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Como a guerra comercial entre os EUA e China pode vir a destruir 13 milhões de hectares na Amazónia

Mais de 57% da soja exportada pelos Estados Unidos tem como destino a China, uma transacção que equivale a cerca de dez mil milhões de dólares. Isto, combinado com o facto de Pequim já ter acusado Washington de subsidiar o seu setor agrícola, torna este produto num dos alvos mais óbvios nesta batalha.
28 Março 2019, 12h36

A floresta da Amazónia pode vir a ser a maior vítima da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, anuncia um novo estudo publicado na revista ”Nature” que mostra como as pressões da desflorestação aumentaram como resultado do choque geopolítico nos mercados globais de soja.

Até 13 milhões de hectares de floresta e savana – uma área do tamanho da Grécia – teriam de ser desocupados para que o Brasil e outros exportadores preenchessem o enorme défice de oferta de soja à China.

O problema surgiu quando a guerra comercial entre os EUA e a China surgiu há mais de um ano. Donald Trump subiu as tarifas sobre o aço e alumínio oriundos da China e criou taxas sobre alguns produtos tecnológicos chineses. Por sua vez, a China subiu as tarifas de importação de carne de porco, fruta e outros produtos dos Estados Unidos. O Ministério das Finanças de Pequim também anunciou que iria “suspender as concessões relativas a tarifas de importação” em mais de 120 bens provenientes dos EUA.

Mais de 57% da soja exportada pelos Estados Unidos tem como destino a China, uma transacção que equivale a cerca de dez mil milhões de dólares. Isto, combinado com o facto de Pequim já ter acusado Washington de subsidiar o seu sector agrícola, torna este produto num dos alvos mais óbvios nesta batalha.

Além de levantarem o problema dos bens alimentares estarem a ser usados como uma arma económica, os autores do estudo realçam também a consequência ecológica que este conflito pode ter em zonas que já são altamente exploradas, particularmente na Amazónia.

Para compensar a diferença em relação aos EUA, a China precisará encontrar entre 22,6 e 37,6 milhões de toneladas noutros lugares, observa o artigo. Os chineses poderiam alargar a procura de soja aos 94 países mundiais que a produzem, no entanto, o Brasil está na linha da frente da produção e do negócio, ou seja, é um dos maiores fornecedores de soja do mundo e está a tentar impulsionar as exportações agrícolas.​

Os hectares de terra necessários poderiam ser reduzidos se os produtores conseguissem aumentar os seus rendimentos nas áreas já existentes. No entanto, a agricultura mais intensiva é dificultada pela qualidade dos solos brasileiros que são, normalmente, pobres em nutrientes e requerem quase três vezes mais fertilizantes que os dos EUA e Canadá.

Os autores do estudo alertam para o facto de o conflito comercial poder levar ao desmatamento da Amazónia muito além dos piores níveis até agora registados, com sérias implicações para o volume das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.

Só em 2018, a floresta brasileira perdeu uma área total de 7900 km2, o equivalente a 987.500 campos de futebol. Foram abatidas cerca de 1.185 mil milhões de árvores, para abrir caminho a projectos agrícolas, barragens e estradas, dizia a Greenpeace Brasil no final do ano, citando os números de vários organismos oficiais de vigilância da desflorestação da Amazónia: são os piores números da última década.

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