Como passar então da teatralidade da disrupção digital para um processo maduro de inovação, desde a melhoria incremental ao desenvolvimento de produtos e à transformação do negócio?

Numa tentativa de emular os gigantes tecnológicos, nascidos digitais, foram criados na última década muitos laboratórios digitais, separados de amarras burocráticas e convenções corporativas, ágeis para atrair talento e canalizar recursos para repensar o negócio e testar novas tecnologias.

Quando as inovações que daí emergiram são integradas no negócio principal, colidem com diversas barreiras, desde a canibalização de produtos existentes à dificuldade de integração na tecnologia corporativa, passando também pela preocupação com riscos associados à privacidade e proteção dos dados, entre outros requisitos regulatórios.

Muitas vezes é mais fácil cancelar o processo de inovação, rejeitando as novas ideias, produtos e serviços, do que acelerá-lo, integrando-os e escalando-os até ganharem momentum.

Atualmente vai crescendo a consciência de que é fundamental ir mais longe, tão ubíqua e inevitável é a profunda digitalização da vida das pessoas e das organizações, e as perguntas vão tomando também a forma de «o quê» e «como» em vez de se limitarem ao «porquê» original.

Este movimento é saudável e necessário, porque o «porquê» está relativamente claro para todos: a quarta revolução industrial irá reformular a cadeia de valor da maioria dos setores da economia e com esta transformação materializar-se-ão importantes oportunidades, bem como outros tantos riscos.

Já o «o quê» exige que se pense digital desde o primeiro momento. Nota-se que em vez de as equipas de inovação envolverem os advogados e os contabilistas no final, pedindo-lhes aprovação para a sua ideia concreta, antes os envolvem desde o início, ainda na fase de geração de ideias, para que essa perspetiva seja integrada desde o desenho inicial.

Quanto ao «como» é fulcral que se encontre um equilíbrio adequado entre a segregação e a integração com o negócio principal, bem como que se avalie a inovação num horizonte temporal alargado, que se tenha o adequado apetite ao risco, que se mantenha os laços a todas as funções críticas do negócio desde o início e que se obtenha a colaboração de terceiros, externos à organização.