 2021, já no contexto de pandemia, e “os resultados serão um instrumento essencial no desenho de uma proposta de programa de literacia financeira”, diz a CMVM.

Esta é uma iniciativa da CMVM, financiada e contratada pela Comissão Europeia ao abrigo de financiamento comunitário dedicado à promoção de reformas estruturais nos Estados-membros.

Aproveitando o seminário online subordinado ao tema “Literacia sobre mercados de capitais em Portugal: diagnósticos e desafios”, em que participaram a Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira; o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa; e o Pierre Hausemer, Managing Director da Valdani Vicari & Associati, a consultora que liderou este trabalho e que fez a apresentação do inquérito, a CMVM divulgou os resultados do estudo sobre a literacia financeira relativa ao mercado de capitais em Portugal, o qual caracteriza o perfil do investidor e do não investidor nacional, nomeadamente as suas atitudes, comportamentos e conhecimentos financeiros. Este estudo apoiará a CMVM na sua estratégia de promoção da literacia em Portugal, diz a comissão.

O estudo concluiu que “o conhecimento financeiro tem vindo a aumentar ao longo do tempo” havendo uma melhoria na generalidade “desde o último inquérito em 2015, incluindo nas questões numérias genéricas e no conhecimento sobre investimento”, é referido no estudo “Financial literacy for investors in the securities market in Portugal”.

A iniciativa da CMVM foi apoiada pela Direção-Geral do Apoio às Reformas Estruturais (DG REFORM), da Comissão Europeia, ao abrigo de financiamento comunitário dedicado à promoção de reformas estruturais nos Estados-membros.

O estudo envolveu uma amostra total de 15.173 pessoas e decorreu entre 2020 e início de 2021, já no contexto da pandemia.

Na análise à literacia financeira, o primeiro capítulo foca-se nas atitudes e comportamentos dos portugueses face à gestão da poupança e dos rendimentos e despesas. O segundo foca-se nos conhecimentos financeiros. O terceiro foca-se nas atitudes e comportamentos nas decisões de investimento ou de não investimento, e o quarto foca-se na informação e perceção do funcionamento do mercado.

Os resultados do inquérito revelam, entre outras coisas, que apenas 28% da população portuguesa é investidor (8% já foi investidor) e 64% nunca investiu.

Depois conclui que existe uma correlação positiva entre as habilitações académicas e a propensão para investir (no entanto, apenas 14% da população tem nível de educação superior).

Outra conclusão é que quanto maior o rendimento auferido, maior a probabilidade de o inquirido ser ou ter sido um investidor no passado (no entanto, cerca de um terço tem rendimentos inferiores a 1.000 euros mensais).

O estudo expõe que a população feminina, sendo mais de metade da população portuguesa (53%), está sub-representada no grupo de investidores (57% são do género masculino)

Há ainda a destacar que mais de um terço dos entrevistados não poupou nos 12 meses anteriores e a percentagem da poupança permanece abaixo da média EU (7% em Portugal versus 11.96% na União Europeia).

Destaque ainda para o facto de liquidez e disponibilidade de rendimento serem as razões para deixar de investir e começar a investir, respetivamente (31% e 63%).

O estudo revela também que quase um quarto das respostas indicam que as pessoas não leem os documentos contratuais, porque confiam no consultor financeiro ou funcionário do banco (13%) ou porque não os consideram muito importantes (11%).

Há ainda apenas 18% dos inquiridos que responderam corretamente quando questionados sobre o que é capital garantido na maturidade.

Os programas de formação (49%), workshops e seminários (35%) são as iniciativas que os inquiridos mais recomendariam para aumentar a perceção dos concidadãos sobre os investimentos

No que toca à procura de informação o inquérito revela que a televisão ou rádio (46%) e a internet (43%) são os meios onde “os respondentes maioritariamente procuram informação sobre assuntos financeiros (sendo que o recurso à internet decresce com a idade)”.

Quanto aos investidores apenas 14% consulta relatórios divulgados por emitentes enquanto que 60% consulta informação na internet.

“O estudo, que envolveu uma amostra de 15.173 indivíduos representativa da população portuguesa por género, idade, dimensão da localização e geografia, foi conduzido entre final de 2020 e início de 2021 e já no contexto de pandemia. As questões colocadas no estudo incidiram sobre a caracterização do perfil do investidor em Portugal, a sua situação e atitudes financeiras, o conhecimento sobre questões financeiras e as fontes de informação utilizadas, entre outras. Os resultados deste estudo informarão um conjunto de iniciativas de literacia financeira focadas em dar resposta aos desafios identificados no decorrer deste trabalho”, explicou a CMVM.

O estudo é uma iniciativa da CMVM apoiada pela Comissão Europeia DG Reform ao abrigo de financiamento comunitário dedicado à promoção de reformas estruturais.

“Os resultados deste inquérito, um dos mais completos já realizados à literacia específica sobre o mercado de capitais, constituem uma ferramenta para o desenvolvimento de iniciativas de literacia financeira focadas em dar resposta aos principais desafios, num momento marcado por maior participação de investidores de retalho no mercado de capitais e pela acelerada digitalização das relações de investimento. São ainda elementos relevantes para a definição de opções de supervisão e comunicação”, diz a CMVM em comunicado.

A literacia financeira é assumida como fundamental “para o desenvolvimento de uma sociedade mais informada e para a tomada de decisões financeiras com melhor e maior conhecimento e para a confiança dos investidores. Estes são componentes fundamentais para o necessário contributo do mercado de capitais para o financiamento da economia e da retoma”.

A debater a literacia financeira, o seu desenvolvimento e desafios esteve Diogo Luís, consultor financeiro, Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, Celina Carrigy, secretária do Conselho de Administração da CMVM, Pedro Brito, moderador de um grupo sobre literacia financeira no Reddit, e Bárbara Barroso, CEO do Money Lab, com moderação de Helena Garrido, jornalista.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.