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Como investir em startups e pequenas empresas em expansão?

Os investidores são parceiros de negócio, mas devem ter em conta fatores como ‘break-even point’ e a ‘burn rate’ da empresa. No entanto, por vezes, começar a apoiar um projeto diferente começa mesmo em ‘casa’: fomentando o intraempreendedorismo.
10 Outubro 2018, 13h00

O investimento em startups e pequenas empresas em expansão requer uma atenção redobrada, sendo que, por vezes, começar a apoiar um projeto diferente começa mesmo em ‘casa’: fomentando o intraempreendedorismo. Os investidores são parceiros de negócio, mas devem ter em conta fatores como o ‘ponto de equilíbrio’ do projeto.

Para os pequenos investidores, além das variáveis económico-financeiras que importa ter em conta no momento de investir numa negócio – entre as quais a taxa interna de retorno, o capital humano, etc. – a justificação do break-even point [quando o total das receitas é igual ao total dos gastos] e a da burn rate [taxa na qual uma nova empresa usa o seu capital de risco para financiar custos indiretos antes de gerar fluxo de caixa positivo] “requerem muita atenção”.

Octávio Viana, presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), disse ao Jornal Económico que “há uma grande tendência para negligenciar a real exigência de capital inicial face à burn rate expectável e outras contingências normais num negócio a iniciar”, o que, muitas vezes, se deve “à vontade de se querer arrancar com projetos rapidamente e sem grandes recursos financeiros”. Na sua opinião, a atitude pode levar à morte prematura desses negócios ou a reforços inesperados de capital.

Apesar de os associados da ATM estarem geralmente orientados para investimento no mercado de valores mobiliários, em projetos com algum histórico e maturidade, Octávio Viana sublinha que uma das principais preocupações do investidor é a burn rate e o break-even point do projeto: “Uma startup, porque está a começar, geralmente, tem um efluxo de capital (por via das despesas e custos iniciais na construção do projeto) maior que o seu influxo (ainda pequeno devido a ser um negócio a começar) resultando numa burn rate elevada, que, se não for devidamente acautelada, pode resultar no fim prematuro do projeto (na insolvência prematura) ainda antes de atingir a maturidade e mostrar que era economicamente viável”.

Paulo Caldas, diretor de Economia, Empreendedorismo, Financiamento e Inovação da Associação Industrial Portuguesa (AIP) salienta ao Jornal Económico que o capital de risco pode servir para a criação e desenvolvimento de uma empresa ou para investir no seu capital social. “Comparado com outras fontes de financiamento, como o crédito bancário, os subsídios públicos, as ofertas em mercado de bolsa e a angariação de investidores privados, destaca-se pela análise concreta dos projetos apresentados, do seu potencial de crescimento e da relação com o risco”, exemplifica o porta-voz da AIP.

Segundo Paulo Caldas, estes investidores são parceiros de negócio, ajudam a dar gás a estratégias de marketing e desenvolvimento de produto e têm mais facilidade de recurso à banca tradicional. Além disso, “fomentam uma gestão valorizada pelo rigor” e o “desenvolvimento integrado de soluções para o negócio, desde a administração da empresa até às suas estratégias de distribuição ou comercialização”.

Miguel Nuno Portugal, docente de Empreendedorismo e Estudos de Mercado na Universidade Europeia, considera que a maioria das empresas portuguesas não está preparada para desenvolver ‘dentro de portas’ ideias criativas e inovadoras para juntar ao seu negócio, pelo que procura no mercado ideias com solidez e sustentabilidade financeira, com base na ideia de que «Se não sou pescador, tenho que ir ao mercado comprar peixe».

“Seria muito bom, que os investidores portugueses, na sua grande maioria empresários, apoiassem as iniciativas dos seus colaboradores e ajudassem a desenvolver essas ideias criativas e inovadoras (intraempreendedorismo), caso contrário são obrigados a acreditar nas startups que lhes são apresentadas como último reduto para a inovação, muitas vezes, opostas ao seu core business, desajustadas à cultura empresarial e inapropriadas no mercado onde exercem a maioria da sua atividade”, defende o professor universitário ao Jornal Económico.

O autor do livro “Empreendedorismo – Gestão Estratégica” realça ainda que Empreendedorismo “não se reduz à abertura de novos negócios”. “Infelizmente é usual ouvirmos dizer que “aquela pessoa” é um grande empreendedor, pois ele já abriu três bares, um cabeleireiro e um mini mercado no bairro”, exemplifica, lembrando que esse conceito “é acima de tudo a junção da criatividade (atitude) com a inovação (ação). Sem estes dois ingredientes não falamos de empreendedores, mas sim de empresários”.

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