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Comissário Europeu do Comércio está em Washington para tentar perceber o que se passa com as tarifas

Maros Sefcovic chega aos EUA cinco dias depois de Trump ter suspendido uma parte das tarifas que era suposto ter lançado sobre as importações da União e dois dias depois de ter feito o mesmo com a eletrónica vinda da China.
14 Abril 2025, 07h00

O Comissário Europeu para os assuntos do Comércio, Maros Sefcovic desloca-se esta segunda-feira a Washington com a difícil tarefa de tentar perceber qual é a estratégia da administração Trump para as tarifas que, apesar de suspensas em parte, vão talvez enquadrar as relações entre os dois blocos económicos, Sefcovic manterá conversações com Washington sobre as tarifas – dois dias depois de a administração Trump ter percebido que dificilmente podia manter as tarifas sobre a importação de telemóveis e computadores, tendo-as também suspendido em parte.

A administração dos Estados Unidos concedeu isenções parciais de tarifas sobre smartphones, computadores e alguns outros produtos eletrónicos importados principalmente da China, proporcionando uma grande vantagem para empresas de tecnologia como a Apple, que dependem de produtos importados. A China afirmou estar a avaliar o impacto das exclusões. Em comunicado divulgado no domingo, o Ministério chinês do Comércio classificou a medida como um “pequeno passo dos Estados Unidos para corrigir a sua prática equivocada de ‘tarifas recíprocas’ unilaterais”.

A agência de Alfândegas e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos publicou uma lista de códigos tarifários excluídos dos impostos de importação, com efeitos retroativos a partir de 5 de abril passado. A lista contempla 20 categorias de produtos, incluindo, segundo a agência Reuters, o código 8471 para todos os computadores, laptops, unidades de disco e processamento automático de dados. Também inclui dispositivos semicondutores, equipamentos, chips de memória e monitores de tela plana. O aviso alfandegário não forneceu nenhuma explicação para a mudança, mas a exclusão proporciona um alívio bem-vindo para grandes empresas de tecnologia como a Apple, Dell Technologies e muitos outros importadores que há anos sediaram as suas compras na China, Taiwan, Índia e outros países do Extremo Oriente.

Questionado no sábado sobre a justificação das isenções, Trump disse: “darei essa resposta na segunda-feira. Seremos bem específicos na segunda-feira… estamos a receber muito dinheiro, como país, estamos a receber muito dinheiro.” Trump não conseguiu dar uma resposta, pelo menos para já, que o subtraísse à evidência de que a questão das tarifas está a ser gerida de uma forma ligeira e sem um pensamento que se possa considerar minimamente estratégico. A ideia que passa, como adiantam vários analistas, é que, na Casa Branca, ninguém pensou nas consequências da política tarifária imposta de forma autoritárias há uns dias e que vem sendo sucessivamente revisitada. Parece claro que diversas indústrias têm explicado à administração que as tarifas pura e simplesmente tornarão impossíveis os negócios de algumas empresas de primeira linha.

O primeiro empresário a salientar essa impossibilidade foi Elon Musk, que importa da China uma série de itens que entram na ‘montagem’ dos Tesla. As queixas de Musk motivaram mesmo uma acesa e pouco cordata troca de argumentos entre o empresário e alguns elementos da administração Trump, de que aliás faz parte.

Para as importações chinesas, a exclusão dos produtos de tecnologia aplica-se apenas às tarifas recíprocas de Trump, que subiram para 125% esta semana. As tarifas anteriores de 20% permanecem em vigor.

Mas a narrativa de Washington é diferente. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse em comunicado que a decisão de Trump deixou claro que os Estados Unidos não podem depender da China para fabricar tecnologias críticas, como semicondutores, chips, smartphones e laptops. Leavitt disse ainda que, sob a direção de Trump, grandes empresas tecnológicas, incluindo a Apple e a Nvidia “estão a apressar-se a transferir a sua produção para os Estados Unidos o mais rápido possível.”

Ainda segundo a Reuters, e tendo por base as tarifas de 54%, que chegaram a ser as que estavam destinadas à China, implicariam que o preço de um iPhone topo de gama, que agora custa 1.599 dólares, passaria para os 2.300 dólares. Os smartphones foram a principal importação dos Estados Unidos a partir da China em 2024, totalizando 41,7 mil milhões de dólares, com os laptops fabricados na China a ficarem em segundo lugar, com 33,1 mil milhões, de acordo com dados do US Census Bureau, citados pela agência.

A viagem de Maros Sefcovic a Washington sucede depois de, na passada quarta-feira, Trump, anunciar a redução das pesadas tarifas que acabara de impor à União Europeia e a dezenas de outros países. A UE anunciou no dia seguinte feira que suspenderia as tarifas retaliatórias. “O comissário do Comércio vai a Washington para tentar assinar acordos. É nisso que estamos focados”, disse Olof Gill, porta-voz da Comissão Europeia. “Todas as opções estão sobre a mesa caso isso não leve a um bom resultado”, acrescentou. Gill disse que não está totalmente claro o que os Estados Unidos esperam da União, mas que a suspensão das tarifas significa que os dois lados estão “num novo contexto onde podemos realmente ver algum avanço e algum progresso real”. “Temos muito a oferecer e estamos prontos para conversar”, disse.

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