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CoLAB FeedInov arranca com 1,6 milhões para inovar na alimentação do sector pecurário

Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Ana Sofia Santos, diretora geral desta laboratório colaborativo do sector agroalimentar nacional, explica que um dos objetivos é fomentar a produção de rações animais a partir de fava, tremoço, insetos e microalgas, para substituir as importações de soja. O objetivo é reforçar a sustentabilidade, a neutralidade carbónica e a redução de importações para a alimentação animal do sector pecuário em Portugal.
11 Janeiro 2021, 07h35

O FeedInov é um dos cinco laboratórios colaborativos existentes em Portugal no setor agroalimentar. Um dos principais objetivos de atuação desta instituição para 2021 é o arranque da atividade do CoLAB FeedInov, para o qual a sua diretora geral, Ana Sofia Santos, já garantiu uma verba de 1,6 milhões de euros, esperando duplicar essa verba com outras fontes de financiamento durante os próximos cinco anos.

Como ponto de partida para os próximos cinco anos, o FeedInov terá 1,6 milhões de euros – entre capital publico e privado – mas estima conseguir a captação externa de valor igual ou superior, através de serviços empresariais prestados ao mercado, para reforçar a sustentabilidade, a neutralidade carbónica e a redução de importações para a alimentação animal do sector pecuário em Portugal.

No âmbito desta missão, está previsto que o CoLAB FeedInov crie 12 a 15 postos de trabalho altamente qualificados nas áreas da ciência animal, mas também das tecnologias inteligentes, visando o desenvolvimento da zootecnia 4.0, já em curso em Portugal.

Uma das causas que a Ana Sofia Santos defende é que se deve estudar a implementação de benefícios, não apenas fiscais, para os sistemas alimentares que contribuem para a neutralidade carbónica, ao invés de taxar os que agravam.

E um dos objetivos do CoLAB é reduzir a dependência externa portuguesa de cereais para rações. Atualmente, 80% das matérias-primas usadas para produzir são importadas. Recorde-se que as rações são o maior custo de produção da pecuária, entre 60 e 80%.

Estima-se que o reforço da colaboração institucional permitida pela existência do CoLAB FeedInov aumente a competitividade de Portugal face a outros Estados-Membros da União Europeia e na captação de financiamento competitivo a nível nacional e internacional para aplicar em investigação nestas áreas.

No primeiro ano de atividade do CoLAB FeedInov, ou seja, o presente ano de 2021, estás previsto que esta estrutura implementa diversas atividades-chave com um orçamento previsto de meio milhão de euros, desde estudos prospetivos do consumo de produtos de origem animal em 2030, 2040 e 2050 para orientar a ação da produção; e o estudo de substâncias naturais substitutas dos antibióticos, com vista à redução do uso destes na pecuária, contribuindo para a redução das resistências antimicrobianas nos humanos.

Está igualmente previsto o estudo de ingredientes alternativos aos usados atualmente na alimentação animal e que são maioritariamente importados, como é o caso da soja. Os ingredientes alternativos a estudar são, entre outros, insetos, microalgas e proteaginosas que são endémicas em Portugal, como a fava ou o tremoço, por exemplo, em variantes não adequadas ao consumo humano.

Ações de formação e ‘workshops’ regulares para disseminar o conhecimento entre os produtores, de acordo com as novas exigências das políticas europeias e das necessidades dos consumidores; o investimento no desenvolvimento de sistemas inteligentes para aumentar a eficiência da alimentação de precisão, o que reduz a utilização de recursos (água, por exemplo); e a aposta na comunicação e ‘marketing’ como uma atividade-chave do setor são outras missões do CoLAB FeedInov.

Esta última ação vai concretizar-se em duas vertentes: transmissão do conhecimento aos agricultores para apoio à tomada de decisão; e comunicação da ‘ciência agrícola’ à comunidade, desfazendo mitos e desinformação. Por exemplo, vários estudos já chegaram à conclusão que consumir uma quantidade reduzida de carne é mais benéfico para os solos do que eliminar completamente o seu consumo).

Entre as ações concretas de curto prazo, está programada a contratação de diversos recursos humanos, entre os quais cinco mestres em áreas de atuação do FeedInov – saúde e segurança alimentar, coprodutos e matérias primas alternativas, engenharia e tecnologia, competitividade e sustentabilidade, um diretor para a ciência e um técnico de comunicação, entre outros.

Ana Sofia Santos planeia ainda fazer ‘lobby’ para integrar consórcios internacionais com vista à candidatura a projetos europeus, nomeadamente no ‘H2020 GreenDeal’, a decorrer até janeiro de 2021, além do diagnóstico das necessidades de informação do setor com base em trabalho de campo nas fábricas.

O CoLAB FeedInov irá também elaborar três documentos técnicos – guias, códigos de boas práticas e manuais – para disseminar informação acerca da legislação em vigor e para alargar o âmbito de conhecimento dos agentes do setor, ao mesmo tempo que irá detalhar o portefólio de serviços a serem prestados ao mercado nas áreas de ensaios experimentais, análises laboratoriais e consultoria e formação, dentro e fora do consórcio.

Os resultados esperados destas ações do CoLAB FeedInov são a disponibilização de serviços técnicos de investigação e desenvolvimento em toda a cadeia de produção de alimentos para animais e na sua integração em sistemas de produção agrícola; o aumento da competitividade das empresas e uma maior notoriedade do setor e dos seus produtos com valorização e diferenciação do produto final no mercado nacional e internacional; e a criação de emprego qualificado e científico orientado para a inovação, nomeadamente através da formação avançada de recursos de I&D, MsD, PhD, e pós- Phd, com base em protocolos de cooperação, formação de técnicos, gestores e produtores, estágios técnico-profissionais, universitários e de investigação.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Ana Sofia Santos explica e detalha as tarefas que o CoLAB FeedInov tem pela frente.

Qual o objetivo da criação do CoLAB FeedInov?
Um dos grandes objetivos é trabalhar para uma alimentação animal sustentável, promovendo assim a competitividade deste setor e, por conseguinte, a competitividade de toda a fileira da pecuária. Naturalmente, tal situação irá estimular a criação de emprego altamente qualificado e gera um aumento do retorno económico e social. Tendo este objetivo, o FeedInov teria de ser e é, efetivamente, uma infraestrutura de ‘interface’ entre a comunidade industrial e as entidades de investigação e desenvolvimento (I&D). Este CoLAB é constituído por 18 parceiros entre os quais se encontra uma associação empresarial, três universidades, dois laboratórios associados, um instituto de investigação e onze empresas, todos focados na promoção da inovação, na difusão de tecnologia e criação/crescimento de novos negócios associados aos sectores de indústria da alimentação animal e da pecuária.

A combinação única de conhecimento e experiência em sistemas de produção e em nutrição e alimentação animal com tecnologias emergentes é o eixo principal deste CoLAB. A relação de proximidade entre os nossos parceiros de I&D com a indústria é uma das nossas maiores mais-valias, uma vez que conseguimos, unindo sinergias, ter capacidade única de Investigação Desenvolvimento e Inovação (I&D&I) na área da produção animal e, assim, inovar e disseminar soluções multidisciplinares para enfrentar os desafios atuais e futuros do setor. Aliás, perceber quais as tendências que orientam o futuro deste sector é um dos nossos objetivos mais operacionais. Com a realização de estudos prospetivos que nos ajudarão a perceber como estará o consumo de alimentos de origem animal em 2030, 2040 e 2050, conseguiremos ter uma ideia do que o futuro nos reserva ao nível do consumidor.

De referir, ainda, um terceiro grande objetivo estratégico, o de aumentar sistematicamente a segurança ao longo da cadeia alimentar nos produtos de origem animal, aumentando, também, a confiança do consumidor na produção nacional e o papel da indústria de alimentação animal na produção de produtos saudáveis, sustentáveis e ecológicos. É algo que já tem vindo a ser feito, mas o FeedInov pretende reforçar esta aposta estratégica.

Nos próximos cinco anos, o FeedInov terá 1,6 milhões de euros para operar, entre capital público e privado. Quais serão as fontes desses fundos e onde serão aplicados?
Este financiamento é proveniente de fundos nacionais e comunitários, desde logo, sendo um laboratório colaborativo, pode contar com um financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Depois, e por estar integrado neste tipo de instituições pode aceder a fundos do Alentejo2020 para contratação de recursos humanos altamente qualificados para laboratórios colaborativos, designadamente no que respeita ao domínio temático da competitividade e internacionalização. A grande fatia deste financiamento será aplicada na contratação de recursos humanos altamente qualificados. Até ao final da operação, que se prevê ter cinco anos, terão sido contratados entre 10 e 12 mestres e doutorados, instalados na Estação Zootécnica Nacional, em Santarém, onde está localizada a sede do FeedInov. O financiamento privado provém dos seus associados que efetuaram um investimento direto, como capital semente, no Laboratório Colaborativo. Este financiamento será aplicado em investigação tecnológica de inovação para o setor, respondendo aos seus desafios. Quando dizemos inovação tecnológica estamos a falar, por exemplo do desenvolvimento de dispositivos que nos permitem intensificar a implementação de soluções tecnológicas ou o que chamamos de zootecnia 4.0. Damos como exemplo a possibilidade de gerir uma exploração através de uma aplicação num telemóvel, pois através dessa aplicação e de sensores altamente sofisticados conseguimos saber, praticamente em tempo real, os parâmetros ambientais da unidade, como temperatura, e alterá-las se necessário, tendo em conta o  bem-estar dos animais; ou a gestão de um rebanho em pastoreio, com georreferenciação, se cada um dos animais tiver um ‘chip’ que nos dá, em tempo real, a sua localização no telemóvel. Soluções tecnológicas que nos permitem um controlo à distância e em tempo real dos nossos animais, e que nos permitem simultaneamente melhorar o bem-estar dos nossos agricultores.

Como espera o FeedInov, no mesmo período, captar idêntico ou superior montante através de serviços empresariais prestados ao mercado?
O FeedInov será, por excelência, um prestador de serviços científicos às empresas da fileira da pecuária. Por exemplo, se determinada empresa precisar de determinado estudo científico para desenvolver um novo produto o FeedInov será o seu parceiro preferencial. Estes projetos de investigação transversais ao setor ou direcionados para determinadas áreas de negócio, mais específicos e feitos à medida, são uma das fontes de financiamento do FeedInov. O FeedInov pretende estabelecer-se como uma referência na produção e divulgação de conhecimento, nos setores da alimentação animal e pecuária, através de investigação e inovação com especial impacto na cadeia de valor; promoção de tecnologias inovadoras no setor industrial; prospeção de necessidades comerciais; suporte de processos de formação e transferência de tecnologia e promoção do empreendedorismo. Para tal, irá desenvolver um portefólio de serviços direcionado ao setor, mas, além disso, o conhecimento que gerarmos, decorrente da investigação, também vai permitir o desenvolvimento de ferramentas inovadoras de forma a potenciar a transferência eficiente de conhecimento da investigação para o ‘campo’.

Como pretende o FeedInov reduzir a dependência externa portuguesa de cereais para rações? Quais os objetivos traçados?
Portugal, à semelhança de outros países da União Europeia, é extremamente dependente de matérias-primas para a alimentação animal de uma forma geral, mas, principalmente, de cereais, como o milho ou a soja – importa referir, por exemplo, que toda a soja que consumimos é importada – e de oleaginosas, como a colza. A otimização do uso de fontes de proteicas alternativas a estas, tais como insetos, microalgas ou proteaginosas é uma das formas de contribuir para a desejada redução, já que temos a consciência que não é possível eliminá-la. No caso dos insetos e das microalgas, existem já soluções empresariais a serem testadas em Portugal. O FeedInov quer apoiar e intensificar essa análise de forma a intensificar a sua saída para o mercado. Nos casos das proteaginosas, é o FeedInov que vai liderar os testes científicos de espécies endémicas em Portugal, como sejam a fava, o grão-de-bico ou o tremoço e em variedades não adequadas ao consumo humano, ou seja, neste caso em concreto, existe uma vantagem adicional que é a de não haver ‘competição’ entre a alimentação animal e a alimentação humana pelo uso do solo que é uma das questões que tem sido apontada como mais crítica no âmbito da sustentabilidade: a não degradação dos solos.

Além do mais, estas fontes alimentares alternativas podem oferecer soluções promissoras para aumentar a circularidade dos sistemas de produção animal e reduzir o seu impacto ambiental. O desenvolvimento de abordagens inovadoras à aplicação da economia circular em alimentação animal, permitirá aumentar o uso de subprodutos de outras indústrias.

Atualmente, 80% das matérias primas usadas para produzir rações são importadas, sendo que as rações representam o maior custo da atividade pecuária, entre 60% e 80%. Como pretende o FeedInov alterar este estado de coisas e quais os objetivos de redução desta dependência que se pretendem implementar?
Sim, de facto são essas as ordens de grandeza. Se, com as propostas inovadores que referimos acima, contribuirmos para reduzir 1% que seja o nível de importações, já estamos a alterar o estado das coisas, pois,  com isso, teremos impactos positivos. Esses impactos acontecerão também ao nível da redução de GEE [Gases com Efeito de Estufa] dos transportes das matérias-primas que importamos, por exemplo, que é um aspeto que também consideramos quando falamos de alimentação animal sustentável.

De que forma é que o FeedInov pretende sensibilizar o Governo e as restantes forças políticas para que sejam implementados benefícios fiscais para os sistemas alimentares que contribuem para a neutralidade carbónica, em vez de taxar os que a agravam?
A existência de dados nacionais, por exemplo, não apenas sobre as emissões de GEE provenientes da produção, mas também sobre o valor das retenções que o setor animal providencia é uma das formas. Contribuir para a discussão e a quantificação, complexa, dos diferentes serviços que os agricultores prestam em termos de paisagem, de biodiversidade e de impactos sociais. Conhecer esses dados permite, também, fazer uma transição mais dirigida e correta para os chamados ‘eco-regimes’, um mecanismo inserido nas ações climáticas da agricultura da União Europeia e nas quais 40% do financiamento da nova PAC [Política Agrícola Comum] prevê um sistema de bónus pagos aos agricultores para apoiar práticas agrícolas benéficas para o clima e para o ambiente. Esta solução é mais interessante do que uma taxação da produção pelos efeitos nefastos. A diferenciação positiva será, na nossa opinião, sempre mais benéfica e eficaz. O FeedInov possui o conhecimento técnico e científico, bem como a possibilidade de estudar e avaliar, se necessário, dados para sistemas de produção. Poderá contribuir ativamente nesta discussão. A ciência terá de ser, sempre, o ponto de partida, não poderemos decidir politicamente sem o apoio do conhecimento técnico e científico. Por exemplo, um estudo de Van Zeten de 2016 comprova que eliminar todo o consumo de carne é mais nefasto para o ambiente do que consumir uma certa quantidade. Não podemos falar de tudo ou nada.

De que tipo de incentivos fiscais estamos a falar?
Poderemos estar a falar não propriamente, ou necessariamente, de incentivos fiscais, mas eventualmente de apoios ou incentivos a práticas produtivas e sistemas de produção que sejam mais sustentáveis. Estes contribuem, não só para a produção de alimento de origem animal, mas também fornecem um conjunto de serviços, chamados serviços de ecossistema, até agora muito negligenciados, mas que na realidade contribuem ativamente não só para a neutralidade carbónica da produção animal, mas também para a manutenção da paisagem rural, da biodiversidade e com impacto social importante nas nossas populações rurais. Um exemplo muito falado, a utilização de animais para pastoreio sob coberto, associados a áreas de floresta, que pode, por exemplo, contribuir significativamente para a redução da biomassa vegetal e que terá um impacto na redução da ocorrência de fogos rurais. Apenas com sistemas de produção animal poderemos ter esta abrangência. Quantificar estas soluções revela-se importante. Garantir a existência de soluções que permitam, com sustentabilidade económica, a manutenção da agricultura nas zonas rurais. Outro exemplo conhecido: pastagens biodiversas e a sua contribuição para a manutenção e aumento da biodiversidade – sem animais a pastar, elas não existem. Os animais fazem parte do ecossistema, não os podemos simplesmente retirar da equação. Será necessário ter uma abordagem mais alargada, ter em conta que o setor agrícola, em particular o pecuário, é um responsável direto – através das pastagens que retêm carbono e animais que crescem e produzem alimento – e indireto – através das forragens que são produzidas para alimentação animal – na retenção de carbono atmosférico.

De que forma o FeedInov irá promover a redução do uso de antibióticos na pecuária em Portugal? Quais são os objetivos que vão ser implementados a este nível?
Uma das ações do FeedInov prende-se com o conceito ‘Saúde Global’ ou ‘Uma só Saúde’, ou seja, a saúde dos animais e a saúde dos humanos é uma só, está interligada. A utilização de substâncias antimicrobianas em produção animal é reduzida, e devidamente regulada pela legislação europeia em vigor, ainda assim, e indo também ao encontro da futura legislação, o setor trabalha atualmente em alternativas ao uso destas substâncias, reduzindo ao mínimo a sua utilização. O FeedInov está envolvido, através dos seus associados, a muitas das iniciativas já existentes nesta área, e vai, em concreto, desenvolver o estudo mais aprofundado de substâncias naturais substitutas dos antibióticos, como por exemplo, taninos, compostos fenólicos, extratos de plantas, óleos essenciais, entre outras substâncias que venham a revelar este potencial e que permitam tratar os animais quando eles estão doentes. O nosso objetivo é permitir, por um lado, estudar e avaliar a problemática das resistências antimicrobianas, avaliar as contaminações cruzadas decorrentes do processo de fabrico de alimentos medicamentosos que existem para tratar animais doentes, mas também, e sobretudo, consciencializar o setor para o problema, através de várias ações de divulgação e sensibilização.

Qual é o objetivo em termos de taxa de substituição em Portugal para utilizar ingredientes alternativos na alimentação animal, aos que são maioritariamente importados, como a soja, por insetos, microalgas e proteaginosas, que são endémicas em Portugal, como a fava ou o tremoço, por exemplo? Que tipo e que montante de poupanças poderá esse processo gerar no setor pecuário em Portugal?
É difícil prever neste momento um valor de taxa de substituição. Numa primeira fase, o FeedInov irá avaliar esses produtos, estudar o seu valor nutricional e a sua adequada utilização em nutrição animal. Apenas numa segunda fase e em função dos resultados da primeira iremos analisar a capacidade do setor agrícola português em fornecer estas alternativas de forma a que seja adequada a sua utilização nos alimentos para animais.

Quais os objetivos de poupança que se pretende alcançar com a redução de utilização de recursos, como a água, por exemplo?
Respondendo muito diretamente, não conseguimos, ainda, definir uma taxa de redução porque, primeiro, temos de definir um critério científico aceite pela comunidade e que seja real. Por exemplo, muitas das referências que atualmente são feitas à quantidade de água necessária para produzir determinado alimento contabilizam a água da chuva. Ora, se é verdade que essa água é usada para produzir, também é verdade que se a água caísse e não fosse usada era um recurso desperdiçado porque a água cairia na mesma. Há que definir cientificamente a forma correta de contabilizar o consumo de água.

Evidentemente, neste momento existem já formas de otimizar o consumo de água. A zootécnica 4.0, ou seja, os sistemas inteligentes que disponibilizam a água aos animais nas quantidades exatas de que eles necessitam, a reutilização de água usada em lavagens ao nível das explorações pecuárias e o seu reaproveitamento em sistemas fechados permite uma utilização contínua da mesma água durante vários anos.

A que tipo de projetos europeus se pretende candidatar o FeedInov e qual o ponto da situação da constituição de consórcios internacionais nesse sentido?
O FeedInov, através de contactos e parcerias institucionais, trabalhará no sentido de concorrer a concursos competitivos europeus. Não só com o objetivo de obter financiamento, mas também de envolver Portugal nos consórcios de I&D internacionais, garantindo que a nossa realidade também seja estudada, trabalhada e tida em conta nos resultados provenientes destes projetos. No setor da alimentação animal, e da produção animal no geral, a existência de dados/resultados locais revela-se de grande importância, sob pena de a nossa realidade não estar devidamente caracterizada e ser assumido que é igual ao que se passa noutros países europeus.

Atualmente, o FeedInov tem já vários contactos efetuados, mas por questões de estratégia competitiva só em meados de 2021 poderemos dar nota deles.

Que tipo de iniciativas pretende desenvolver o FeedInov no âmbito do H2020 GreenDeal, por exemplo?
Uma vez que o FeedInov se constituiu muito recentemente – outubro de 2020 – e que esta iniciativa, o ‘H2020 GreenDeal’ – inserida no instrumento de financiamento europeu ‘Horizon 2020’, que promove a implementação de inovação e investigação a nível europeu – está-nos vedada a possibilidade de sermos, por exemplo, líderes de projeto de um consórcio porque alguns deles foram constituídos no início do ano de 2020. Ainda, assim, estamos a trabalhar arduamente para dar a conhecer as nossas potencialidades e mais-valias esperando que ainda seja possível, apesar de difícil, virmos a integrar algum dos consórcios que se estão a candidatar. No entanto, existem outras iniciativas de financiamento às quais estamos já a preparar projetos que pretendemos submeter, nomeadamente à FCT, e outros programas competitivos, cuja abertura está prevista para 2021.

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