A criação de grupos prioritários foi uma das soluções encontradas pela Comissão Europeia como forma de os Estados-membros gerirem as dificuldades antecipadas na produção e entrega das vacinas contra a Covid-19 sem comprometer os devidos processos de vacinação. E embora muitos se deparem com uma falta de vacinas Bruxelas voltou a frisar, tal como fez em outubro, que é importante que estes grupos sejam vacinados.
Durante o briefing, um oficial da Comissão Europeia, apesar de não comentar a situação em Portugal por ser de “competência nacional”, reconhece que o executivo comunitário “está ciente de que as entregas são fatores importantes no processo de vacinação” e que a falta de vacinas pode influenciar a meta de imunizar 70% da população adulta até ao verão.
No entanto, argumenta que foram preparadas normas para que os Estados-membros pudessem melhor gerir a falta de vacinas. Em Portugal já foram recebidas 503 mil vacinas, 43 mil das quais foram para a Madeira e para os Açores e 460 mil ficaram no continente.
“Como estávamos cientes dessas dificuldades preparamos, em outubro, normas para os estados-membros se prepararem para este processo de vacinação”, explicou o responsável, “nomeadamente, quanto aos grupos prioritários”.
“Tendo em conta que não temos todas as vacinas já disponíveis, é importante que os grupos prioritários sejam vacinados primeiro”, frisou.
Sem vacinas as prioridades não mudam, diz Gouveia de Melo
A afirmação surge numa altura em que o novo coordenador da task force garante que os grupos prioritários previstos no plano de vacinação contra a Covid-19 não serão alterados, embora haja uma falta de vacinas.
“Não faria sentido mudar as prioridades porque não há vacinas”, disse Henrique Gouveia e Melo, em entrevista à “TVI” lembrando que a forma como as pessoas foram priorizadas para serem vacinadas “tem muito a ver com os riscos e patologias”. O Almirante, mostrou-se desfavorável a que a estratificação passe a ser feita por idades, alegando estudos que defendem que “atacar as comorbilidades salva mais pessoas do que atacar por faixas etárias decrescentes”.
Os grupos prioritários integrava originalmente profissionais de saúde, profissionais e utentes de lares de idosos, profissionais e utentes de instituições para pessoas em situação de dependência e profissionais das forças armadas. No entanto, a prioridade foi em fevereiro alargada para o mais de 80 anos e pessoas entre os 50 e os 79 anos com patologias identificadas como prioritárias. Até ao dia de hoje, foram já administradas 415 mil vacinas, estando em reserva 60 mil.
Bruxelas defede que atrasos nas aprovações das vacinas são “justificados”
A Comissão Europeia descarta a narrativa de que o processo de vacinação poderia estar numa fase mais acelerada caso tivesse optado por aprovar a produção e distribuição das vacinas mais cedo, à semelhança do que aconteceu no Reino Unido, Estados Unidos e até mesmo Israel, justificando que o bloco europeu preferiu optar pelo caminho da segurança e eficácia no processo de aprovação das vacinas contra a Covid-19.
Em resposta ao Jornal Económico, durante o briefing, esta quarta-feira, fonte do executivo comunitário considera que uma aprovação acelerada e de emergência estaria “sujeita a riscos” de saúde, uma vez que se trata de uma vacina nova contra um vírus que ainda está a ser fortemente investigado.
“A vacinação em massa em Israel é justificada pela aprovação de utilização de emergência que foi considerada um risco, mas que teve bons resultados. A Comissão Europeia e os Estados-membros não estavam prontos para tomar esse risco. É verdade que chegámos depois do Israel na autorização da vacina da Pfizer/BioNTech, mas a nosso ver foi justificado”, reforçou.
Além do mais, o oficial da CE do relembra que esta aprovação de emergência não seria compatível com as leis de proteção de dados do bloco europeu, uma vez que, em troca do fornecimento atempado e em massa das vacinas da Pfizer/BioNTech, as autoridades sanitárias e o governo de Benjamin Netanyahu concordaram em ceder a idade, sexo e histórico médico dos vacinados.
“Além da questão da segurança, o governo de Israel optou por ceder os dados dos utentes vacinados em formas que não são compatíveis com as leis de proteção de dados da União Europeia. A proteção de dados é algo muito importante para nós”, frisou.
O oficial acrescentou ainda que a Comissão Europeia está “feliz que eles tenham começado o processo cedo e que os resultados da vacina da BioNTech/Pfizer tenha acabado por ser uma ótima escolha, mas sabendo o estado em que estávamos quando decidimos aprovar a vacina, penso que tenha sido justificado seguir o caminho que temos seguido até agora”.
Esse caminho, que tem em conta a segurança, eficácia, preço e capacidade de produção destes fármaco, foi o mesmo adotado em todas as negociações com as farmacêuticas até agora aprovadas. Desde o arranque das negociações, no ano passado, a Comissão Europeia já entrou em contacto com mais de 160 farmacêuticas, mas, para já, apenas a Pfizer/BionTech, Moderna e AstraZeneca/Oxford têm autorização da Agência Europeia do Medicamento (EMA) para distribuição entre os 27 estados-membros. Foram também celebrados contratos com a Sanofi-GSK, Johnson & Johnson e CureVac que permitem a aquisição de uma vacina logo que esta se tenha revelado segura e eficaz e decorrem ainda as negociações com a Novavax e Valneva.
“As três farmacêuticas já aprovadas representam 1,2 mil milhões de doses, o que é mais de suficiente para garantir a vacinação de todos os cidadãos europeu. Mais do dobro”, referiu, acrescentando que no primeiro semestre a UE prevê receber 100 milhões de doses, 300 milhões no segundo e 600 no terceiro.
“Chegámos a um portefólio diferente e variado de forma a garantir vacinas seguras e eficazes”, disse.
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